"É preciso a coragem de ser um caos para gerar uma estrela dançarina." - F. Nietzche.

sábado, 14 de setembro de 2013

Ideologias e Rótulos

Cite a sua bandeira! Marxista, Reacionário, Feminista, Igualitário, Comunista, Anarquista, Blablista... Enfim, jura fera? Será esse mesmo o caminho? Motivado por eventos recentes, adianto um tema que eu pretendia deixar para OUTRO momento. Falo hoje, sobre Ideologias e Rótulos.
Ideologia, eu não preciso de uma para viver.

Em um contexto geral, ideologia é definida por um corpo de ideias, ou conjunto de valores. Dá-se então, que é possível possuir uma ideologia absolutamente pessoal, sem rótulos. Apenas pelo fato de termos um conjunto de ideias próprias - compostas por meio das nossas experiências, leituras e aprendizados -, somos detentores de alguma ideologia.

Ainda existe a definição marxista para ideologia. Que seria um conjunto de valores e ideias que aprisionam os indivíduos em uma percepção ilusória da realidade. De tal maneira a permitir a propagação de modelos de poder onde uma dita classe dominante prepondera sua dominação sobre uma classe dominadora.

Ironicamente, o marxismo se encaixa nessa visão de ideologia dentro da própria classificação. Pois à medida de que as pessoas mantém uma visão parcial e reducionista da realidade - resumindo tudo a falsas dicotomias de oprimido e opressor, burguês e proletariado -, permite-se a propagação das relações de poder e sub-julgo em que vivemos. Um assunto puxa o outro e dá nisso. Eu ainda vou dedicar um texto para explicar por que Marx é o jesus (no sentido pejorativo) da intelectualidade moderna. (E como prometido, aqui está o texto sobre Marx)

Vivemos em uma sociedade que busca rotular tudo. Herança, sim, do Marxismo Cultural. Essa sociologia que coloca as pessoas a acreditarem que existe tal coisa como uma Consciência de Classe. Onde sua forma de pensar é irrevogavelmente determinada pelo contexto social que se vive. Portanto, se você pertence a uma classe social abastada, você necessariamente defenderá e propagará ideias de natureza burguesa, elitista, capitalista.

Acreditam mesmo, que todas suas características comportamentais, sociais e ideológicas são mero fruto do meio? Se esse fosse o caso, de onde surgiram os grandes pensadores visionários? Aqueles, que pensaram à frente do próprio tempo? Os mesmo que refutavam e criticavam a forma de pensar da sua época?

O determinismo utilitarista, estritamente materialista - provável herança intelectual de La Mettrie - restringe o homem a um simples mecanismo de estimulo-resposta. Em consequência, Marx resumiu o homem ao produto de seu próprio trabalho cultural. O homem se construiu homem e depende da hominização para ser homem. Com isso, ele é fruto absoluto das experiências sociais. Parecemos, assim, conduzidos a um vortex inescapável e infalível que dirige nossas ações e ideias. Será mesmo essa a realidade?
De quantos grupos diferentes você faz parte? Classe social, grupo de discussões, universidade, faculdade, colégio, religião, esporte de preferência, fanclube da sua banda predileta. Será que um indivíduo pode ser definido exclusivamente (e inteiramente) por apenas um desses muitos parâmetros? Não é possível observar uma definição conceituada de carácter, quanto menos ideológica, para um determinado setor da sociedade ou grupo. É ai que o discurso de muitos cai por terra, quando dizem combater o preconceito, mas tratam os que discordam deles com rótulos de "otário genérico". Pois todos os que discordam dele fazem parte, automaticamente, do inimigo ideológico. Perde-se então o debate livre. Perde-se também o respeito.

Vivemos na intersecção de uma infinidade de grupos sociais. Mas somos individualmente exclusivos. É por conta dessa e mais muitas outras questões, que eu não me permito ser rotulado de anarquista, ocultista, nem feminista. Por mais que eu tenha ideias em consonância com esses grupos, o nome não me define.

Os rótulos são, sempre, preconceituosos. Pois eles servem para que, partindo do pressuposto que eu pertenço a um determinado grupo, parte-se do pressuposto que eu concordo com tudo o que as pessoas que pertencem àquele grupo falam e pensam. E, pior ainda, parte-se do pressuposto que eu sou igual à imagem que se tem formada sobre aquele grupo. Existe até mesmo o caso de me taxarem como pertencendo a um grupo, só pelo fato de eu apresentar um comportamento semelhante daquele.

Quantas vezes não fui taxado de rockeiro por gostar de andar de preto. Quantas vezes não me chamaram de reacionário por criticar o PT ou a esquerda política, e até mesmo, fui chamado de anarquista por criticar a moralidade dos reacionários direitistas. Estão sempre querendo me encaixar em algum grupo ou rótulo. E se eu não admitir nenhum?

Meu número de CPF não me define. Meu número de RG não me define. Meu nome na minha certidão de nascimento não me define. E nem mesmo meu pseudônimo (Gunter Brian) me define. Nada pode substituir a minha essência na qualidade de representa-la. Assim como a palavra "cadeira" não é um objeto em si, mas faz mera referência a um objeto existente, cuja constituição independe do rotulo que colocam nele.
Eu jogo tudo fora sem pensar duas vezes!

Eu não sou um dançarino, apenas gosto de dançar. Não sou um escritor, apenas gosto de escrever. Não sou um professor, eu leciono. Meu trabalho não me define, nem mesmo minhas ideias ou valores deveriam me definir.

"Então, o que te define, Gunter?"

Eu simplesmente SOU. Para explicar o que isso significa, eu necessitaria de muitas prosas. Mas eu posso resumir dizendo que eu consigo me definir claramente pela minha antítese. Tudo é, a não ser que não seja. Portanto eu SOU o que tudo posso ser, a não ser que eu não o seja.

JOGUE SUAS IDEOLOGIAS FORA!
VOCÊ NÃO DEPENDE DELAS PARA PENSAR!

Ideologias, em maioria, são preservadas por uma elevada carga de identificação emocional. Quando você aceita levantar e defender a bandeira de uma causa ou partido, você está vinculando aquela causa ou ideia ao seu nome e imagem. Você não raciocina mais se o que você defende é, em todas as ocasiões, coerente ou sensato para com a realidade. E é por ideologia que muitas pessoas aceitam entrar em gigantes contradições. Como matar e agredir ao próximo para protestar contra assassinatos e a violência.
O direito de protestar é livre. O direito de discordar também.
Cito aqui, o caso da fúria contra o casal Nardoni. Foi um crime hediondo, sim. Foi um atentado gigantesco contra a vida, sim. Foi um caso inédito, NÃO! Aconteceu e acontece em milhares de famílias brasileiras vários casos parecidos. Mas em sua maioria, em famílias de baixa renda, com crianças de pele morena. Mas oh, a classe média pira quando vê um semelhante sendo vítima de uma violência tão nojenta, não é mesmo?

Eu até entendo a reação popular, mas discordo da atenção que as pessoas dão a esses casos. Bem como, discordo do abuso da mídia. Pois toda essa identificação emocional com o caso interfere na apuração racional dos fatos. Existem pessoas que vivem em infernos muito piores do que sonha a vã sabedoria. E nem por isso eu preciso me abalar ou me apegar emocionalmente a uma realidade com a qual eu não concordo.

E quando chega o dia do julgamento fatídico, o que acontece? As pessoas mostram sua fúria em cima do advogado do casal Nardoni. Jogam pedras, atacam com qualquer coisa que têm nas mãos. A fúria popular contra a injustiça? Um protesto fervoroso e violento contra a violência? Uma enorme incongruência, eu diria.
Uma sociedade preocupada em se vingar contra quem nunca mais vai praticar qualquer crime.
São incongruências como essas, que fazem algumas pessoas pedirem por liberdade, ao mesmo tempo que visam fortalecer o Estado que as oprime e as cerceia a liberdade. Que clamam pelo direito à vida, ao mesmo tempo que pedem por pena de morte. Que pedem por um mundo sem preconceitos, mas taxam de alienados os que não concordam com ela.

E assim eu concluo essa prosa raivosa. Aconselhando que façam uma revisão pessoal. Será mesmo que vocês concordam com as ideias que tem, por serem as mais racionais, ou por serem aquelas que satisfazem o seu EGO sonhador e machucado? Será você aquele que precisa se apegar a alguma âncora mental para não perder as estribeiras? Até a próxima!

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