"É preciso a coragem de ser um caos para gerar uma estrela dançarina." - F. Nietzche.

sábado, 28 de setembro de 2013

Livros: Malvados e Perigosos Livros!

É o típico ensaio do EGO que quer se afirmar, mas busca um meio de disfarçar sua Soberba. Aquela típica postagem da página do Skoob. Você lê livros, fera? Mesmo? Que legal. Sabia que isso hoje em dia é sinônimo de NADA? Você pode ler trinta ou cem livros por ano, pouco me interessa. Se você pensa que é superior por isso e tem por que se gabar por isso, é prova de que suas horas de dedicação foram fúteis e você não aprendeu nada de nada sobre NADA!
"Teu cu!"
Eu pretendia escrever sobre outro assunto, mas vou tentar misturar as coisas no meio. Estou mais estourado do que de costume, mas isso não importa. O que importa é que identifico muita infantilidade por parte das pessoas que, viciadas em um tipo específico de literatura, ou que consomem exclusivamente um gênero de música - o qual elencaram como o melhor da face da terra (ah, e isso não é nenhuma indireta aos metalheads, combinado?). Assim como quem vai para uma micareta e beija dezenas de bocas e, de tão bêbado que estava, não entende depois por que está com a garganta dolorida e febril no dia seguinte (ê comparação disgarçada, hein?), os consumidores compulsivos de uma literatura mercantil e vazia tem pouco do que se gabar.

Cite o seu gênero: Ficção Científica, Ficção Fantástica, Fantasia Romântica (vampiros, anjos, saci-pererés), Filosofia (exclua aqui, livros do Olavo de Caralho), Esoterismo, Livros Espíritas (ah-lá Chico Xavierzações), Política, Religião (outra vez, nada de Olavo de Caralho, porra!), etc, etc, etc... De boas? Se você se restringe a um tipo de literatura e ignora na maior parte do tempo os outros temas, você está assassinando o seu cérebro ao invés de estimula-lo apropriadamente!

Jean-Jacques Rousseau já dizia que existe algo muito perverso sobre os livros e a literatura em si. Em seu clássico sobre a pedagogia - Emílio - ele afirma que é necessário manter as crianças distantes da literatura por maior tempo possível, até que elas tivessem maturidade para poder ler um livro e critica-lo de forma consciente. Bem o oposto do que a nossa cultura prega, não é mesmo? Nos empurram os livros como uma obrigação e, pior, não nos ensinam a questionar o que lemos!

Essa lavagem cerebral implícita começa nas escolas. Onde somos ensinados a venerar os livros didáticos como fonte de sabedoria absolutistas. Nas escolas, a palavra do professor, aliada ao livro didático, era ditatorialmente A VERDADE. Caso alguém quisesse buscar a resposta sobre a VERDADE a respeito de algum fato histórico, recorria-se aos livros didáticos. Eu não poderia pensar em um mecanismo mais eficiente para imbecilizar uma geração inteira. 
George Carlin. Um que defendia o senso crítico e a leitura crítica.
Eu vou ser bem pragmático e me permitir afirmar algumas coisas descompromissadamente. A primeira delas é que:

A VERDADE NÃO ESTÁ NOS LIVROS!
A VERDADE ESTÁ ENTERRADA DENTRO DE CADA UM DE NÓS!

O primeiro passo para compreender o mundo que o cerca, é perceber que todo o conhecimento necessário para compreender a realidade, está enterrada dentro de nós mesmos, no nosso íntimo. Afinal, a verdade, tácita, intransliterável, aquela capaz de descrever e desvendar todos os segredos da existência, está presente em tudo o que tocamos, sentimos, e principalmente, faz parte da matriz da nossa própria composição física, metafísica, e sobrenatural.

Eu já expliquei um pouco sobre como a realidade sofre interferência da nossa percepção sobre a mesma, em outro texto. Aqui, eu venho a explicar como cavar essa verdade que está enterrada em nós, por meio do bom uso da prática literária. A primeira dica é:

NÃO LEIA POR OBRIGAÇÃO

Aquele texto enjoado que o seu professor de filosofia passa para você ler toda a semana. Eu sei, é um porre ler sobre assuntos sobre os quais você não teve NENHUM estímulo para se interessar por eles. Se existe um modo eficiente de traumatizar alguém, é obrigar que essa pessoa leia sobre um tema ou assunto que ela não se sente nem um pouco atraída.

BUSQUE ENXERGAR DO LADO DE FORA, O QUE VOCÊ RECONHECE POR DENTRO

Sabe quando parece que um livro está falando com você, ou até, que aquele livro foi escrito para você? Às vezes você sente uma necessidade de compreender melhor sobre um determinado assunto, e aquele livro parece ter caído do céu! Sim, dái glórias, pois esse é o tipo de leitura que você deve valorizar. A leitura que te inspira. É bobagem pensar que a vida é a escola da alma. Ninguém encarna pra aprender coisa alguma, mas simplesmente para relembrar sobre o que já sabia, mas se esqueceu. Portanto, não busque se relacionar com os livros como se eles fossem professores exigentes dos quais você bebe o conhecimento que você não teria de outra forma. Mas encare-os, como espelhos do que você já tem por dentro. Se reconheça refletido na leitura (ou não!), e assim, você vai usar o livro como um espelho para enxergar o que você tem por dentro. Esse tipo de leitura, é simplesmente PRIMA, são o tipo de livros que nem sempre precisam ser reconhecidos como clássicos para serem excelentes leituras. Alguns dos livros com os quais mais me deliciei, são de autores que nunca alcançaram a fama, e até de pessoas simples que decidiram escrever um livro contando sua trajetória de vida, mas não alcançaram qualquer sucesso com o livro.
Clássico consolidado da literatura britânica? Muito provavelmente sim.
Melhor livro que você já leu? De boas? Acho que você precisa ler mais e MELHOR!
NÃO PRECISA SER AGRADÁVEL, NÃO PRECISA CONCORDAR COM TUDO PARA GOSTAR

O outro lado de moeda, são as leituras que fazemos para poder conhecer uma forma diferente de enxergar o mundo. Quem fica viciado em um tipo específico de leitura, fica restrito a uma forma específica de enxergar o mundo e a realidade. Enquanto que, o verdadeiro enaltecimento ocorre quando nos deparamos com ideias que não concordamos e, assim, ou nos reafirmamos no que acreditamos, ou nos vemos motivados a mudar a nossa visão de mundo. Um livro que eu cito como exemplo, para mim, foi Clube da Luta, do Chuck Palahniuk. Eu achei muito interessante a visão de mundo do Tyler, mas eu não consegui concordar com o niilismo materialista auto-depreciativo dele. Mas ainda assim, foi uma das leituras que mais me fascinaram!

DIVERSIFIQUE OS GÊNEROS

Acho que esse ponto eu já reforcei até demais, não é mesmo? Eu busco ler de tudo. Livro de filosofia, sexologia, romance literário, romance espírita, esoterismo, espiritualismo, clássicos literários e até uns romances de anjo e vampiro eu já li, justamente para tentar entender o que tem na cabeça da garotada esses dias. 

Eu só faço uma última advertência. Cuidado com a literatura imbecilizante. O lixo e o luxo está presente em todas as formas de arte, e os livros não são exceção. Cuidado com os best-sellers que só estimulam o seu lado emotivo. Não interessa o quão envolvente a estória seja. Se você puder resumir o tema do livro em palavras como sexo, espadas, homens barbados, vingança, morte, romantico, encantador, vampiros...  Enfim, se o livro não for nada além de EMOCIONANTE, e não te colocar nunca a pensar, e não te colocar nunca a refletir sobre algum contexto e a realidade em que você vive.. certo, OK! Eu tolero sim, a literatura lúdica! Só cuidado para não viciar e ficar tão vazio e superficial quanto quem só assiste novelas e seriadinhos da televisão Norte-Americana! Boa noite, já falei demais!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Não concordo nem discordo, muito pelo contrário!

Polêmicas, debates, discussões. Qual é o limite? Qual é o parâmetro para a dissolução e reconstrução das ideias? Farto, ou talvez não, talvez já passou da hora de eu trazer o discurso para outro nível. Escrevo por recreação, mas o comprometimento vem independente das minha vontade.

ESCREVER PRA QUÊ?
2009 - o ano que mudou minha vida. Com dezessete para dezoito anos, eu fiz algumas das amizades mais marcantes da minha trajetória. Prestando vestibular pra engenharia elétrica pela segunda vez, comecei a fazer amizades com pessoas de uma área, aparentemente, divergente da minha, as ciências humanas. Eu colava e andava com eles para todos os lados. Conversava, debatia, argumentava. Estimulava os campos que pareciam inertes em mim há algum tempo. Condicionado a focar minha atenção nos estudos de física e matemática, era um alívio conversar e trocar ideias com quem se dedicava muito mais à história, geografia e literatura.

Foi nesse ano que eu resolvi começar a escrever. Eu tinha muitas ideias e ideias e precisava depositar elas em algum lugar. Despeja-las para que elas não se perdessem no vácuo da minha memória. Eu sentia que elas, algum diz, poderia ser de inestimável valor, não só para mim, mas para outras pessoas também. O que eu não sabia, é que eu estava dando os primeiros passos em direção a um caminho que revolucionaria a minha vida e a minha forma de agir, pensar, e viver.

É IRRESISTÍVEL!

O impulso por escrever é, sim, maior do que eu posso controlar. Eu já tive um episódio genuíno de escrita compulsória, onde eu não conseguia desgrudar os dedos do teclado. Escrevi material para um livro de 150 páginas em quatro dias. Passado o surto (psicótico) eu exclui todo o material produzido.

Eu sei que essa parece ser uma recapitulação da primeira publicação desse blog, mas é simplesmente a constatação de que, faz exatamente um mês que eu abri esse blog, e MUITA coisa já mudou dentro de mim, de um mês para cá. Mudou a ponto, de eu decidi redirecionar minhas intenções com ele.

Não escrevo mais, para simplesmente "despejar ideias" num canto qualquer da web, mas para FOMENTAR ideias nos meus leitores! Se ao acompanhar o meu blog, você, leitor, não tiver o seu mundo revirado de ponta a cabeça, eu vou ter falhado miseravelmente no meu objetivo. E toda minha redação será mera futilidade.

"MEU PIRU INTELECTUAL É MAIOR QUE O SEU!"
"Eu leio 'nichy', sou foda, hu hu!"

Repudio enormemente a masturbação intelectual, descompromissada, que finge ser despretensiosa, mas tem a clara intenção de felar EGO's autoritários e estagnados. Os senhores da verdade, os cult que colocam suas bagagens intelectualoides à frente em qualquer discussão, não merecem e não precisam dar qualquer atenção ao que eu falo e escrevo. Não me interessa quantos livros você leu, se foram dez, quinze, cento e cinquenta ou quatro mil. Não me interessa os seus anos de estudo, ou se você se baseia ou não em pesquisadores e filósofos consagrados. Me interessa se você tem, de fato, algo a acrescentar ao tema!

Chamar atenção à própria formação conceituada é a forma mais clara de atestar ineficiência de raciocinar por conta própria. Àquele tipo de citação facebookeana; "Existem gênios com educação básica e idiotas com doutorado". A intelectualidade academicista, não me interessa!

DISCORDO DISSO AI, FERA!

Eu não espero encontrar pessoas que concordem com tudo o que eu falo, muito pelo contrário. Eu quero é promover o confronto, o debate acalorado, a discordância, principalmente, interiorizada. Se, ao ler meus textos, você nunca entra em conflito com o que pensa, ou você já alcançou um patamar como o qual EU pretendo alcançar um dia, ou eu não consegui trazer nada de novo a você.

Polêmico? Sempre! E não é a toa que eu escolho as palavras com o cuidado necessário para não ficar pisando em ovos. Descarado, eu tomo posições fortes e, sim, tendendo a um lado em contrapartida de outro. É a contraversão implícita nos meus textos, a Contra-Culturalização que eu defendo a unhas e dentes. Eu mesmo já disse para você transcender os dualismos, mas isso não me impede de derivar e surfar por meio deles, para alcançar meus objetivos.

Discorde, concordem, mas não deixem de me ler!

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

HORRORSHOW!

Era noite de inverno, lá estava Alex e seus druguis no Lactobar Korova. Tomavam seus shots de Moloko Vellocet, bebida com base em leite-e-com-tudo-e-mais-alguma-coisa. O tipo de drink que te deixa pronto para um vinte-contra-um.

Estavam lá, o próprio Alex, Georgie, Pete e Tosko. Tosko porque, como podem imaginar, ele era muito tosco! Estavam sentados num canto do bar, observando algumas cocotas ali, outras cá, até que Alex solta sua clássica exclamação:

_Então, o que é que vai ser, hein?

Essa, é uma boa pergunta, Alex. Inglaterra futurista. Um governo controlador, uma juventude decadente e criminosa. Ninguém mais anda em segurança nas ruas do próprio bairro. Livros são espécimes raros, extremamente arcaicos. Ó, pobre Alex! Teria você vivido mais para conhecer um mundo diferente ao qual nasceu e viveu sua sentida história?

_Ora, ora essa! Leste o meu livro, meu bom rapaz?

Não apenas li, mas me apaixonei pela história! Tanto do livro quanto do filme! Me tornei um entusiasta e...

_Ó, não, não! Não me fale do filme!

Por quê? O que tem de tão ruim com o filme?

_Aquele gordo starre do Kubrick estragou a minha história!

Alex, eu pensei que tínhamos concordado em não utilizar o vocabulário Nadsat durante a...

_Eu sei, eu sei, eu sei, eu SEI! Ah, ó, não precisa me lembrar todas as vezes! Deixe-me te explicar alguma coisa, rapaz. Eu não consigo regular toda slovo que sai da minha boca, assim, como vocês engomadinhos fazem.

Eu não sou engomadinho, mas até entendo o que quer dizer. Pressuponho que eu mesmo falo muitas gírias no meu dia-a-dia sem perceber.
Mas então, falávamos sobre o livro, e a sua história. Eu sei que nem todos aqui assistiram ao filme, ou leram ao livro. Mas fiquei curioso para entender por que você não gostou do filme.

_Aquele diretor, um excêntrico, um maltchik sem vergonha, se sentiu no direito de deturpar vários detalhes da trama. Primeiro, me representou consideravelmente mais velho, e aumentou também a ideia de várias das devotchkas com as quais eu fiz alguns entra-sai-entra-sai bem gostosos. Sem contar com aquela música maldita em um dos meus momentos mais memoráveis, prestes a meter dentro da esposa daquele escritor super starre.

Eu ainda penso que seja uma questão de livre interpretação. Mas enfim, conte-nos um pouco mais da sua história. Você era um rapaz jovem, 14 anos, líder de uma gangue de adolescentes que saia à noite caçando, digamos, aventuras?

_Você fala de um jeito engraçado! - risadas. - Enfim, a gente saia ai, zuando, você sabe, arrumando uma bitva ali e cá, perseguindo algumas devotchkas e prestando caridade a algumas esticas bem starres no pub.

Um jovem noturno, talvez não tão diferente dos nossos adolescentes, embora o seu conceito de divertimento seja um pouco fora do padrão de uma sociedade, digamos, como a que eu vivo.

_Você pensa mesmo isso? Será? Estupros e casos de violência estão cada vez mais recorrentes, meu bom drugui. E não ocorrem apenas na madrugada ou nas ruas. Nas escolas, nos hospitais, dentro das familias! Meus pais me educaram muito bem, sabe? Disso eu não posso me queixar. Me deram tudo do bom. Eu poderia ter sido um bom aluno se eu quisesse, ganharia muito tia penúcia com um bom emprego.

Mas você preferiu tomar outros rumos...

_Ah, não coloque assim. Faz parecer que eu escolhi "o mal caminho". Eu assumo que eu frequentava sim, a outra loja, mas isso não me faz melhor ou pior que ninguém concorda? Depois do que fizeram comigo quando eu sai da prisão? Ó, aquilo não é coisa que "gente direita" faz.

Eu concordo contigo, Alex. Eu acho que a sua história é a maior prova de que não existe tal como os "cidadãos de bem". Essa classe de pessoas fervorosamente super virtuosas, incapazes de fazer qualquer mal, não existem. E foi esse um dos pontos que o próprio Kubrick apontou em uma de suas entrevistas, sobre como a sua personagem representaria o inconsciente humano, intacto, o ID de Freud entre outras teorias como...

_Eu já disse para não govoretar sobre aquele puto outra vez!

Sinceramente? Eu gostei do filme também. Eu não o percebo como uma adaptação, mas uma re-leitura. Uma forma diferente de enxergar a história. Mas enfim, acho melhor concluirmos, não quero fazer muitos spoiler sobre a sua história. Melhor que assistam o filme, ou leiam o livro para descobrirem o final da história que o filme não mostra.

_Fazer muito o que? Spoiler? Oque é isso?

Ah! Significa contar o final de uma história e estragar o prazer que a pessoa poderia ter descobrindo o que acontece por conta própria. Enfim, eu pretendo fazer outras resenhas de livros e filmes também, e seguir essa conduta. Contar a história por alto, apenas o suficiente para chamar a atenção das pessoas.

_Vá ocupar seu tempo com alguma coisa decente! Você precisa de um pouco mais de pol, sair mais de casa, vagar pela madrugada (melhor se for acompanhado). Só deixo um último alerta, para você e para os leitores também. Cuidado com os falsos amigos! Ó, eu prefiro um inimigo do que um falso amigo. Pois estes, podem te ferrar muito pior do que imagina!

Certo, certo. Acho que só ficou faltando uma última pergunta, mas essa, eu deixo por sua conta:
_Então, o que é que vai ser, hein?

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Você está Detido!

Viagem no tempo. Peguem seus relógios mentais e ajustem eles para o dia em que nasceram. Eu vos pergunto, nasceram livres? Nasceram homens e mulheres? Nasceram com uma etiqueta que incluíssem seus nomes, endereços, número de RG, CPF, conta bancária e matrícula escolar?
É tão raro ver as pessoas questionando hoje em dia, as premissas mais básicas sobre simplesmente TUDO! Existem aqueles que questionam a religião e já se sentem os rebeldes que encontraram a saída da caverna. Mas quantas vezes já pararam para questionar o mito da cidadania?

Você nasce e ninguém te pergunta o que você quer. Ninguém questiona se você deseja ou não ir para a escola, ou fazer parte da sociedade. Vão logo te vestindo em um uniforme, e te empurrando para dentro de um quartel general, onde você é obrigado a sentar horas a fio em uma carteira gelada, enfileirada com outras carteiras, com outras crianças nelas, todas, na mesma situação atordoante que a sua.

Te resumem a alguns números. Se você já nem teve o direito de escolher o seu nome, também não vai ter direito a escolher o seu número de matrícula, ou o seu número de RG. Você já nasceu imerso nesse sistema, e pouco tem escolha de questionar. Tudo parece muito lógico, muito correto e coerente. Mas a loucura tem raízes tão profundas que fica difícil enxergar qualquer luz do fim do abismo.
Você cresce, recebe uma carteira de trabalho e, também, a obrigação de se apresentar uma vez a cada dois anos para participar do fantástico processo democrático (com risco de ter seus direitos cerceados caso não o faça). Está é muito mais para processo burocrático, por meio de onde você escolhe um entre alguns personagens de ficção pública para representar as suas vontades e interesses na máquina administrativa da sociedade - o governo.

O que nos prende ao chão? O que nos impede de transcender a Ordem estática das relações de poder e submissão? Tudo não passa de uma ficção, mas ainda assim, continuarmos interpretando os mesmos papeis pré-programados, sem hesitar, sem questionar. O Processo - Franz Kafka, também é uma obra de ficção, mas transmite muito bem a realidade, ainda que de uma forma pitoresca e perturbadora.

Eu devo concordar que foi uma das leituras mais difíceis e complicadas com a qual eu tive de lidar. A linguagem arcaica, os rodeios e rodeios nos diálogos, tudo isso cria uma atmosfera intragável, mas tudo se encaixa genialmente no contexto da obra. Bons livros, são aqueles que te forçam atravessar a experiência do protagonista. Se o processo ao qual Josef K. é submetido, o sufoca, o entedia e perturba, nada mais brilhante do que obrigar o leitor a sentir semelhante sensação com a leitura!

Certa manhã, Josef K. acorda e percebe que foi detido. Dois guardas vigiam sua porta do lado de fora. Ele não pode ir trabalhar, não pode sair do quarto. Ele deseja saber por que, mas ninguém o informa. Deseja conhecer a acusação que fizeram contra ele, mas ninguém tem permissão para lhe contar. Mais provavelmente por que, ninguém conhece a natureza da acusação.

Ele consegue prosseguir com a sua vida, em ritmo praticamente normal, com exceção de ter o processo à sombra de cada passada, de cada encontro e de cada caminho que ele toma. É chamado para prestar depoimentos, chega a procurar um advogado! Mas nada pode ajuda-lo a compreender melhor a natureza do processo ao qual está submetido, e muito menos pode compreender melhor a natureza da justiça que o julga.

Um sistema velado, uma máquina gigantesca, com engrenagens e mecanismos que extrapolam a visão. Nada pode capturar a magnitude do sistema em apenas uma frame. Não é assim que vivemos, quando convivemos em sociedade civil?

Josef K. não tem oportunidade ou a chance de escolher se ele irá ou não se submeter ao processo. Sem razão aparente, ele está em dívida. Sem uma motivação plausível, ele se vê forçado a se dedicar ao que, a princípio, ele considerou ser uma ameaça risível. Não estamos, nós mesmos, submetidos a mecanismos aos quais não se justifica? Por que temos que pagar impostos? Por que o estado tem o direito de meter a mão em nossos bolsos, sem nem mesmo questionar se concordamos com isso? Sob risco de sermos detidos e intimados caso resistirmos a ceder nossas reservas, somos furtados todos os dias! (nos bancos, no comércio, e até pelo ar que respiramos nós pagamos um preço!)

Somos todos prisioneiros. Estamos todos, como Josef, com um processo sob nossas costas, acusados e endividados sem compreender por que ou como. Temos de trabalhar para nos sustentar, sem nunca questionar se não existe outra forma de sobrevivência. O estado obriga a frequentarmos as escolas, mas não se compromete em fazer um controle eficaz da qualidade do sistema escolar. (Se você pensava que existia qualquer controle de qualidade rigoroso na educação brasileira, sinto muito em frustar suas ilusões).

Eu não pretendo especificar detalhes da história do livro, mas me queixo em fazer uma advertência, em prol de evitar interpretações ingênuas sobre o livro. É notável como nesse romance kafkaniano a mulher é uma figura que se apresenta, majoritariamente, como uma prostituta. E eu não disse no sentido de profissionais do sexo a quem o protagonista procura, mas me refiro a mulheres que, na história, têm íntimo contato com os oficiais da justiça e se oferecem (sensualmente) ao protagonista. Assim como se oferecem para ajuda-lo a exercer influência sobre os juízes para favorece-lo no processo.

Essa representatividade, poderia ser imaginada como machista, ou como algo que intenta em atingir a imagem da mulher. Mas não sejam ingênuos! Franz Kafka vivia em um período em que a sociedade era extremamente machista, portanto não seria muito mais do que natural essa visão. Tanto por que, ao que eu percebi, a intenção era usar a imagem da mulher como uma representação da promiscuidade e corrupção do próprio sistema. Sim! No livro, a mulher representa a corrupção do estado, feita para atender aos interesses dos poderosos. Eu poderia entregar mais alguns detalhes do desfecho do livro, mas eu vou deixar para aqueles que se sentiram estimulados à leitura, buscarem perceber a quem as mulheres do livro realmente querem favorecer.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Não consigo te Esquecer

...
_Eu só queria entender o que é que você realmente sente por mim.
_Olhe... - Eu tomo as mãos dela. - Mesmo eu não entendo como isso é bem possível. Afinal, dizem que não é possível amar duas pessoas ao mesmo tempo. Mas se for para descrever o que eu sinto por você, eu teria de dizer que eu te amo!

Estávamos na saída do salão do prédio. Já passamos outras noites memoráveis ali, mas aquela em peculiar, já estava me ferindo por dentro. Nos despedimos. Ela entrou no prédio, eu sai pelo portão e tomei longa caminhada até minha casa. Nunca mais nos vimos.
Nunca me esqueci do toque de seus seios, fartos.

É exatamente isso que vocês estão pensando. Ela era a outra, a amante, (para não resumir dizendo que era quem eu de fato amava). É algo sobre o que eu tenho refletido ultimamente. Meus melhores relacionamentos, aqueles que me dão mais gosto de memorar, foram meus amores bandidos. Já tive amantes (plural mesmo, fodam-se os tabus). Já fui amante outras vezes também. E devo dizer que esses romances que vivi - alguns curtos, outros longos, outros mais longos ainda! - foram mais satisfatórios do que qualquer outro compromisso que eu já tenha firmado. Melhores até do que os casos casuais. Pois, vocês sabem, tudo o que é casual, tapa buraco, mas não sustenta. Mata a vontade, mas não mata a fome!

Só o fato da titular ser chamada de namorada, e a não-oficial ser chamada de amante, já me permite entender por que essas aventuras me serviram com muito mais sabor do que meus namoros. Amante, é aquela pessoa a quem de fato amamos (e tão simplesmente amamos). Se seu namorado, ou namorada, for seu amante, maravilha! Mas se houver outro a quem chame de amante, não há dúvidas sobre onde o seu coração realmente está. (ainda que eu não duvide, que ele possa estar em muitos lugares ao mesmo tempo!)

Ela é bonita, inteligente, afetuosa, feminina, engraçada e tem um papo super cabeça. É, talvez, uma das poucas (se não a única) das garotas que me entendem, que não me julgam, e que gostavam de mim por muito mais do que a minha aparência. Uma afinidade física acentuada por uma afinidade mental. Meio gordinha, numa proporção ideal! (creio que foi o próprio Pitágoras, o filósofo, que esculpiu seu corpo na proporção divinatória). Seu único defeito foi ter me conhecido na época errada.
Mais ardor! Menos romantismo!

Tempo maldito! Descompassado! Nos obriga a conhecer pessoas fantásticas, quando já estamos (como é que se diz mesmo?) comprometidos. Ou seria melhor apontar, corrompidos por um lamurioso relacionamento. Essa tortura chamada namoro é sem dúvida uma invenção moderna que visou atender a exigência dos romancistas burgueses (é tudo culpa da burguesia, sempre!). Verdade! Na época do casamento arranjado, não fazia sentido namorar. No máximo, o casal tinha a chance de se conhecer e conversar algumas vezes antes de casar. Mas com o tempo, foi surgindo uma sessão intermediária entre o sexo liberal e o casamento. O namoro.

Ah! Eu não estou afim de escrever outra daqueeeelas prosas. Me dá um sossego, vai? Essa semana eu quero relaxar. Quero desabafar algumas histórias bizarras - e outras malditas também. Eu também mereço um descanso às vezes. Se você quer mais textos intelectualizados, eu sugiro que volte aqui outra hora!

...
De vez em quando eu ainda me pego pensando nela - e em outras também. Hoje, tenho certeza que ela me odeia. Ela tem o direito. Quem é que diz "eu te amo" em uma noite e some no dia seguinte? Por mais que o final tenha sido trágico, só guardo boas lembranças, só vivo o que realmente vale a pena.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

O Caminhante da Noite

Já passava da meia noite. Me aproximava do portão do meu prédio, mas meus pés rebeldes não queriam parar naquela hora. Talvez eu poderia passa na praça da Igreja São Geraldo, pensei. Decidi continuar caminhando. Sentia falta de varar madrugadas vagando pelas ruas de Jardim da Penha, em Vitória. A residência é nova, mas os hábitos, são velhos.

É parte de um rito pessoal. Não me importam localizações de padarias, supermercados, bancos, shoppings ou papelarias. Para que eu conheça uma cidade, de verdade - ao menos na minha consideração -, eu preciso me sentir seguro para caminhar por suas ruas de madrugada. Não poderia ser diferente aqui, em Araraquara. 

É um hábito perigoso, será? Vou refletindo sobre isso enquanto escolho um banco para me sentar. Chovera forte mais cedo àquela noite. Eu fiquei até preocupado. Estava me aprontando para ir ao cinema com uma colega de classe, enquanto começou uma ventania forte. Parecia que o fim do mundo tinha começado justo aqui, em Araraquara. Mas isso é só a minha mania de desejar que o fim do mundo chegue logo, não pela expectativa de que tudo se destrua, mas é que eu já estou cansado de cumprir papéis que não me cabem. Queria tirar a minha fantasia de homem, e um apocalipse seria o cenário ideal para isso.

Os bancos estão todos molhados. Eu dou um jeito e sento ainda assim, tentando me molhar o mínimo possível. Observei à lateral, a Igreja. Nunca entrei lá dentro. Também, ela não me parece tão atraente quanto a Igreja Santa Cruz, ou a Igreja Matriz. Ao redor, as raízes aéreas das árvores revelam a maestria da natureza que me cerca. Desesperada, buscando sustentar seus galhos grossos e largos a todo custo. Em um cenário urbano e imundo como aquele, toda a biosfera está lutando para sobreviver apesar de todas as adversidades. E eu também faço parte disso.

Eu puxo o celular e tento bater alguma foto. Inútil. Sua bateria está tão fraca que não consigo registrar nada. Aborrecido, entendo que só tenho a minha memória para consultar. Faço anotações mentais. Consulto outros arquivos do passado e me deparo com outras madrugadas que passei nas ruas. Eu sempre me senti seguro para caminhar nas madrugadas de Jardim da Penha, mas aquela noite em peculiar, foi diferente. Eu sentei ali, observando a Igreja, enquanto recordava.

Devia ter sido em meados para final de abril, desse ano mesmo, 2013. Eu fui passar um final de semana corrido em Vitória. Cheguei na sexta-feira, e logo fui me encontrar com um caro amigo de longa data. Lanchamos em uma casa de lanches, depois fomos à casa dele, bater papo madrugada a dentro. Quatro da manhã, eu decidi que era hora de ir para casa, descansar. Eu poderia ter ligado para meus pais e pedido carona, mas não o fiz. Eu estava ansioso para andar outra vez madrugada a dentro.  

Desde que sai da casa do meu amigo, eu comecei a sentir uma sensação estranha. Talvez fosse uma certa insegurança, afinal, faziam alguns meses que eu não me aventurava mais na minha cidade natal. Não dei tanta importância, mas me mantive alerta. Eu bem sei, nada de ruim pode me acontecer sem que eu saiba e essa sensação era a do tipo que eu aprendi a perceber para me proteger. Mas nem mesmo isso me segurou. Se fosse um perigo demasiadamente grande, eu perceberia com maior intensidade. Eu relevei o perigo eminente, com aquele pensamento arrogante, típico da minha essência: "Eu sou um Mago! O que poderia me acontecer de errado?"

Tudo. Só tudo de errado. Ele chegou na contra-mão. Eu não percebi ele chegando, mas ao que parece, ele virou a esquina assim que me viu. Era um carro branco - desculpe, não entendo nada de modelos ou marcas -, virou a esquina e veio na minha direção. Parou, desceu o vidro, e um homem de cabelos loiros na altura do pescoço, olhos fundos de insônia, me abordou. Com licença, você pode me explicar como chegar em Jardim Camburi?, - disse ele. Eu contorci a boca para o lado, revirei os olhos e respondi que ele estava longe de Jardim Camburi, mas não era complicado chegar lá. Cheguei mais perto e tentei explicar para ele como chegar na praia. Mas ele me cortou e tentou me oferecer carona:

_Onde você mora? Entra ai que eu te deixo em casa e dai você me mostra onde fica.
_Não, eu moro aqui perto, no bairro ao lado. Mas veja, se você virar a próxima esquina e seguir reto, você chega na praia, e dai, vira à esquerda e vai reto. Reto, até passar um matagal e...
_É sério, você pode me explicar no caminho, só me deixe te levar em casa. Entra ai!

Eu acabei aceitando a carona. Já estava próximo à porta do carona, quando do canto da minha mente me veio o pensamento: "Você perdeu o juízo, Fausto? Aceitar carona de um desconhecido, no meio da madrugada?", mas o EGO magista não me deixou dar ouvidos a isso. Eu estava convictamente convencido de que eu era intocável, infalível na arte oculta de não permitir o mal a me atingir:

_Então cara, você sabe onde eu posso encontrar uma parada assim, tipo, pó, tá ligado? - Eu engoli seco.
_Ah sim, é. Esse tipo de coisas você consegue arrumar por lá mesmo. Sim. Então. Se você for lá, acho que essas coisa você arruma fácil, fácil. É, tem esse tipo de coisa por lá mesmo. Não é difícil encontrar e... Siga em frente e vire aquela esquina à direita. - Ele segue a minha instrução sem perceber.
_Pois é cara, eu sou de Goiânia, é o meu último dia aqui em Vitória. Você poderia vir comigo, não é? A gente ainda tem o resto da noite, vamos lá, nos divertir sabe? Vamos fazer alguma coisa juntos.
_Ah cara, acontece que, sei lá. Eu já passei a noite inteira com um brother meu, então, eu estou cansado. Eu prometi aos meus pais que eu iria voltar cedo, eu também cheguei de viagem aqui em vitória hoje, é, eu também moro longe. E eu não sei se estou afim de fazer mais nada, eu só quero descansar e... encoste o carro ali naquela calçada. - Outra vez, ele "obedece".

Ele para o carro, vira para mim e começa a fazer uma espécie de beicinho. Explica que é a última noite dele em Vitória, diz que ele nunca mais vai ter outra oportunidade de me ver, e então solta uma clássica:

_É sério cara, deixa eu dar uma onda em você!

Sim, foi ai que caiu a ficha de verdade. Ele queria me drogar e comer a minha bunda. Eu admito que tenho uma senhora bunda, mas isso não justi.. Sim, justifica sim. Justifica muito ele ter me visto de costas, e ter virado a esquina enfurecido, na contra-mão, em minha direção:

_Olha cara, já está tarde, e eu num acho que é uma boa ideia, eu já estou muito cansado e - eu enrolava ele enquanto tentava abrir a porta, foi então que percebi que a porta só destravava do lado dele - eu já deveria estar em casa, além do mais, quando você chegar lá você vai... fazer o favor de abrir a porta pra mim cara?!
_Ah, opa, sim. Desculpe. - Ele destrava a porta.

Eu abro a porta e estou de saída, quando ele me agarra pelo braço mais uma vez e me olha, fazendo beicinho, e repetindo: "É sério, deixa eu dar uma onda em você". Eu olho para ele, sério. Não falo nada, apenas liberto meu braço, saio do carro, fecho a porta e, aproveitando que a janela está aberta, abaixo o tronco e apoio o ante-braço na porta, a outra mão no capô. Ironicamente, a minha posição sobre o carro, é bem similar a das prostitutas abordando um potencial cliente:

_Então, presta atenção. você segue reto nessa rua e você vai parar na praia. Chegando na praia, você vira à esquerda e segue reto. Segue, até você passar um matagal à sua esquerda, e chegar em uns quiosques. Chegando lá você vai encontrar uns travestis e eles vão te dar TUDO o que você está querendo para essa noite.

Ele ainda insistiu mais uma última vez. Eu agradeci e disse que não. Levantei o tronco, dei duas batidinhas no capô do carro e ele foi embora. Eu atravessei a rua e fiquei atento para ver qual caminho ele iria tomar. Ele foi direto pelo caminho que eu indiquei, felizmente (ou não).

Caminhando meio apressado, finalmente, todas as sensações chegam. O coração começa a bater acelerado no peito, minhas costas tensionam em nervosismo. Eu sou assim. No momento do aperto, todas as minhas sensações e emoções se anulam. Passado o momento de risco, o medo, a ansiedade e o nervosismo chegam. É um mecanismo que desenvolvi depois de muitas, mas muitas, situações de extremo risco por qual eu já passei. Essa história que eu contei, em comparação ao que já enfrentei antes, pareceria tão ameaçadora quanto uma criança de cinco anos com uma espada de plástico.

Foi brincadeira de criança mesmo, eu assumo. Quando eu percebi do que realmente se tratava, e qual eram as intenções dele, eu não tive tempo sequer de raciocinar e comecei a hipnotiza-lo da forma mais agressiva possível. Algumas técnicas simples e práticas de mesmerismo. Se eu tivesse de ter usado essas técnicas por muito mais tempo, era possível que, ou ele enlouquecesse, ou a hipnose não surtiria mais o efeito necessário para me livrar do risco. Mas eis o meu mal, excesso de confiança.

Talvez seja por isso que eu não tenho medo de caminhar pela madrugada. Eu sei que nenhum mortal, nenhum humano em carne, poderia representar real perigo comparado ao que eu já enfrentei. Talvez eu caminhe pela noite procurando a minha morte. Procurando qualquer desafio que me faça questionar, qualquer perigo que me faça entender: por que meu coração de gelo não se intimida, mesmo em face ao pior terror?

Eu levanto do banco da praça e vou caminhando para o condomínio. Entro na kitinete e sinto aquele bafo. O ambiente passou muito tempo fechado, o ar sem circulação. Abro a janela do quarto e a bascula do banheiro. Vou dormir pensando nela. Não nela, sobre quem você está pensando, mas sobre outra. Qual outra? Enfim, esquece. Boa noite.

************************

Então pessoal, eu decidi escrever uma narrativa dessa vez, para variar um pouco. Escrever apenas dissertações e dissertações argumentativas é um pouco monótono demais. Então pra dar uma variada, eu resolvi escrever uma narrativa. Com o detalhe de que, nenhuma linha que eu escrevi aqui é ficcional. Sim, absolutamente tudo o que eu relatei aconteceu de verdade. Caso vocês já tinham dúvidas quanto à sanidade do autor desse blog, podem ter certeza agora. Ele é louco de pedra! Até a próxima!

domingo, 15 de setembro de 2013

Sobre Vacas e Surrealismo

Hoje eu tive o prazer de rememorar um artista de pirar o cabeção! Animador, músico, fez e faz alguns dos vídeos mais esquisitos que tem por ai. Ok, talvez bata de frente com algumas das antigas vinhetas da MTV, mas concerte-se é muito relevante em matéria de psicodélico e surrealismo:

Construindo e desconstruindo e reinventando objetos e animais, Cyriak trabalha muito bem a musicalidade nas diferentes fases as músicas que, advinham, ele mesmo compôs! Nesse vídeo acima, ele brinca com a forma das vacas, em diferentes jogos e estruturas. E essa parece ser a sua marca. Centopeias de multiplos olhos e bocas e patas. Seres amorfos e coisas animalescas que pulsam e crescem descomedidamente.
Ao que se percebe, ele tem uma certa perseguição com as vacas. Mas gatos também são um dos seus principais alvos. Eu poderia postar dezenas de vídeos dele aqui, mas eu prefiro deixar vocês viajando pelo canal de youtube dele, ou mesmo pelo site. Só deixo em última instancia, a menção que ele também faz trabalhos publicitários, e vídeos musicais para outros artistas, como o vídeo abaixo. Como um comentarista de youtube bem colocou em um de seus vídeos: "Tudo a respeito dos vídeos do Cyriak se resume a: 
Essa nem é a minha forma final!" Divirtam-se!

sábado, 14 de setembro de 2013

Sensualidade Objetiva Vs Sensualidade Subjetiva

Ahhhh! Que delícia de assunto! Sensualidade, erotismo, tem assunto melhor para se discutir? Enquanto não inventarem um tema mais interessante, eu vou continuar batendo nessa mesma tecla. E por que não começar com uma foto bem picante?
É de encher os olhos!
Os contornos da imagens estão escurecidos. O centro da imagem é clara devido à pele branca da modelo. A calcinha vermelha só gera um contraste ainda mais acentuado na coloração. O cenário, remete a um quarto meio escuro, uma cama de casal. A cena parece íntima. Sim, intimidade, essa é a impressão que a foto me passa. As ranhuras da tatuagem se assemelham a raízes que enervam das bordas enegrecidas em direção ao centro.

O ambiente quer domina-la, a escuridão quer apoderar-se dela. E agora, também quero EU, apoderar-me dela. Ela está de costas para mim, na foto. Quase me olha de soslaio, nessa cena tão íntima. Só eu e ela, nesse quarto meio escuro. Essa é a impressão que a imagem me passa. Intimidade, desejo ardente (por conta do vermelho), desejo de ser dominada (por estar de costas para mim).

Eu preferi começar de cara com um exemplo. Facilitando a compreensão do tema. Pois é assim que eu identifico a diferença entre um erotismo subjetivo, contextualizado, rico com elementos textuais e subjetivos. Em detrimento de um erotismo objetivo, pobre, desqualificado.

Olhe para a câmera, agora sorria! FLASH! Pronto, agora vamos retocar o Botox!
Quantos mili-segundos são necessário para abstrair todas as informações relevantes dessa foto? Biquíni azul, sorriso, pose genérica e BANG! Capa de revista. Maneiro. Não tem cenário. (Elas estão voando no vazio, pode isso gente?) Não tem contexto. É tudo tão genérico e pobre nessa imagem que até corta o meu tesão. Sem brincadeira, absolutamente broxante. Me xingue do que você quiser, mas eu não sou obrigado a me excitar só por que vi peito, bunda e sorriso. Pois é só o que eu tenho para ver nessa imagem!

Sensualidade Objetiva: Focada em aspectos quantitativos (tamanho da bunda, tamanho do peito, finura da cintura, tamanho das coxas), genérica e de consumo simples. Não se preocupa com cores nem contextos. O importante é mostrar a perseguida e fazer as alusões mais objetivas possíveis ao sexo. Atendendo exclusivamente ao prazer do consumidor.

Sensualidade Subjetiva: Preocupada com aspectos qualitativos, imbuídos de personalidade (acessórios, tatuagens, cores, ambientes, cenários, filtros de fotografia). Alimenta não apenas o prazer objetivo, mas o prazer subjetivo. Carrega elementos emotivos e sentimentais. Satisfaz tanto a quem observa, quanto à modelo representada, pois, reflete muitas vezes as fantasias eróticas dela. Com isso, o erotismo subjetivo carrega consigo grande parte da alma da modelo.

Imagino que algumas pessoas pensaram em citar o site Suicide Girls, embora eu não considere essa a melhore referência, ainda que o site se esforce para atribuir certa subjetividade às modelos, o negócio deles já está industrializado demais para atender meus requisitos. Cito ao invés, recomendo fortemente o site Militância Erótica. Ainda que esteja em espanhol, nada que um tradutor ou alguns cognatos não impossibilitem a compreensão.

Ideologias e Rótulos

Cite a sua bandeira! Marxista, Reacionário, Feminista, Igualitário, Comunista, Anarquista, Blablista... Enfim, jura fera? Será esse mesmo o caminho? Motivado por eventos recentes, adianto um tema que eu pretendia deixar para OUTRO momento. Falo hoje, sobre Ideologias e Rótulos.
Ideologia, eu não preciso de uma para viver.

Em um contexto geral, ideologia é definida por um corpo de ideias, ou conjunto de valores. Dá-se então, que é possível possuir uma ideologia absolutamente pessoal, sem rótulos. Apenas pelo fato de termos um conjunto de ideias próprias - compostas por meio das nossas experiências, leituras e aprendizados -, somos detentores de alguma ideologia.

Ainda existe a definição marxista para ideologia. Que seria um conjunto de valores e ideias que aprisionam os indivíduos em uma percepção ilusória da realidade. De tal maneira a permitir a propagação de modelos de poder onde uma dita classe dominante prepondera sua dominação sobre uma classe dominadora.

Ironicamente, o marxismo se encaixa nessa visão de ideologia dentro da própria classificação. Pois à medida de que as pessoas mantém uma visão parcial e reducionista da realidade - resumindo tudo a falsas dicotomias de oprimido e opressor, burguês e proletariado -, permite-se a propagação das relações de poder e sub-julgo em que vivemos. Um assunto puxa o outro e dá nisso. Eu ainda vou dedicar um texto para explicar por que Marx é o jesus (no sentido pejorativo) da intelectualidade moderna. (E como prometido, aqui está o texto sobre Marx)

Vivemos em uma sociedade que busca rotular tudo. Herança, sim, do Marxismo Cultural. Essa sociologia que coloca as pessoas a acreditarem que existe tal coisa como uma Consciência de Classe. Onde sua forma de pensar é irrevogavelmente determinada pelo contexto social que se vive. Portanto, se você pertence a uma classe social abastada, você necessariamente defenderá e propagará ideias de natureza burguesa, elitista, capitalista.

Acreditam mesmo, que todas suas características comportamentais, sociais e ideológicas são mero fruto do meio? Se esse fosse o caso, de onde surgiram os grandes pensadores visionários? Aqueles, que pensaram à frente do próprio tempo? Os mesmo que refutavam e criticavam a forma de pensar da sua época?

O determinismo utilitarista, estritamente materialista - provável herança intelectual de La Mettrie - restringe o homem a um simples mecanismo de estimulo-resposta. Em consequência, Marx resumiu o homem ao produto de seu próprio trabalho cultural. O homem se construiu homem e depende da hominização para ser homem. Com isso, ele é fruto absoluto das experiências sociais. Parecemos, assim, conduzidos a um vortex inescapável e infalível que dirige nossas ações e ideias. Será mesmo essa a realidade?
De quantos grupos diferentes você faz parte? Classe social, grupo de discussões, universidade, faculdade, colégio, religião, esporte de preferência, fanclube da sua banda predileta. Será que um indivíduo pode ser definido exclusivamente (e inteiramente) por apenas um desses muitos parâmetros? Não é possível observar uma definição conceituada de carácter, quanto menos ideológica, para um determinado setor da sociedade ou grupo. É ai que o discurso de muitos cai por terra, quando dizem combater o preconceito, mas tratam os que discordam deles com rótulos de "otário genérico". Pois todos os que discordam dele fazem parte, automaticamente, do inimigo ideológico. Perde-se então o debate livre. Perde-se também o respeito.

Vivemos na intersecção de uma infinidade de grupos sociais. Mas somos individualmente exclusivos. É por conta dessa e mais muitas outras questões, que eu não me permito ser rotulado de anarquista, ocultista, nem feminista. Por mais que eu tenha ideias em consonância com esses grupos, o nome não me define.

Os rótulos são, sempre, preconceituosos. Pois eles servem para que, partindo do pressuposto que eu pertenço a um determinado grupo, parte-se do pressuposto que eu concordo com tudo o que as pessoas que pertencem àquele grupo falam e pensam. E, pior ainda, parte-se do pressuposto que eu sou igual à imagem que se tem formada sobre aquele grupo. Existe até mesmo o caso de me taxarem como pertencendo a um grupo, só pelo fato de eu apresentar um comportamento semelhante daquele.

Quantas vezes não fui taxado de rockeiro por gostar de andar de preto. Quantas vezes não me chamaram de reacionário por criticar o PT ou a esquerda política, e até mesmo, fui chamado de anarquista por criticar a moralidade dos reacionários direitistas. Estão sempre querendo me encaixar em algum grupo ou rótulo. E se eu não admitir nenhum?

Meu número de CPF não me define. Meu número de RG não me define. Meu nome na minha certidão de nascimento não me define. E nem mesmo meu pseudônimo (Gunter Brian) me define. Nada pode substituir a minha essência na qualidade de representa-la. Assim como a palavra "cadeira" não é um objeto em si, mas faz mera referência a um objeto existente, cuja constituição independe do rotulo que colocam nele.
Eu jogo tudo fora sem pensar duas vezes!

Eu não sou um dançarino, apenas gosto de dançar. Não sou um escritor, apenas gosto de escrever. Não sou um professor, eu leciono. Meu trabalho não me define, nem mesmo minhas ideias ou valores deveriam me definir.

"Então, o que te define, Gunter?"

Eu simplesmente SOU. Para explicar o que isso significa, eu necessitaria de muitas prosas. Mas eu posso resumir dizendo que eu consigo me definir claramente pela minha antítese. Tudo é, a não ser que não seja. Portanto eu SOU o que tudo posso ser, a não ser que eu não o seja.

JOGUE SUAS IDEOLOGIAS FORA!
VOCÊ NÃO DEPENDE DELAS PARA PENSAR!

Ideologias, em maioria, são preservadas por uma elevada carga de identificação emocional. Quando você aceita levantar e defender a bandeira de uma causa ou partido, você está vinculando aquela causa ou ideia ao seu nome e imagem. Você não raciocina mais se o que você defende é, em todas as ocasiões, coerente ou sensato para com a realidade. E é por ideologia que muitas pessoas aceitam entrar em gigantes contradições. Como matar e agredir ao próximo para protestar contra assassinatos e a violência.
O direito de protestar é livre. O direito de discordar também.
Cito aqui, o caso da fúria contra o casal Nardoni. Foi um crime hediondo, sim. Foi um atentado gigantesco contra a vida, sim. Foi um caso inédito, NÃO! Aconteceu e acontece em milhares de famílias brasileiras vários casos parecidos. Mas em sua maioria, em famílias de baixa renda, com crianças de pele morena. Mas oh, a classe média pira quando vê um semelhante sendo vítima de uma violência tão nojenta, não é mesmo?

Eu até entendo a reação popular, mas discordo da atenção que as pessoas dão a esses casos. Bem como, discordo do abuso da mídia. Pois toda essa identificação emocional com o caso interfere na apuração racional dos fatos. Existem pessoas que vivem em infernos muito piores do que sonha a vã sabedoria. E nem por isso eu preciso me abalar ou me apegar emocionalmente a uma realidade com a qual eu não concordo.

E quando chega o dia do julgamento fatídico, o que acontece? As pessoas mostram sua fúria em cima do advogado do casal Nardoni. Jogam pedras, atacam com qualquer coisa que têm nas mãos. A fúria popular contra a injustiça? Um protesto fervoroso e violento contra a violência? Uma enorme incongruência, eu diria.
Uma sociedade preocupada em se vingar contra quem nunca mais vai praticar qualquer crime.
São incongruências como essas, que fazem algumas pessoas pedirem por liberdade, ao mesmo tempo que visam fortalecer o Estado que as oprime e as cerceia a liberdade. Que clamam pelo direito à vida, ao mesmo tempo que pedem por pena de morte. Que pedem por um mundo sem preconceitos, mas taxam de alienados os que não concordam com ela.

E assim eu concluo essa prosa raivosa. Aconselhando que façam uma revisão pessoal. Será mesmo que vocês concordam com as ideias que tem, por serem as mais racionais, ou por serem aquelas que satisfazem o seu EGO sonhador e machucado? Será você aquele que precisa se apegar a alguma âncora mental para não perder as estribeiras? Até a próxima!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Dualismos


Preto no Branco, Direita ou Esquerda, à Frente ou Atrás. Vivemos em um mundo de dicotomias, dualismos, confrontos, conflitos, oposições, interpolações, enfim. É o mundo que divide os bons dos maus, os justos dos injustos, e deriva nessa roda viva, pisando um dia ali, outro acolá.
Yin Yang, simbolo de dualidade. Constantemente mal interpretado.
Tudo bobagem! Insanidade da mais grave e hedionda heresia! Não nego os dualismos, mas nego a necessidade de assumir ou elencar um como superior ao outro. Eu falo desse jeito despojado, irritadiço. Eu não deveria. Não deveria me presar a fazer sensos de julgamento, mas me permito à poesia da prosa livre, sem compromisso.

Dualismos. Desde o nascimento nossos genitores ou responsáveis parecem tão preocupados em nos ensinar a distinguir o certo do errado. O permitido do proibido. Têm certeza que isso funciona mesmo? O senso de educação geral parece se resumir a obedecer um conjunto de regras irrefutáveis, e engolir verdades inócuas,  indigestas ou até mesmo fantasiosas. Aprende-se tudo, para descobrir mais tarde que nos enganaram com boas intenções.

Se sensos de certo errado funcionassem para corrigir e guiar o comportamento humano, só pela lavagem cerebral forçada nas escolas, a nossa sociedade já seria perfeita. Não haveriam drogados, nem bandidos, nem criminosos, principalmente entre os que têm acesso a *cof cof* educação de qualidade. Mas essa não é a realidade. O que ocorre é que as pessoas (e especialmente os jovens) são inclinados à transgressão. Coloque uma caixa em uma mesa em frente a uma pessoa, diga à ela que NÃO ABRA em hipótese alguma, depois deixe a pessoa sozinha com a caixa. E então, dê gargalhadas como susto que ela vai levar quando uma sirene começar a tocar de dentro da caixa, e ela não conseguir mais desliga-la.


Proibições são convites à transgressão. Eu já deixei isso bem claro em outro texto. Dualidades só existem para manter-nos aprisionados, pois elas mantém a nossa atenção presa à parcialidade da realidade. Embora muitos também caiam no equívoco de avaliar o todo, apenas para elencar uma forma de enxergar a realidade que seja superior à outra. Ao meu ver, qualquer senso de julgamento é falível e ilusório.

Sensos de certo e errado são absolutamente arbitrários e mudam de região para região, sociedade para sociedade. Na China, corrupção política é paga com pena de morte, no Brasil, se preocupam muito mais em vingar um estupro do que hospitais sucateados e estradas que causam centenas de acidentes diariamente. Portanto, não existe razão em se sustentar em modelos morais pre-concebidos.

A VIDA NÃO VEIO COM MANUAL DE INSTRUÇÕES!
PARE DE PROCURAR UM PARA SEGUIR!

É até um pouco contraditório a maneira como eu falo sobre não existir um modo certo ou errado de se lidar com a vida, mas ao mesmo tempo oriento sobre o que fazer e o que não se fazer. Tudo não passa da minha opinião, eu assumo, mas isso também faz parte do meu senso sobre a realidade. Afinal, nenhuma verdade é absoluta, portanto, o máximo que eu posso oferecer é a sabedoria que eu construí pautada na minha experiência com a realidade. Eu sou enfático, mas deveria tentar ser mais humilde, dizendo que esses são os meus conselhos, não os meus decretos e afirmações fatalistas.

Ao meu ver, a melhor forma de lidar com os dualismos do mundo, é assumir que não se pode domina-los ou controla-los. Aceite tal como um fato: Você não tem controle sobre a sua vida.
No final de julho, voltando das minhas férias de Vitória, eu decidi passar um final de semana em São Paulo. Cheguei lá na sexta-feira, e fui embora na terça-feira da semana seguinte. Sai da casa de meu amigo às 8:30 da manhã. Carregando mala e mochila pesadas, só o trajeto até o metrô já me pôs exausto. Chegando na rodoviária, dei por desaparecida a minha carteira. Pressupus (e isso não tem uma explicação clara até hoje) que fui furtado no metrô. Provavelmente na parada da estação da luz, onde um fluxo grande de passageiros saiu do vagão na porta ao meu lado.

9:30 estava eu, na rodoviária. Mala e mochila somando mais de 40 kilos de bom peso, nenhum documento com foto, nenhum tostão no bolso, nenhum cartão de crédito. Fiquei algumas horas rondando a rodoviária, pedindo informações, buscando um meio para contornar a delicada situação.

Foi só à 13 horas que eu decidi caminhar até a delegacia. Encontrei uma boa alma que me passou com o cartão da empresa uma entrada ao metrô em direção à estação Carandiru. De onde eu andei mais de 3 kilômetros até a delegacia. Fiz o BO, mas ainda andei uma distância indefinida até uma agencia da CAIXA ECONÔMICA. Lá, tive quase de implorar para que a gerente me permitisse retirar dinheiro sem documento. Cheguei na rodoviária de táxi, comprei minha passagem de volta a Araraquara pela internet. Foi do balcão da Lan House que minha mochila caiu. Penso que foi por conta da exaustão que eu a permiti que escorrega-se sem ter os reflexos necessários para impedir a queda. Sai de São Paulo 19 horas. Cheguei em casa 1h da manhã.

Dia complicado aquele. Dia de azar, muitos diriam. Devido à queda da minha mochila, meu notebook quebrou. Fiquei três semanas sem computador pessoal. Poderia ser o inferno, mas foi o CÉU. Eu dormia todos os dias mais cedo. Passei a me exercitar todos os dias. Estudava e lia com maior frequência. Sem distrações, eu vivia melhor. Fiz um novo cartão do banco e, agora, tenho um RG do Estado de São Paulo.
Teme a Morte? O fim, é só um recomeço.

Eu coloquei a carta d'A Roda ali em cima, justamente para ilustrar a ideia de como nós nos prendemos muito à noção de bom e mau, desnecessariamente. Afinal, eu poderia ter passado por todas essas experiências como uma labuta penosa e fruto de absoluto mal azar. Mas eu fiz justamente o contrário. Talvez pela minha boa prática de não me desesperar nunca, não importando a situação. Não é necessário ser otimista de maneira a pensar que "tudo é bom", mesmo quando a situação é claramente desfavorável. Interessante mesmo, é encarar as coisas como elas são, e aceitar a realidade tal como ela se apresenta. Fatos não são julgamentos, são apenas fatos. Eu enfrentei uma situação difícil, isso só seria um julgamento se eu permitisse que as dificuldades me afetassem ou me privassem de forma negativa. Mas qualquer mal só me atinge e me afeta à medida que eu permito. Eu não me permiti ser afetado com os acontecimentos, e justamente por manter esse controle, eu consegui enxergar uma saída para a tão bizarra situação. Enquanto que o medo e o desespero só me manteriam travado e estagnado.

Nossa vida oscila constantemente entre estados de prazer e dor. Providência é isso. É um dia acordar despreocupado, e no outro, atolado com situações de conflito para resolver. A habilidade de lidar com essas questões, de lidar com as oscilações da vida, é o que define a Sabedoria.

ACEITAR O MUNDO TAL COMO ELE É.
TAL É O PRIMEIRO PASSO CASO QUEIRA MUDAR O MUNDO.

Abdique-se das dualidades. Abdique da necessidade de ser bom ou mal, de tomar partidos de Direita ou Esquerda. Ausente-se da necessidade de levantar bandeiras, rótulos (e dou-lhe mais um texto só sobre isso,futuramente. Um assunto sempre puxa outro). Liberte-se da dualidade, e você não estará vivendo entre as duas - pois não existe efetiva neutralidade -, mas estará ACIMA das duas.

O diabo está acima do circulo que representa o plano terreno. É portanto, uma figura que simboliza a maestria dos impulsos e paixões. Caso você não saiba lidar com suas paixões e desejos, será algemado e manipulado por ele. Caso tenha domínio de si mesmo, torna-te tu, Mestre e Diabo de ti mesmo. Ele está acima das dualidades, não é necessariamente imparcial, mas tem a absoluta liberdade de ação. Pois compreendendo ambas as partes, vive sem prendimentos ou julgamentos.

Ele também representa a própria dualidade, possui mamas femininas e genitália masculina. Representa o equilíbrio das forças, a maestria ante o descontrole. Ele se permite ao que atende às suas necessidades. Assim, também, ele tem maior liberdade de atuação, pois sua atitude é deliberadamente desapagada das ilusões da dualidade.

É o Décimo Quinto Arcano Maior (também reduzido ao valor 6, ligado à esfera Tiphareth da Harmonia, Beleza e Equilíbrio). Figura muito temida entre os que propagam uma moralidade pautada na dicotomia de céu e inferno, anjos e demônios, bem e mal. Mas à medida em que nos desvencilhamos dessas falsas polaridades, não há por que temer a compreensão de uma figura tão misteriosa e rica tal como é essa carta.



quarta-feira, 11 de setembro de 2013

INGSOC - SOMA

Distopias a parte, por mais que existam resenhas e resenhas sobre esses livros que pretendo citar hoje, eu me sinto na obrigação de dar o meu parecer sobre essas duas literaturas de revirar o cuco. Mas despreocupem-se, mesmo para os que não leram ainda esses livros, eu não faço aqui qualquer spoiller sobre a história narrada nos livros, apenas descrevo as atmosferas e ambiente dos mesmos.

Guerra é Paz
Liberdade é Escravidão
Ignorância é Força

O ano era 2009, intervalo das aulas do pré-vestibular que eu atendia em Vitória, na Reta da Penha. Meus amigos já tinham descido para o hall do prédio, enquanto eu fiquei para trás, os olhos grudados nas ultimas páginas de 1984- George Orwell. Quando eu finalmente terminei de ler, eu já não me lembrava mais de quem eu era, o que eu estava fazendo, onde eu estava... Por Deus! Eu não sabia nem o que eu queria lanchar!

Eu olhava para os lados, olhava para os outros alunos, não conseguia pensar em nada que não fosse desespero, insanidade e desesperança. Eu fui arrebatado de uma realidade pútrida, fétida, que era essa dimensão paralela do livro, mas ao retornar daquele mundo, eu passei a enxergar a face do Grande Irmão por toda parte.

Eu consigo citar 3 grandes distopias do último século:
Laranja Mecânica - Anthony Burgess
1984 - George Orwell
Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley

Dos três, em termos de qualidade literária, eu classifico do melhor ao pior, exatamente na ordem do primeiro ao terceiro. Contudo, em termos de relevância, considero os dois últimos os mais significativos. Justamente por eles representarem realidades aparentemente opostas. (ainda farei uma resenha de Laranja Mecânica, tanto livro quanto filme)

O universo de Admirável Mundo Novo, representa um futuro onde as pessoas são programadas desde a sua fase de feto, e recebem constante condicionamento social desde o nascimento até a morte. Literalmente uma constante lavagem cerebral. Uma sociedade dividida em castas (Alfa, Beta, Gama, Omega...), onde cada casta atende a uma camada específica da divisão do trabalho. São condicionados desde o berço a aceitarem e apreciarem sua condição social como a mais cabível. Os Betas, gostam de serem Betas, por não serem tão estúpidos como os Gamas, mas também não serem tão cobrados quanto os Alfas. E com essa lógica, todos são impelidos a adorarem e cultuarem a própria posição ante a sociedade.

A fecundidade é totalmente controlada pelo Estado, já que todos os indivíduos nascem de dentro de encubadoras. Os ovários e espermas são doados ao estado, que direciona o fluxo e designa a função para cada indivíduo desde o berço. A sociedade inteira funciona como uma enorme linha de montagem, auto-suficiente, e aonde tudo atende a um propósito específico. Como o nascimento é propriedade do Estado, não se pode constituir família. É dado tal que as pessoas são incentivadas a serem sexualmente promíscuas.

Altamente tecnológica, a sociedade do Mundo Novo dota de uma exacerbada industria do lazer. Sem contar com a droga chamada SOMA - do inglês, PLUS - que as pessoas tomam como forma de extraviar os efeitos do estresse cotidiano. Seria uma espécie de SUPER CAPITALISMO, operando em perfeita harmonia e sincronia. As pessoas trabalham para conseguir renda, e sem questionar, gastam todo o dinheiro com lazeres caros e fúteis. Não se permite desfrutar uma tarde ensolarada deitado no topo de um prédio sem gastar dinheiro, nem mesmo na companhia de um bom amigo, conversando descompromissadamente. Afinal, tempo livre, é para ser gasto por meio do dinheiro.

Por outro lado, 1984 nos transporta para uma realidade de um Estado totalitário, controlador, com poderes praticamente absolutistas. A sociedade é dividida entre os que fazem parte da maquina do Governo (Partido) e os civis comuns, a Prole (ou proletariado).

Em relação ao Partido, é ainda dividido em dois seguimentos, o Partido Externo e o Partido Interno. O Partido Externo diz respeito aos trabalhadores de baixa patente, que pegam no trabalho mais pesado dentro do corpo administrativo. Os integrantes do Partido Interno, além de várias vantagens e benefícios, pertencem à alta patente e participam das decisões mais internas e secretas.

O Governo é dividido em quatro ministérios. Todos, cujos denominações descrevem exatamente o oposto de suas funções:

Ministério da Paz (promove a Guerra)
Ministério da Verdade (manipula as informações)
Ministério da Fatura (responsável pelo racionamento dos recursos)
Ministério do Amor (responsável por fazer carinho com ferro e eletrochoque nos civis indisciplinados)

A constante antítese resume a filosofia dessa sociedade. É o dito duplipensar (nos termos na novilingua). Duplipensar significa aceitar duas ideias contrárias, simultaneamente, e alternar entre uma e outra à medida do necessário. Portanto, se em um momento é necessário aceitar que a morte é um prejuízo inestimável, se for para atender à vontades do Grande Irmão (líder onipresente/onisciente), tolera-se a morte como um mal não apenas necessário, mas desejável.

Monitorados constantemente pelas teletelas (televisões que emitem imagens ao mesmo tempo que captam imagens - hello, X BOX ONE!), os cidadãos devem mostrar constantemente seu ânimo e dedicação ao Grande Irmão, seu líder supremo, e se mostrarem convictamente alinhados com a ideologia do Partido. Qualquer desvio é intolerável, e até mesmo seus pensamentos são monitorados. Não por meio de eletrodos na cabeça das pessoas, mas por meio de polícias especializadas em identificar ideocriminosos. Homens capazes de observar as mínimas reações ou indícios de desvio moral, mesmo que esses desvios só ocorram no íntimo de cada indivíduo. As próprias crianças são treinadas para atuarem como mega espiãs, incentivadas a denunciarem até mesmo os próprios pais, caso identifiquem nesses traços de traição contra o GI.
Eu poderia passar horas escrevendo e descrevendo minuciosamente o ambiente de cada um desses livros, mas nada supera a leitura em si. O meu objetivo aqui não é esse. Mas formar um paralelo entre as realidades dos livros e o mundo que vivemos hoje. Afinal, quem estava "certo" sobre o futuro? Orwell ou Huxley?

Eu diria que os dois, e ao mesmo tempo nenhum. Enxergo traços das duas distopias na nossa realidade. Huxley acreditava que nossos prazeres iriam nos aprisionar, enquanto Orwell pensou que tudo o que odiamos iria nos submeter. Hoje, vivemos as duas realidades em uma só.

Televisão, facebook, twitter, vídeos de gatinhos, sites de humor barato, 9GAG, seriados de televisão, livros best-sellers, toda essa parafernália nos condiciona e nos diverge a atenção que poderia ser coordenada para diversas outras atividades. Conheço pessoas que não têm outra definição de lazer que não seja assistir filmes ou baixar um novo seriado. Assistem temporadas inteiras em questão de dois ou três dias. E quando acabam, não tem outra opção senão continuar buscando e procurando um outro anime, ou outro mangá, ou outro filme ou outro, outro, outro meio de preencher o tempo que elas não suportam passar consigo mesmas. Algo que lhes sufoque os pensamentos, pois, se a televisão já cumpria o papel de fazer o cérebro parar de funcionar, pular para internet e continuar desligando involuntariamente o cérebro, não faz tanta diferença. (E esse foi um puxão de orelha bem direto a todos os que se perceberem nesse perfil.)

Vivemos sim, em uma sociedade pautada pelo consumo, onde caso as pessoas não têm o que fazer, se sentem entediadas e angustiadas. Incapazes de apreciarem o silêncio, ou a quietude de uma tarde tranquila, sentados em um banco de praça, sozinhos ou acompanhados. Não apreciam os prazeres simples. Dependem de seus smartphones, Ipads, ou qualquer outro aparelho para se distraírem. Tudo quanto o necessário e possível para evitarem terem de conviver com elas mesmas. Portanto, vivemos sim, em uma sociedade direcionada e dirigida pelo consumo do prazer como fonte de felicidade.
A maior parte das pessoas se sacrificariam para proteger os sistema que as aprisionam.
Por outro lado, vivemos também na sociedade do controle e da larga manipulação de informações. A mídia condiciona as pessoas ao medo. Os noticiários só falam de morte, violência e tragédia, de maneira que as pessoas consideram aceitável admitir leis cada vez mais autoritárias e que restringem a liberdade delas. Se você sai às ruas para protestar, e os policias te agridem deliberadamente, a mentalidade privativa e protecionista aplaude essa violência de pé. É claro, eles preferem o controle rígido, pois estão notoriamente dispostos a viverem em gaiolas, já que foram convencidos de que é a única maneira de viverem protegidos. Aplica-se aqui, o duplipensar constante. Pois pela moralidade (seja religiosa, seja legislativa), qualquer tipo de violência, agressão, ou assassinato, é CRIME e absolutamente repugnante. Mas admite-se que o Estado seja violento, agressivo e assassino para coibir essas práticas? Ah, sim. De um lado violência é intolerável, mas se for para deter a violência, combate-se fogo com fogo? É a lavagem cerebral promovida não só pela mídia de massa, mas por monstruosos formadores de desopiniões (um salve ao Olavo de Caralho, Reinaldo de Azedo e Raquel Shehavenohead).

Conformismo, medo de mudança e sensação de enorme impotência. Essas são as maiores violências morais praticadas pelo Estado, de maneira a coibir as pessoas a aceitarem o sistema. Pois é assim que as coisas são, e não será VOCÊ que conseguirá mudar as regras do jogo. Nós vivemos no CAPITALISMO, aceite esse fato (benzinho) e saia do seu sonho utópico de viver em um mundo melhor.
Uma vez que você confronta a verdade, não há mais volta.
Sobre esse tópico, eu ainda pretendo escrever um texto sobre a forma como eu enxergo para sairmos da Matrix. Eu mesmo estou trilhando o caminho que elaborei, e ele tem se mostrado muito eficiente, mas é tema para outra prosa.

Esses são alguns dos indícios de como essas duas incríveis distopias do século XX mostram sua influência sobre a nossa realidade do século XXI. Se isso não foi o suficiente necessário para te incentivarem a tomarem vergonha na cara e lerem os livros, de boa, eu não sei mais como ajudar!

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Video Games e Sexo Anal

Ahhh! Finalmente! Depois do blackout da viagem e do meu navegador que ficou de xico, consigo voltar a atualizar o blog. Com o saldo devedor de textos nas alturas, pretendo atualizar dois textos por dia, pelo prazo de três dias. Só assim para manter as atualizações em dia. Mas sem mais delongas.

Para o primeiro texto de hoje, pretendo falar sobre sexo anal. Claro tudo dentro de um contexto notoriamente bem encaixado. Awesome Series é uma série de vídeos que faz paródias com videogames. Criticando tanto alguns games quanto a reação dos gamers, dentre todos os vídeos, eu destaco um que me chamou a atenção em particular.

Não é necessário entender de inglês para entender que na história do vídeo, dois amigos acabam de comprar o novo sensacional Halo Reach e voltam para casa ansiosos para jogar o tão esperado jogo. Contudo, eu faço uma advertência:

TUDO NÃO PASSA DE UMA REFERÊNCIA IMPLICITA A SEXO ANAL

Agora que você já assistiu o vídeo pelo menos uma vez, eu o convido a assistir outra vez, sob uma perspectiva diferente. Imagine que dois colegas de quarto decidiram experimentar sexo anal. Eles acabaram de voltar da farmácia, onde eles compraram camisinhas. Então, chegando em casa, superanimados, um pergunta ao colega:

_Você está preparado para SE-XO A-NAL?
_Preparado? Preparado nem sequer me DESCREVE!
_Oh Yeah!! - eles espalmam a mão em sinal de boa amizade.

Passado esse momento de confraternização, e tendo estabelecido quem seria o ativo a priori, eles passam para a parte complicada da coisa. O ânus, principalmente de alguém que nunca fez sexo anal, é muito apertado e de difícil penetração. Dado então que a penetração exige um pouco mais de esforço. Tal é implícito, no vídeo, pela dificuldade que eles têm em encaixar o CD no Console. Mas não se iluda, pois não passa de uma representação simbólica sobre o momento em que eles estão tentando enfiar o nabo no brioco:

_Enfia dentro! Enfia! Enfia DEN-TRO!

Uma vez que o ato sexual se inicia, os gemidos e gritos dos dois companheiros resumem e explicitam muito bem a natureza do VERDADEIRO ato representado no vídeo. Sério, depois de toda essa explicação, eu preciso falar qualquer outra coisa?



Eu sei o que podem estar pensando. "Gunter, dias sem publicar nada, e você só tem ISSO a nos oferecer? Sexo Anal e Vídeo Games?". Ah, meus caros leitores. Vocês precisam compreender que grande parte dos meus textos fazem parte de um cenário muito maior. Um cenário que não pode ser descrito de maneira tão pontual, ou senão, eu deveria de abrir mão do blog e escrever um livro para cada grande tema que eu pretendo desenvolver. Por mais estranho que pareça, esse vídeo, seguido dessa análise, fazem parte da minha meta de avaliar traços de inversão de valores hipócritas em uma sociedade que cultua o falo como símbolo maior. Enfim, até o próximo texto!