"É preciso a coragem de ser um caos para gerar uma estrela dançarina." - F. Nietzche.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Kabbalah Internáutica

Imagine uma heresia. Imagine uma heresia pior ainda. Esse texto, é a pior das heresias que eu poderia escrever. Ele tem propósitos estritamente humorísticos e zueiros. Se você não tem familiaridade com os conceitos aqui apresentados, você provavelmente vai boiar, ou vai apreciar uma viagem sem pé ou cabeça. É o passa-tempo dos Magos Caóticos, criar sistemas baseados em outros sistemas mágicos, só pela razão da zueira. Também serve como um bom exercício, mas para tanto, eu deixo que vocês julguem a minha obra. Introduzo, pois, a:

KABBALAH INTERNÁUTICA


Já pararam para perceber como a internet parece ter se desenvolvido de modo a compor uma realidade paralela à nossa? É com esse pensamento na cabeça que eu pensei que seria possível criar toda uma teologia e, até mesmo, uma Kabbalah especificamente apropriada para lidar com o universo online.
Desenho feito inteiramente no GeoGebra e no Paint. Sim, heresia!

Matrix ou Source (Matriz ou Fonte): É o conceito primordial. É a rede na sua dimensão mais transcendental. Sem ela, a internet não existiria. E de forma ambivalente, ela não existiria sem a internet. Você conhece esse conceito como 'www' (World Wide Web).

Codex (Código): É o componente da linguagem de programação. Muito presente e necessário para estruturar o mundo internáutico. Todo sistema informático precisa da sua linguagem por meio do qual os comandos são abstraídos e aplicados.

Criptex (Criptografia): Se em Codex, o código necessário para se estruturar a internet foi gerado, com Criptex, ele encontra um caminho seguro para se disseminar. Toda a informação transita na rede (Matrix) em segurança por conta da codificação.

Server (Servidor): A rede é extensa, sim. Mas para que os sites e os serviços possam estar disponíveis 100% do tempo (ou, pelo menos, na maior parte do tempo), são necessários servidores, ou seja, provedores de internet para manter esse sites no ar, acessíveis.

Firewall (Barreira de Fogo): Como nem tudo são flores, muitos são os sites que estão na rede, mas muitos deles representam enorme risco para os usuários e seus terminais. Se em Server é dada a oportunidade para que os sites e os usuários usufruam da graça da rede (Matrix), é em Firewall que eles são podados e avaliados de acordo com seu grau de periculosidade. Se necessário, Firewall barra o acesso a determinados sites, e também protege os terminais de certas invasões.

Internet: É aqui onde tudo se consolida. Não haveria sentido a criação de uma estrutura tão elaborada e complexa como a demonstrada nas esferas superiores à essa, se não fosse pelo advento da própria Internet. A diferença entre o que chamo aqui de "internet", e o conceito de rede em Matrix, é que aqui ela ganha vida, personalidade. A Matrix é tão ideal que chega a ser quase imaterial. A Internet é imbuída de personalidade, subjetividade e uma identificação com seu usuário.

Amusing (Divertimento): Se a internet só existisse para ser acessada e contemplada, qual seria a graça? Amusing representa o aspecto celebrativo e divertido da Internet. Ou seja, ela representa os vídeos de gatinho, os sites de humor, os memes e toda a "cultura internáutica", com todo seu linguajar que só parece funcionar apropriadamente dentro da mesma.

Um exemplo da complexidade de WWW ou Matrix
Instruct (Instrução): Esse é o aspecto educador, elucidante e informativo da internet. Útil para pesquisas e trocas de saber. Também é, algumas vezes, contaminadas com o fator humano da soberba e da necessidade de se fazer superior ao outro. Mas no geral, é expressa de forma livre e quase despretensiosa .(pelo menos assim, é preferível enxergar-la assim. Não vou tratar aqui do aspecto essencialmente negativo da internet, pois essa daria OUTRA "árvore", vocês sabem de qual estou falando)

Interface: É essa que você encara, agora. A imagem, a forma como a internet se fantasia para se apresentar a você. Páginas ordenadas, letras, números, tabelas. É a esfera do "design de web". Sim, o mundo virtual é muito diferente do modo como ele é apresentado no seu monitor. Interface é como um Manto de Maia da internet, pois ele permite que você observe as informações quase intragavelmente desordenadas da Internet de forma ordenada e estética.

Terminal: É o seu próprio computador. O componente mais físico da história toda. É o hardware. É também, em parte, a forma como a Internet influência no nosso mundo real. A forma como ela modifica as nossas interações sociais. É a ponte entre o "mundo virtual" e o "mundo real". Uns dizem que o Terminal é como a Matrix do mundo real, ou que a Matrix é o Terminal do mundo internáutico. Mas eu prefiro não me aprofundar nisso para não confundir demais.

Não é exatamente uma proposta tão ambiciosa quanto a do Cyberxamanismo, mas não é difícil imaginar as implicações dessas conceitualizações. Já imaginou que tipo de análise se encaixaria para os caminhos entre as esferas? E o que dizer sobre a Sagrada Matemática dos números binários? Ou ainda, a manipulação matemática com a correspondência em octal de cada caractere? As possibilidades são múltiplas, mas o meu papel de trollar com os outros sistemas mágicos termina aqui. Até a próxima! 
Já imaginou fazer uma cruz kabbalística online? Ou um ritual do banimento no seu site?

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

The Nu Project

Alerta aos navegantes! Conteúdo explícito à vista! E eu não trago apenas corpos nus para o cardápio, mas corpos de VERDADE. Sim, nada de maquiagem, plástica, retoques digitais ou exigências dos valores culturais. Um ensaio que busca captar a beleza natural e real das mulheres (e alguns parceiros), ao invés de reforçar a imagem de corpos ideais e padronizados.


Traduzindo do próprio site Militância Erótica:

"The Nu Project retrata a beleza das mulheres na sua forma mais perfeita e honesta. Sem glamour, pouca maquiagem e naturalidade, as mulheres de diferentes idades, raças, religiões e nacionalidades, que posaram com orgulho e coragem, revelando as histórias que contam seus corpos."

Focault bem comentava, sobre a tolerância da sociedade em relação à exposição erótica: "Fique nu... mas seja magro, bonito e bronzeado!" (1977: 147). Como eu adoro subversão, irreverência e qualquer forma de arte que desvende realidades veladas, ai está, uma simples publicação sobre um excelente ensaio fotográfico. Aproveitem e acessem aqui, para todas as fotos. Obrigado!

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Teologia e Informática (1)

A ideia veio quando eu tentei explicar o meu conceito sobre Deus para um amigo. Ocorre que, como alguns adeptos mencionam: "Se você conhece Deus, você não precisa explica-lo. Se você busca explica-lo demais, é por que não o conhece." Não é um texto religioso, nem tanto teológico. É algo mais filosófico mesmo. Não tenha medo, eu o convido a dar um passo adentro do MEU mundo, e conhecer uma das minhas analogias mais pretensiosas: Explicar o universo, a criação, a existência e o divino, utilizando de termos da informática!
E se, e se... mas será?!
Olhe para você ai, lendo esse texto. Onde está o seu corpo? Onde está a sua mente? Antes que eu te chamasse atenção, você estava plenamente ciente da posição do seu corpo? Onde está o seu pé direito? Tem mais alguém próximo de você? Está ciente do ambiente ao seu redor, ou está tão concentrado em fatores exteriores à sua própria percepção sensorial, que você anulou grande parte das informações que te rodeiam só para ler esse texto?

Pode parecer uma brincadeira boba, mas muito provavelmente você ainda tem pouca (ou nenhuma) consciência das forças e relações que te mantém conectado, não só ao seu corpo, mas ao ambiente no qual está e, já acelerando o passo, conectado a todo o universo! As curiosas descobertas da mecânica quântica evidenciam que toda as partículas, toda a matéria está, de algum modo, conectada. São as supercordas. A ilusão de materialidade que nós temos, advém dessa percepção de um mundo concreto e sólido. Tão pouco sabemos o modo como o universo está, a todo instante, à beira de um colapso. Tudo pode deixar de existir de um instante para o outro, basta uma ideia errada, basta que alguma dessas cordas se "rompa" liberando uma energia absurdamente elevada.

Energia, ligações, cordas... Nossa matéria, bem como nossas mentes, compõe parte de uma complexa rede metafísica. É aqui que entra a nossa analogia. Com os avanços da informática, os sistemas computacionais poderão algum dia simular a realidade. E brincando com essa possibilidade, imagine como seria fazer parte de uma realidade simulada por um computador? 
Escolha seu personagem e embarque na aventura!
Você é agora inteiramente composto de bits. Tem uma rotina própria e um algoritmo preparado para se adaptar a eventualidades. Você tem pouco, senão, nenhuma ciência sobre o fato de que você não é real! Mas espere, você não é real? O que será que pode ser considerado autenticamente real ou não? Você sente fome, você sente calor. Você conversa, você se relaciona. Você trabalha, você constrói carreira. Você tem órgãos internos. Você tem de ser real, não é verdade? (Eu recomendo fortemente não ignorar o vídeo, se possível)
 Enquanto cidadão no mundo informático, você não é muito mais do que bits no hard-drive. Você está limitado (sem conhecimento disso) por um conjunto de parâmetros determinados por aqueles que programaram o mundo no qual vive (incluindo você mesmo). Na maior parte do tempo, você simplesmente responde a estímulos (códigos de entrada), e emite resultados baseados em experiência anteriores (database). Você não é nada além de informação que interage com outras informações que são feitas da mesma matéria que você. São meros dígitos no terminal de um computador.

Essa perspectiva te assustou? Eu ainda nem abordei a ideia mais perturbadora. Imagine que você seja um avatar de um MMORPG. Isso implicaria que algum usuário o utilizaria para interagir com outros jogadores por meio dos avatares deles. Você não seria nada além de um veículo para esse navegador do mundo virtual. Você não tem tanta liberdade ou autonomia quanto acredita ter. Na maior parte do tempo, você é movido por estímulos de origem desconhecida. Isso quando você não assume exatamente a personalidade daquele que te manipula (e essas são raras exceções, pois na maior parte do tempo é ELE que está identificado dentro da SUA roupagem).

Vamos lá, você já jogou um MMORPG? Se coloque novamente na posição que você está habituado. Seja você o usuário que utiliza do avatar para se comunicar e interagir com outros usuários. Quantas vezes você não esteve tão imerso no personagem a ponto de se esquecer de você mesmo? Novamente, onde está o seu corpo? Em qual posição ele se encontra? Você perdeu a concentração outra vez, não é verdade? Se esqueceu no ambiente que te rodeia. Sim, isso é muito usual. Você transfere a sua mente para outro lugar no espaço-tempo, senão para você mesmo. É justamente o que acontece entre o Avatar Online e seu Usuário. O usuário, na maior parte do tempo, se esquece de que ele não é o seu avatar e, por se identificar com ele, esquece de si mesmo.

Você é o seu avatar! Já pensou por esse lado? Já imaginou se, por um obséquio, seu corpo funciona exatamente como funciona um boneco de MMORPG? Se tal é o caso, quem é o usuário? Algo anterior ao seu próprio corpo físico. Por quantas vezes (caso já seja meu leitor) você não me viu mencionar uma tal de Consciência? Aquilo que observa, aquilo que está anterior até mesmo ao pensamento. Pois o pensamento faz parte do algoritmo de programação que vem junto com esse corpo material. A linguagem, seja matemática, seja semântica, é produto cultural do homem. A linguagem mais natural do universo, é o silêncio (por isso monges meditam).
Se pudéssemos ver o mundo como ele de fato é, não veríamos nada, mas sentiríamos tudo!
Mudemos o parâmetro. Imagine agora que você, a nível de consciência,é como um terminal ligado à internet. Nessa situação, aquilo que eu chamo de Deus, seria a própria internet. Mas agora você vem e argumenta muito coerentemente:

"A internet não existe! Ela não é um objeto, ou algo específico e diferenciado a que podemos chamar de internet. A internet é a conexão entre os múltiplos computadores! Sem os computadores conectados entre si, a internet não existiria!"

Excelente definição para o que é a internet, bem como também, descrição do que EU denomino, Deus. Se estamos todos interconectados, a malha que liga todas as nossas Consciências é o próprio Deus. A Grande Face, seria composta pode todas as outras menores faces, em um enorme mosaico (à la Leviatã de Thomas Hobbes). A mente Dele, é a junção de todas as nossas mentes. Quantas são essas no total? 7 bilhões de mentes? Oh, não, isso é assunto para uma prosa ainda mais longa! A mente Dele, é do tamanho do universo inteiro!

Isso significaria que a nível de Consciência, estamos todos interligados. Qualquer ponto do universo pode ser usado como referencial para o centro do universo. De qualquer ponto do espaço-tempo você é capaz de acessar qualquer outro ponto. Tem ideia do que esses fatos curiosos da ciência implicam? Exige sim, um nível de abstração aquém do normal, mas com algum esforço e dedicação, a imagem que se forma é de tirar o fôlego!
Para uma primeira abordagem, esse texto ficou até muito longo! No próximo, eu pretendo abordar o modo como a nossa realidade se comporta, por que raramente percebemos a ilusão da materialidade e ainda como fazer para zuar com o "código fonte" do universo! Boa noite.

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Por que Matemática?

O PENTAGRAMA:
Quem me conhece pessoalmente a pelo menos mais de um ano, já deve ter me visto, alguma vez, usando um pentagrama quase do tamanho de um prato. Combina com uma preto básico (que eu adoro usar para sair à noite com os amigos). Costumeiramente, confundem com a Estrela de Davi (ainda que quando o hexagrama inscrito em um círculo seja, na realidade, o Selo de Salomão, mas enfim). As pessoas me param na rua, no bar, na balada e me perguntam o que significa, por que eu uso... A minha resposta varia, mas eu geralmente transito entre algumas respostas padrão:

1. Foi para te chamar atenção, a ponto de você criar coragem e vir falar comigo usando o pentagrama como quebra gelo. (abordagem geralmente acompanhada de uma piscadela e um sorriso - só pras gatinhas)

2. É um símbolo humanista, pois representa o homem e seus cinco membros: uma cabeça, dois braços, duas pernas. É um símbolo de valorização do homem, e tudo mais, e tals...
Ignore os símbolos alquímicos em torno do... ignore os símbolos!
3. É um símbolo matemático, pois se você pegar o tamanho da aresta do pentágono formado pelas pontas e dividir pelo tamanho da aresta do pentágono formado pelas intersecções, o resultado é o quadrado do número áureo.
Todas essas respostas têm algum fundo de verdade, tanto no sentido de representarem algo concreto, (como o fato das gatinhas gamarem no meu pentagrama), quanto no de servirem como justificativas parciais para o fato de eu usar um pentagrama no pescoço. Qualquer um que me conhece profundamente, sabe que essas são, no geral, desculpas que eu uso para não falar dos significados mais profundos que eu atribuo a esse símbolo, massss... Hoje eu não vim falar de magia nem coisa do capiroto. Mentira, eu vim falar disso sim!, pois eu não conheço área do conhecimento que seja mais mágica do que a Matemática!

O QUE É MATEMÁTICA?

Voltando ao pentagrama, ele era símbolo de uma ordem mística fundada por Pitágoras, e eles utilizavam o pentagrama para se identificarem entre si. Reunidos, eles estudavam os curiosos padrões sobre as proporções divinas na matemática, no pentagrama, na música e discutiam muito sobre geometria. A matemática era cultuada como uma ciência sagrada, divinatória, algo transcendental e esotérico.

Mas o que de fato é a matemática? O que significa ser um matemático? Do grego arcaico, matemática significa ciência, conhecimento, aprendizado. Enquanto matemático, significa amigo do conhecimento. E não para menos, a matemática é uma ciência que foi se modernizando enquanto linguagem e, enquanto aplicação, ela já era praticada muito antes de ser formalizada.
Não se intimide com os símbolos, eles estão aí para facilitar o entendimento, não dificultar!

É muito recorrente contar-se histórias sobre o princípio da contagem, com os cálculos (pedras) como uso primitivo das relações de grandeza. Mas eu penso que esse recorte já está um pouco ultrapassado, principalmente em relação às concepções mais modernas sobre o que é matemática. Para mim, matemática é a ciência do pensamento crítico, é a ciência da racionalidade. Uns diriam que essa é a filosofia, mas aqui entra um mal compreendido muito comum: Filosofia, é a ciência do questionamento, quer ele seja crítico, metódico ou não. Quando você questiona o ambiente à sua volta, você está sendo filosófico. Quando você tentar encontrar respostas ou explicações para o mesmo, você está sendo matemático!

"Mas calma ai, o papel de buscar responder e explicar a realidade é da ciência!"

Ciência, você diz? Conheça seu pai e a sua mãe. A filosofia e a matemática! As duas, combinadas, são mães de todas as ciências. Eu disse, todas a ciências. As ciências jurídicas, as ciências humanas, as ciências exatas, as ciências científicas, enfim... A matemática e a filosofia se intercomunicam, de modo que, por vezes, é quase impossível distinguir o que pertence ao território de uma ou de outra. Mas o fato é esse, a matemática é mãe de todo o conhecimento!

Matemática é a ciência dos padrões. Então, tudo o que depende de uma padronização, organização, ordenação, um conjunto de parâmetros pré-estabelecidos, regras, sistemas... tudo isso, bebe da matemática. No português, a regras gramaticais foram pautadas baseadas em estudos relacionados a padrões linguísticos. Se eu escrever:

"aouferovbeoiuvbeaovusnocvksdmadffoksnvb0erhvboeranhvsxak"

Eu comuniquei alguma coisa? Eu escrevi letras aleatoriamente. Literalmente, eu passei os dedos pelo teclado sem nenhum critério. É possível chamar de vocábulo o que eu escrevi ali? Certamente que não. Pois existem diversos parâmetros na língua portuguesa, até mesmo para o que tange aos neologismos. Beleza então, eu só preciso me preocupar em utilizar palavras para comunicar uma mensagem clara, é isso?

"de no do o e caiu cara chão palco metaleiro espatifou bêbado"

Outra vez, eu comuniquei uma mensagem clara? Seria possível extrair um sentido claro dessa frase, apenas pela maneira como ela foi posta? Seria possível supor um sentido para a frase? Para tanto, eu vou colocar ela no seu formato original:

"O metaleiro bêbado caiu do palco e espatifou de cara no chão"

É possível que, por um obséquio, você tenha adivinhado que o sentido da frase era exatamente esse, mas tenho certeza que a mensagem não se fez clara desde o início. Afinal, no português, existem regras sobre o modo como as palavras devem ser ordenadas para que o sentido, não apenas das palavras, mas da frase e do seu contexto seja compreensíveis ao interlocutor.

Assim é com a matemática. O que as pessoas geralmente confundem, é pensar que a matemática está restrita ao seu linguajar matemático. A matemática, para que se tornasse uma linguagem universal, precisou adotar convenções, símbolos próprios, métodos e modelos lógicos para que pudesse ser desenvolvida a trabalhada. A matemática é também uma forma de linguagem, é uma forma de se enxergar o mundo!

A MATEMÁTICA TEM UMA LINGUAGEM PRÓPRIA. MAS DOMINAR OU NÃO ESSA LINGUAGEM, NÃO TE IMPEDE DE DESENVOLVER O RACIOCÍNIO MATEMÁTICO.

Lógica, racionalidade, senso crítico. Eu volto a bater nessa tecla. Matemática, tem muito mais haver com pensar fora da caixa, do que pensar de forma estrita, ordenada, ou viver a repetir procedimentos de forma viciada e irracional. Por certo período, a escola reproduziu um sistema que colocou a matemática em um patamar muito distante da realidade cotidiana dos alunos e dos cidadãos. Desse modo, o conhecimento matemático ficou alienado de si mesmo, pois os alunos se empenhavam para aprender a reproduzir fórmulas e processos os quais eles não compreendiam em sua natureza, essência e fundamento prático.

Tem muitas pessoas que tem uma mente muito boa para raciocinar, pensar, questionar... Contudo, ingenuamente afirmam que não gostam ou não entendem de matemática por que não se dão bem com números. Eu repito, não é necessário dominar a linguagem matemática para desenvolver o pensamento crítico, mas pode ter certeza que exercer pensamento crítico, significa ser matemático.

Desse modo, eu acabei respondendo por tabela meu segundo questionamento: O que significa ser um matemático? Para mim, significa ser um curioso incorrigível. Significa ser sedento por conhecimento. Significa ser alguém que buscar formas diferentes de pensar, questionar e, não bastando, propõem soluções diferentes para os problemas que muitos vivem a querer empurrar as mesmas fórmulas, ultrapassadas. Ser matemático significa manter a mente aberta, mas sem perder o norte do que se pretende encontrar.

Pensa que a minha visão é muito romântica? Talvez seja, mas qual seria o sentido de me envolver se não for para me lambuzar? Sou um apaixonado pelo conhecimento, não é por pouco que escolhi cursar matemática. Até a próxima!

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Os grupos 'Black Bloc' e seus representantes

Leia o título outra vez. Você não leu errado, fui eu que escrevi uma afirmação retardada de propósito. Se você entende o que tem de errado com afirmação do título, ótimo, senão, é com você mesmo que eu quero conversar! (mas não apenas)
Eu tó vendo essa zueira ai, fera!

CONSCIÊNCIA COLETIVA < VS > CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL:

A racionalidade e o senso crítico são qualidades que só podem ser atribuídas ao indivíduo, nunca ao coletivo. A coletividade massificada é sempre irracional. O çeRUmano, ao assumir comportamentos por conta da coerção social, ou seja, quando ele se torna um  mero reprodutor de comportamentos transmitidos e reproduzidos por um grupo, ele não é muito mais inteligente que uma pedra que cai do barranco por ser isso o que todas as pedras fazem.

Cito aqui, a revolução francesa enquanto exemplo clássico de uma massa que fez algo que não entendia. Historiadores comprovam que a Revolução Francesa aconteceu de modo tal, que 99% de seus participantes foram simplesmente "aderindo" a uma agitação cujos fundamentos desconheciam e acabaram provocando uma revolução cega, colocando mais tarde no poder a tão detestada (pelos progressistas) burguesia.

A Consciência Coletiva tem o objetivo de automatizar o comportamento humano. Macaco vê, macaco imita. O Behevionismo materialista resume o homem a produto absoluto das relações sociais e às influências ambientais. Mas e a capacidade de questionar e criticar os modelos vigentes? Essas, estão ausentes no campo da sociologia clássica, e eu já escrevi uma dúzia de vezes aqui no blog as minhas críticas quanto a esse modelo filosófico.

Não basta transformar o ambiente de forma mecânica, nem mesmo buscar criar autômatos eficientes nas "lutas sociais". Caso alguém queira brigar por direitos, a melhor solução é se manter ausente de grupos e mais presente em ações.

Ninguém tem necessidade de se taxar como pertencente a um grupo x ou y, para contribuir com alguma causa. Você não precisa se intitular "defensor dos animais", você só precisa trabalhar de forma efetiva nesse sentido. Essa militância de facebook, que ilude as pessoas fazendo elas pensarem que só por elas militarem na internet elas estão contribuindo para combater o machismo, ou qualquer outra porcaria do tipo, está servindo, muitas vezes, como um tiro pela culatra.

Assim como os conspiracionistas que passam 10 horas por dia assistindo vídeos de mensagens subliminares e palestras do David Ike com intenção de se manterem à prova de alienação e manipulação; pertencer a um grupo ativista pode ser a PIOR escolha de quem quer, efetivamente, defender uma causa ou ideal.



A PSEUDO-GUERRA INTELECTUAL:

Quando tudo se resume a concordar ou discordar integralmente de uma corrente filosófica. Quando discordâncias intelectuais são brechas para - ou sinônimos de - ofensas pessoais, a racionalidade se faz ausente, o debate livre vira bagunça.

Quando tudo acaba se resumindo a rivalidades de grupos, acontece como se observa no comportamento entre a esquerda e a direita política. Não existe mais dialogo, existe troca de insultos e gritos exaltados de inconformidade e indignação. A posição contrária é sempre repugnante ou fascista. Os direitistas chamam os esquerdistas de fascistas, e vice versa. Quem está certo? Provavelmente os dois, ou melhor, nenhum dos dois!

Quando você se rotula como pertencente a um grupo, ocorrem duas coisas:

1. Todos aqueles com quem você conversar sobre referido assunto, vão presumir um conjunto de valores e ideias que vêm acompanhados na opinião público sobre o rótulo referido. Ou seja, se eu me considerar um feminista, anarquista, esquerdista, as pessoas vão pressupor que eu defendo toda e qualquer ideia divulgada em nome dessas correntes filosóficas.

2. Você passará a adequar seu corpo ideológico para se ajustar cada vez mais à ideias que presumidamente pertencem àquela corrente ideológica. Se você se considera um liberal, vai se sentir, inconscientemente, forçado a aceitar todas as ideias consideradas liberais.

A partir do momento em que você entrega o seu senso crítico na mão de um GRUPO, você gradualmente se aliena da sua capacidade de criticar as ideias daquele grupo de forma racional. Quando você passa a se conectar com as ideias de forma emocional, você está sujeito a entrar em contradições e inconsistências lógicas, perdendo território intelectual nas discussões e debates.

Quando você vincula a sua causa a um grupo composto por um número consideravelmente grande de pessoas, você corre o risco de ter sua causa prejudicada por conta de atitudes particularizadas. Basta um qualquer cometer atrocidades ou falar asneiras em nome da SUA causa e, SIM, isso prejudica a sua causa, pois afasta outras pessoas da mesma. Não é a toa que o feminismo foi tão vulgarizado e é alvo de tanta chacota e preconceito intelectual. Quem critica o movimento feminista, tem respaldo nas ações de grupos como o FEMEM. Quem critica a causa LGBTT, encontra respaldo na atitude de grupos extremistas. SIM, tudo isso PREJUDICA SIM!

É UMA QUESTÃO DE LOOBY!

Quanto vale uma ideia? Qual é o preço de se promover uma revolução? Alguns querem pegar em armas, outros gostam dos holofotes na hora H, outros preferem chocar a sociedade com suas atitudes escandalosas. Mas qual é a efetividade dessas ações?

É uma questão de conscientização e não uma situação de guerrilha. Xingar um ou outro comentarista internauta de machista, é uma clara demonstração - não apenas de infantilidade - de inconsistência e desconhecimento de causa. Quem realmente entende o que é o machismo e o feminismo, se isenta desse tipo de atitude, pois na prática entende que:

1. Em uma sociedade machista, todos somos machistas;

2. Rotular o outro da machista não contribui em nada, trazer argumentos de forma clara e coesa, tem mais chance de fazer o sujeito cair na real, gradualmente, do que colocar ele em posição de confronto pessoal;

Nenhuma (e eu me permito a generalização aqui) pessoa muda de opinião com um dedo apontado na cara dizendo que ela está errada e ponto final. Se vocês querem combater o preconceito contra a mulher, contra a diversidade de gêneros, contra a diversidade de comportamentos sexuais, contra os afrodescendentes, contra o escambau a quatro, você precisam entender que é uma questão EDUCACIONAL. Sejam mais didáticos e menos pedantes!

Vídeo exemplificando uma crítica racional à uma atitude ativista que na prática só prejudica à causa:


Eu sei que a sua vontade é de agarrar as pessoas na rua e forçar elas a mudarem de opinião para concordarem com seus ideais. Mas entenda, se você precisa impor a sua forma de pensar no grito de na força, a suas ideias não devem ser tão boas. O papel de impressionar e sensibilizar as pessoas de forma visceral, sensível, ou mesmo truculenta, pertence à ARTE.

Sim, você, artista, tem esse papel. Você, chargista, desenhista, músico, pintor, escultor, escritor, cineasta, grafiteiro, dançarino... SIM, o papel de representar os conflitos sociais, o papel de sensibilizar e causar burburinho, é dos artistas. Principalmente a Contra-Arte e a Contra-Cultura, desempenharam e ainda desempenham esse papel fundamental. A verdadeira educação continuada, na cidadania, se dá por meio da arte/cultura. Portanto, se queremos transformar, gradualmente, a mentalidade de uma sociedade, precisamos investir em cultura de protesto, cultura de inconformidade. Rock, Punk e Metal já foram (ou ainda são) gêneros ícones dessa luta travada por meio da cultura, não vamos deixar eles morrerem!

De resto, é preciso ter paciência. Muita paciência. Entenda que, você mesmo, provavelmente precisou de anos para gradualmente transformar a sua forma de pensar para defender as ideias que defende hoje. E então deve entender que existam outras pessoas que estão em situação em que, ao invés do seu ódio e fúria e aversão, elas precisam da sua paciência para aos poucos elucida-la.
Quem foi que você chamou de quatro olhos?

E OS BLACK BLOC'S?!

Não são um grupo, não têm representantes oficiais, não têm líderes, não têm hierarquia. O black bloc não tem integrantes, não tem uma pauta estrita de exigências. O Black Bloc é um conceito, uma ideia, uma tática de protesto. É uma forma de defender a população da violência e truculência da polícia (principalmente a PM) nos protestos. O Black Bloc não é um objeto, mas um evento.

O black block não existe, ele tão simplesmente ocorre durante os protestos. Vândalos? Depende do referencial. Eu prefiro considerar as táticas do black block como ações efetivas. Protestar é uma forma eficaz e legítima de se inferir na realidade de forma transformadora.

O Black Bloc, enquanto evento, se caracteriza como um coletivo de individualidades. Conscientes dos ideais que suportam, eles aceitam assumir um caráter coletivo para adquirir força e coesão. Um homem de preto em frente à multidão, é tão simplesmente um homem de preto em frente à multidão. Uma multidão de preto, disposta a confrontar a polícia e defender a população da truculência policial, é o Black Bloc.

A intenção é clara, a ação é coesa e consciente. Uma vez reunidos em torno de ideias que cada participante do evento assimilou de forma individual e racional, a prática se faz de forma massificada (agregadora, coesa, fortalecida). Ao contrário do que ocorre quando indivíduos assumem comportamentos individualizados por terem assimilado valores massificados.

Arte, Virgindade e os Estigmas

Aquele momento quando uma reportagem de um tabloide britânico é tão preconceituoso quanto um web-noticiário brasileiro:

Gay art student sparks outrage with plan to lose his virginity in front of audience of 100 then hold a question and answer session afterwards

Universitário vai perder virgindade anal em performance artística

(Leiam as duas notícias, se possível. Eu não vou me ocupar em copiar e colar as informações aqui, vou simplesmente debater o tema, OK?)

"Gay art student".. "estudante de arte gay", ou "estudante de arte, gay"? A diferenciação no tratamento já começa pelo título. Em um, o estudante, antes de qualquer outra coisa, é GAY. Na outra notícia, ele é, antes de tudo, um universitário. Em uma, ele vai perder a virgindade (sem rótulos à prática), na outra, ele vai perder especificamente a virgindade anal.

É fácil perder o foco ou o tema que está realmente em jogo com notícias como essa. Estudante, jovem, GAY, universitário, sexo ANAL, estudante de arte, GAY... Oh, é claro, e a VIRGINDADE.

Considerações:

1. Toda forma de expressão e arte deve ser livre de censura ou tabu. Se ele quer fazer o primeiro sexo anal de sua vida em frente a 50-100 pessoas, tal enquanto fato não deveria ser razão de censura ou crítica. É a vontade dele e, nesse sentido, ele merece respeito.

2. O tema a respeito da virgindade é um tema interessante e contemporâneo. Criou-se um estigma em torno da ideia de que pessoas sexualmente virgens, têm algo de especial ou debilitante. No caso, assume-se ou como um valor de moralidade maior (geralmente atribuído às mulheres virgens), ou representa uma debilidade social (no caso, para a maioria dos homens virgens com idade superior à que se consideraria desejado para que o homem já tivesse tido no mínimo sua primeira experiência sexual).

3. Arte, enquanto arte, já não admite ser contestada em relação à sua natureza, mas pode ter seu rigor, qualidade, ou primor artístico contestado e avaliado. Ainda não é possível dizer que qualquer coisa é arte, pois enquanto processo de produção artística e cultural, a prática humana precisa estar imbuída de teoria. Se você faz qualquer coisa e exige o rótulo de arte para o seu feito, é bom você ter uma base teórica muito boa para defender a posição da sua prática enquanto arte.

E AÍ SEGUE QUE...

Um parâmetro interessante para testar a real repercussão da ideia desse estudante é substituir o sujeito por outro: E se fosse uma mulher, estudante de arte, 19 anos, que decidisse perder a virgindade em palco, para depois gerar uma discussão sobre o ato? As pessoas encarariam a notícia com outros olhos? Evidentemente que sim, pois o estigma que tomaria lugar da discussão em relação à virgindade, seria o estigma em relação à mulher (e não em relação ao homossexual, como no caso de Clayton). Se Clayton é o viadinho que quer queimar a rosca, a mulher quer chamar a atenção colocando a própria virgindade a preço e exibição (como no caso da nossa amiga Catarina Migliorini).

Ok, vamos mudar o sujeito outra vez. Homem, heterossexual cis-gênero, estudante de arte, 19 anos. Vai perder a virgindade em palco com uma amiga. Talvez aí, tem-se  a possibilidade de colocar em destaque a questão da virgindade. Afinal, é um homem, não bastando, um homem VIRGEM. Vai valer aqui, o estigma do virjão, do impotente, e assim o tema da virgindade ganharia ainda maior potencia!

O debate sugerido é esse. Perder a virgindade te torna alguém diferente? Muda em algum sentido a sua relação com outra pessoa? Afeta a sua vida de forma significativa? É distinguível, a olho nu (mas não com o sujeito desnudo), mudanças sensíveis no aspecto físico, psicológico, social, político ou biológico?

TER FEITO SEXO OU NÃO, FAZ DE VOCÊ ALGUÉM DIFERENTE DE QUEM ERA ANTES?

A discussão é interessante, sim. Já a proposta de intervenção artística idealizada por Clayton, eu não tenho muita certeza. Ele precisaria me apresentar uma monografia detalhando referências teóricas, com uma argumentação muito forte para me justificar uma simples performance sexual como sendo uma performance artística.

Talvez seja preconceito meu. Talvez não seja uma simples performance sexual. Talvez ele coloque umas luzes de neon no palco. Talvez ele coloque uma música de fundo bem dramática. Alguma sinfonia que comece serena e suave, até que no momento da penetração venham os trompetes e os graves fortes, combinando com a expressão de mais indignavelmente dor que Clayton fará nesse momento. As subjacentes idas e vindas de seu parceiro poderiam vir acompanhadas de notas de violino, bem ao modelo Tubarão. Até que a coisa fique mais agitada. Uma vez relaxado, Clayton mudará sua expressão, e então virão os orgasmos. Espasmos de notas agudas e eloquentes marteladas no prato e, mais um gemido e, o prato vibra outra vez... Enfim.

O ato e o tema já foram afirmados, ok. Questionável enquanto qualidade ou primor artístico, será o modo como Clayton irá elaborar a sua ideia. Conceitualmente, a proposta é boa, mas a aplicação ainda corre sérios riscos de deixar muito a desejar, em termos de arte e, por que não apontar, em termos de arte erótica? Abraços leitores!