"É preciso a coragem de ser um caos para gerar uma estrela dançarina." - F. Nietzche.

domingo, 14 de junho de 2015

Reação em Cadeia



No dia seguinte, todos os jornais liam a mesma manchete: “Foi aprovada a lei do Eletrochoque Compulsório!” Medida inédita naquele país, muitos foram os questionamentos quanto à constitucionalidade de tal lei, mas nada pôde impedir a sua instauração. “Passou no congresso, está aprovada”, bradaram alguns.

Todo cidadão a partir dos dezoito anos – opcional a partir dos sessenta anos – deverá dirigir-se diariamente a um posto policial para receber uma descarga elétrica de trezentos volts. Aqueles que se recusarem a comparecer para a aplicação da “injeção”, serão multados em relação ao acumulo de faltas. Extrapolando o limite de dez faltas mensais, além da multa, o meliante arriscará passar um dia na delegacia, como medida de advertência. Para o caso de recorrência ou, se persistir a abster-se das descargas flagelantes, o cidadão será conduzido ao julgamento, arriscando ser detido por períodos que variam de três meses a cinco anos.

A opinião pública recebeu mal essa notícia. Afinal, quem, em sã consciência, enfrentaria uma fila gigante para cumprir suas obrigações cidadãs de levar um choque?!  Os jornais de oposição apontam para a má administração do partido da situação, que permitiu que tal medida fosse aprovada no congresso, sem antes, consultar a opinião pública: “Eles não querem diálogo!”, reclamavam. Mídias concorrentes apontavam para o eletrochoque como um recurso de correção e justiça social: “Pela primeira vez em nossa história, ricos, pobres, pardos, homens e mulheres receberam tratamento igualitário e indiscriminado ante o aparelho do Estado. É um marco de igualdade, uma igualdade que representa a opressão sofrida pelas minorias e que, agora, será sentida e vivenciada por todas as camadas da sociedade....”, o melodrama prosseguia sem freio.

Em sua primeira semana de implementação, a inadimplência foi de 80%. As enormes filas em horários de rush dificultavam a aplicação do choque. Afinal, fazia-se necessário um uso de uma aparelhagem especial para certificar a segurança dos cidadãos. A descarga não poderia passar pelo coração, pelo risco de provocar paradas cardíacas.  Com isso, optaram por colocar um cinto condutor na cintura e luvas de metal, para dissipar melhor a descarga sem deixar de infringir, poderosa, DOR! Todo esse equipamento exigia manutenção e higienização entre cada aplicação. O contingente mobilizado para esses desígnios precisou ser reforçado, e isso enfraqueceu a frota de policiais na rua.

Temendo o fracasso da nova Lei e um possível surto de criminalidade, o Presidente convocou uma reunião extraordinária para buscar soluções. Apesar de a receita apontar para um aumento de arrecadação, devido à ausência massiva às “câmaras de choque” – como foram chamados os postos de eletrochoque – o Presidente se preocupava com a sobremobilização das forças policiais. Decidiram, então, dividir o encargo com outros setores estatais, tais como os bombeiros, a marinha, o exército e até mesmo hospitais!

Na semana seguinte, os cidadãos tinham outros postos preparados para atenderem ao choque. Tal, contudo, não sanou o problema das filas enormes, apesar de reduzir a abstenção para 35%. Todos reclamam de ter de buscar as câmaras de choque, fosse antes de ir trabalhar, fosse depois do trabalho. Apenas quem tinha horários alternativos de trabalho e estudo poderia frequentar esses postos e encontrá-los com um fluxo desimpedido.


Os jornais de oposição atacaram novamente: “Os serviços prestados pelo Estado são sempre precários e ineficientes. Deveriam liberar os eletrochoques para a rede privada!”. Em contraparte, outros argumentavam que entregar “a dor do povo” nas mãos dos empresários, seria uma medida ultraje e moralmente reprovável: “Se eles já exploram o trabalhador todos os dias, imagina se tiverem o poder de lhes aplicarem choques? Vão é fazer do choque o novo chicote, como dos tempos da escravatura!”

Todos tinham seus argumentos, mas depois de muita pressão, o governo aprovou uma ementa para permitir que postos privados de choque fossem permitidos. Fixou-se também uma taxa nacional para a cobrança por um eletrochoque. E quem pagaria para receber um choque desses? Quem estivesse disposto a pagar pela comodidade de não enfrentar filas no setor público. Algumas empresas passaram a oferecer o serviço de choque para os seus empregados, descontando em 1% o salário dos trabalhadores que aceitassem aderir a essa “facilidade”. Foi a gota d’água!

Vários sindicatos se mobilizaram para enfrentar com unhas e dentes a medida invasiva do eletrochoque. Queriam o fim de tal medida? Não. Não sonhavam tão alto. A princípio, exigiam que o choque fosse restringido para os dias úteis da semana. Em segundo, exigiam que as empresas deixassem de descontar do salário dos funcionários, pois eles percebiam como essa medida era uma facilidade para o empregador, muito mais do que para o empregado. Afinal, por poderem receber o choque dentro do local de trabalho, eles não precisariam se atrasar, nem sair mas cedo, para receber o choque em um posto oficial do Estado.

Foi uma semana de intensa luta e protesto. Para a vantagem da causa, as forças armadas não puderam mobilizar relevante parte de seu contingente para controlar as manifestações, pois já estavam muito ocupadas, intercambiando entre manter as ruas seguras e aplicar choque nas pessoas.

Uma vez assegurados esses direitos, a luta não interrompeu. Eles pretendiam, agora, diminuir a voltagem do choque para duzentos e vinte volts, bem como, montar uma CPI para fiscalizar os registros dos postos privados de choque. Suspeitava-se que a nata da sociedade estava pagando apenas para que fossem registrados os choques, sem necessariamente receberem a dolorosa descarga em suas carnes.

Atingiram a marca dos duzentos e quinze volts, para além das expectativas! Muito comemoraram o drástico abrandamento da dolorosa obrigação. Quanto às CPIs, em nada resultaram. Contudo, as repartições públicas passaram a adotar a medida das empresas privadas e começaram a aplicar as descargas em seus funcionários.

Depois de cinco meses de choques compulsórios, setores mais radicais dentro do espectro político, ainda desejavam erradicar essa obrigação absurda imposta pelo Estado. Mas eles também almejavam derrubar o próprio Estado, portanto, muitos argumentavam que essa era uma oposição utópica, sem fundamento com a realidade. O hipotético sucesso da medida, que gozava de índices de abstenção cada vez menores – atingindo a invejável marca de 3% de ausências semanais – fez da dor cotidiana um bom negócio em curto prazo, mas um prejuízo a longo alcance.

Suprir com a demanda de tantas descargas elétricas simultâneas quase levou o país a uma crise energética. A conta de luz aumentou, em detrimento dos novos investimentos que se fizeram necessário no setor energético: usinas hidroelétricas, usinas termelétricas, parques eólicos... Uma solução emergencial foi reduzir ainda mais a voltagem das descargas: cento e cinquenta e cinco volts. Além da proposta de diminuir a frequência exigida para os choques, para apenas três vezes por semana. Disfarçaram essa medida como um benefício benevolente, buscando mascarar a crise energética iminente.

Com mais dias livres da obrigação, os sindicatos e movimentos sociais propuseram um esquema de revezamento para receberem choque. Para tanto, passou a permitir-se levar choques aos sábados. Assim, metade de população receberia o choque na segundas, quartas e sextas-feiras; a outra metade ficaria com as terças, quintas e sábados.

O clima de tensão inicial parecia aliviado. Mas não parou por aí. Percebendo a vantagem e a comodidade de não depender de horários ou de filas; surgiram empresas especializadas no ramo dessa obrigação chocante. Passaram a comercializar instalações domiciliares: uma versão caseira das câmaras de choque. Com o preço nas alturas, no primeiro ano de seu lançamento, era um artigo de luxo. Passados três anos, tornou-se comum como um telefone fixo – já era artigo indispensável para toda família brasileira de classe média. Alguns adiavam o sonho de comprar um novo carro, pelo conforto de receber choques dentro de casa, no âmago familiar.

Há de se imaginar que o leitor tome essa narrativa por pitoresca, absurda e ridícula. Quem se submeteria a vergonhosa infâmia de pagar para aplicarem-lhe cargas elevadas de sofrimento sem sentido? Se lhe impressiona essa realidade paralela, acho direto que para o seu juízo, saiba: os habitantes deste país imaginário ficaram abismados ao tomarem conhecimento de que, num outro mundo, pessoas compram aparelhos eletrônicos que emitem luz, deterioram as vistas e conduzem, lentamente, à falência do cérebro, e levam essas máquinas assassinas para dentro de casa.

Cada um com suas incongruências. Boa noite. Passar bem!

terça-feira, 9 de junho de 2015

A Angústia do Real


"A ideia de um conhecimento neutro e objetivo está completamente ultrapassada. Nos dias atuais, descobrir é inseparável de inventar e de criar." - Jorge Luiz Veschi

Duvidar é terrível. Quando a mente encontra-se assim, nua, desprotegida, encarando o mundo real, a tormenta se instala. Nada senão o pensar pode aplacar o seu efeito. Até que outro choque com o real nos traga abaixo, atormentados pela irritante insistência do real.

Desejamos dominar o real por meio da linguagem, mas não creio que exista código rigidamente preparado para essa tarefa. Ao menos, não em valores absolutos. A melhor concepção do real é aquela que não busca firmar autenticidade para o seu discurso, mas humildemente reconhece sua impropriedade ante ao objeto que almeja alcançar.

É um verdadeiro exercício de sincera hipocrisia que cometo em utilizar um código para criticar e apontar sua ineficácia, mas não é esse o verdadeiro valor da linguagem? Discursar sobre seus limites é o melhor que esse sistema, fechado, pode fazer. Falar, eventualmente, torna-se um exercício de tautologia. Uma vez que os valores mais essenciais à definição dos objetos mais elementares do discurso, não passam de ficções da linguagem.

“A verdade não pode ser dita. Se for dita, não é verdade.” – Lao Tzu

Sujeito? Eu? Pressupõe-se, muito etnocentricamente, que existe uma concordância intrínseca à relação símbolo e objeto referido. Como a se a criação do primeiro validasse existência do segundo. A meu ver, isso é pura ingenuidade. O objeto não fala de si, pois sua existência basta. Do contrário, não existiram tantos códigos a lhe atribuir nomes, símbolos e formas pensamento. Todos imprecisos e incongruentes em definir a mais simples verdades, por serem evidentemente as mais intangíveis a uma “objetividade” fracassada de berço.
“O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.” – Alberto Caeiro

Podem me chamar de ingênuo, herege, mas creio que a experiência humana possa transcender a linguagem para além dos códigos em que nos circundamos. Talvez não exista experiência sem linguagem, mas com certeza existem experiências sem nome e que, independente de signos que a descrevam, atingem o e afetam o sujeito.

Se tal, seria essa a salvação tão almejada? A nulidade da mente é a não linguagem? Não tão depressa. A necessidade de compreender a própria experiência é uma das limitações do EGO – ele não sobrevive à ausência de um significado para atribuir-se, para imbuir-se de valor.

É possível que a angústia defronte o real se dê pela perturbação que o real provoca em nosso aparelho anímico, que por sua vez, é incapaz de traduzir a realidade de forma fiel sem afetá-la ou transformá-la. Com isso, a observação de qualquer objeto acarreta na produção do mesmo. E quanto mais nos esforçamos por observar e compreender os diferentes objetos, mais nos distanciamos deles para, por fim, criarmos representações distorcidas do real. Assim nasce o “conhecimento”, a cultura, o saber secular.

Cruelmente, é assim que encerro a minha prosa: vazia de sentido e de perspectivas. Pois é assim que escolhi encarar o eterno confronto com o real, assumindo a inevitável derrota. Muito provavelmente, esse é apenas outro julgamento temporário, uma conclusão a que me dirigi por meio da “lógica” e, portanto, que passou pelo mesmo prisma da razão e do conhecimento distorcido sobre o real a que me dediquei a dissertar aqui. Que mais posso fazer?

“O que é Deus senão o homem observando a força do Kaos? Para ele nada é verdadeiro; tudo é permitido. Ali não há propósitos em sua existência; ele é um livro para escolher a si mesmo.” – Petter Carrol

terça-feira, 17 de junho de 2014

A Ontologia do Poder

Eu entorto a boca, o nariz e o olhar, toda vez que escuto alguém dizendo que a Anarquia é um sonho utópico e impossível. Atestam que em nenhum momento da história o homem conseguiu viver e conviver sem a presença do controle de alguma instituição como o governo, o estado, religião ou qualquer outra estrutura hierárquica. Eu gostaria de falar uma ou duas coisas sobre Utopia em resposta a estes.

Todos os inventos de engenharia provenientes dos estudos científicos, muito antes de serem concretizados, foram idealizados e sonhados por muitos homens. Imaginem um mundo onde bilhões de pessoas tivessem acesso livre, por uma fonte barata e segura, a quase todo o conhecimento produzido pelo homem? Imaginem uma ferramenta capaz de conectar pessoas de uma ponta a outra do globo e as possibilidades de integração e harmonização que surgiriam com isso? Imaginem sermos capazes de ir de uma ponta a outra do globo terrestre, em menos de um dia de viagem? Imaginem que tipo de mundo poderíamos construir, se todas as nações pudessem se intercomunicar em tempo real e tivessem a possibilidade de dialogarem diplomaticamente, rompendo as barreiras da linguagem para se entenderem melhor?

É óbvio que eu estou falando sobre uma série de tecnologias presentes em nosso tempo, como a internet e os meios de transporte mais avançados. Mas certamente, as aplicações que eu citei para elas, não são as mais observadas no nosso cotidiano presente, pois destaca-se: a falta de busca por informação mais qualificada, a divergência e o preconceito cada dia mais presente nas relações entre as nações do globo, a globalização da exploração em tempo real... Todos os recursos necessários para transformarmos a nossa experiência e vivência enquanto civilização humana está aí, disponível, esperando ser usada de forma apropriada e que viesse a beneficiar a todos. Mas que uso fazemos das mesmas?

E se fossemos imaginar um mundo com energia limpa e gratuita? Um homem já tentou fazê-lo antes e esteve muito próximo de concretizar seu projeto de prover energia gratuita para o mundo inteiro! Nikola Tesla tinha suas pesquisas financiadas por John Pierpont Morgan (JP Morgan), que por sua vez cortou o dinheiro quando descobriu os verdadeiros planos de Nikola Tesla: prover energia gratuita e limpa para o mundo inteiro! Esse sonho não era compatível com a industria da energia que lucra trilhões todos os anos mantendo as pessoas dependentes de diversos meios de captação de energia, ou pouco eficientes, ou extremamente nocivos ao meio-ambiente.

Tendo esses dois pontos esclarecidos, eu afirmo, muito pretensiosamente, que Utopia é ciência esperando ser concretizada e aplicada. A teoria Anarquista busca fundamentação nas ciências biológicas, políticas, naturais, sociais e em qualquer ou toda outra ciência que pode se imaginar! Embora eu não seja um cientista em qualquer área que seja, eu pretendo produzir algumas linhas sobre a minha Teoria a respeito do Poder, buscando uma forma de estudar sua natureza e seus efeitos observáveis nas relações sociais e hierárquicas.

Vontade é todo o potencial que um indivíduo tem de transformar a própria realidade, bem como, transformar a realidade que o cerca. Chamo de Poder, a transferência dessa Vontade de muitos indivíduos para outro indivíduo (ou grupo de indivíduos), que a concentra e acumula gradativamente.

Deste modo, todo o Poder emana daqueles que por ele são regidos. O Poder de uma autoridade é concedida a ela por transferência da Vontade daqueles que a ela concedem esse Poder. Em outros termos, se alguém se sente no direito de emitir ordens é exclusivamente por que quem escuta a essas ordens, aceita obedece-las.

O Poder não é uma grandeza estática nem auto-reflexiva. O Poder é algo que se manifesta, principalmente, nas relações de hierarquia e autoridade. Não se exerce Poder sozinho, muito menos, sobre si mesmo. A capacidade de se auto-governar não se caracteriza no exercício de Poder sobre si mesmo, mas em auto-disciplina.

Todo Poder acumulado obedece a uma lógica mecânica que visa o próprio sustento. Por caracterizar-se no acumulo da Vontade alheia, o Poder visa o próprio crescimento (mesmo que ela atinja níveis absurdos, como é o caso dos governadores fascistas e sanguinários da nossa história). O Poder trabalha exclusivamente para os seus propósitos - o acumulo de mais Poder. Caso alguma autoridade exercer o seu Poder para trazer "o bem ao seu povo", essa é apenas uma das manifestações que o Poder se permite com o intento de manter o próprio Poder.

Todo foco de Poder (concentração de Poder pela transferência da Vontade de uma população ou comunidade para um grupo reduzido de pessoas) se sente automaticamente ameaçado quando próximo a outro foco de Poder que diverge ao seu comando ou controle. Contudo, diferentes foco de Poder podem conviver em harmonia, desde que estejam respondendo ao controle e autoridade de outro foco de Poder que concentre e controle todos os outros, formando uma rede de Poder (caracterizada pela hierarquização dos diferentes exercícios de Poder).

1. Poder existe exclusivamente para o auto-sustento. (Poder pelo Poder)
2. Poder, por natureza e lógica mecânica, busca crescer indefinitivamente. (Poder concentra Poder)
3. Todo exercício de Poder visa - independente de seus efeitos - o auto-sustento ou o próprio crescimento. (Tudo pelo Poder)
4. O Poder se sente ameaçado por outros exercícios de Poder, exceto quando todos são controlados por outro foco de Poder. (Cadeia de Poder)

Parece arbitrário, tendencioso (e provavelmente o é, de fato). Não estou aplicando nenhum rigor necessariamente científico na minha análise, apenas tecendo a minha perspectiva dialética sobre o tema. Contudo, eu temo em afirmar que essa estruturação pode se revelar muito plausível, caso você busque verificar evidências dessa perspectiva em nossa sociedade.

Você pode observar a maneira como todo partido político que alcança o Poder, parece buscar fazer de tudo para agarrar e se manter no Poder, independente de estarem efetivamente exercitando sua autoridade de maneira a promover transformações profundas na sociedade. Percebemos as famosas "medidas eleitoreiras", onde os prefeitos entopem as cidades de obras nos anos de eleição, com a intenção de mostrar resultados aos seus eleitores. É duro e parece até clichê afirmar que a maioria dos governantes enxergam aos cidadãos apenas como eleitores. Mas analisando com mais cuidado, sempre fica difícil enxergar a situação de outra maneira.

Desta forma, dizer que a autoridade coercitiva do Estado funciona para mediar as relações entre os cidadãos, ainda deixa brecha para muitas dúvidas. Quem mediará as relações entre o Estado e o cidadão, quando o segundo se perceber coagido e injustiçado pelo mau exercício da autoridade do primeiro? Quem poderá salvar o povo do Poder que ele transferiu aos seus governantes, quando estes se revelarem verdadeiros fascistas que só têm olhos para o próprio umbigo?

No passado, o cenário político disputou influência com as autoridades religiosas. O cenário ainda não mudou muito. Mesmo quando se afirma que estamos vivendo em um "Estado Laico", nenhum governante do Estado deixa de dobrar-se de joelhos para a pressão exercida por várias das instituições religiosas mais influentes. Velhacas e extremamente experientes na arte da dominação e lavagem cerebral, muitas instituições religiosas dominam e subjugam mentalmente seus fiéis, tornando-os massa política fácil de ser manobrada aos seus interesses. O Poder do Estado e o Poder Religioso viveriam em conflito, caso não existisse o Poder Econômico para falar mais alto que os dois, mediando suas relações por interesse e benefício próprio.

Eu deixo para o leitor o exercício de tentar enxergar como essa Teoria poderia se encaixar nas diferentes relações de autoridade e Poder que podermos observar. Pense sobre a polícia (civil, federal, militar...) e como cada exercício de sua autoridade e Poder se intercomunica uma com a outra. Pense nas escolas e nas diferentes instituições de ensino e a forma como elas se intercomunicam, tanto entre si, quanto com o restante das instituições autoritárias. Pense sobre a autoridade exercida nas relações hierárquicas e prioritárias que se estabelecem na instituição da família tradicional, além do seu respaldo na manutenção da ideologia. As permutas são tantas que, para cada caso citado, poderíamos escrever um livro inteiro!

Voltando a dissertar e dissecar mais a natureza do Poder, eu percebo a necessidade de reforçar uma ideia. Todo Poder emana daqueles que ao Poder estão subjugados. Desta forma, o Poder não surge por meio do exercício de dominação. A lógica é exatamente oposta. O exercício de dominação só é possível por que está apoiado no Poder. Essa é a premissa para explicar como o verdeiro problema não se encontra na chamada "Cadeia de Poder", mas na "Cadeia de Obediência", pois ela dá sustento e berço para o surgimento e concentração de Poder.

Nossos governantes, individualmente, não são mais perigosos que um assaltante ou um batedor de carteiras. Contudo, sua voz de comando têm um Poder arrebatador, capaz de promover chacinas, tudo sob o aval do apoio popular. Em natureza, o Poder se caracteriza pela transferência, não apenas de Vontade, mas de responsabilidade para a mão daqueles que ocupam postos mais elevados em uma dada hierarquia. E AQUI MORA O PERIGO! Pois foi sob a alegação de estar "servindo a um bem maior" que foram cometidas as piores barbaridades da história. Foi sob a alegação de estar obedecendo a ordens, que humanos torturaram e mataram a outros humanos e continuam a fazê-lo até hoje!

A autoridade tem a incrível capacidade de corromper a moral humana. É simples perceber como muitas pessoas não se comportariam sozinhas, da mesma forma que se comportam quando estão recebendo ordens, ou quando se sentem amparadas pelo aval de alguma grande concentração de pessoas. Da mesma forma que muitos policiais não atirariam em manifestantes com balas de borracha, caso não recebessem ordens de seus comandantes, também existe o caso dos manifestantes que só se sentem encorajados a enfrentar e confrontar a polícia com pedras e paus, quando percebem o mesmo impeto manifestado em seus parceiros de luta. A autoridade intelectual também apresenta seu fascismo quando é exercida com a intenção de manipular a opinião pública, sob pretextos políticos velados. O Poder da oratória, só encontra endosso naqueles que a ela dão atenção e credibilidade.

Todo o Poder vem de baixo para cima, mas é exercido de cima para baixo.

A autoridade e o Poder andam de mãos dadas, mas lembrem-se, sempre, nenhuma delas tem origem naqueles que a exercitam, mas naqueles que por elas são dominados e controlados. Mesmo os povos que foram dominados à força por algum conquistador, antes de abaixarem cabeça para o novo mestre, lambiam os sapatos de outro rei. Assim como aqueles que dedicaram seu exercício de Poder a conquistar mais Poder, tiveram como ponto de partida, uma situação onde muitas pessoas passaram a transferir Poder e autoridade à sua voz de comando. Muitos foram os casos dos povos que não toleraram a submissão e por isso lutaram e travaram suas lutas libertárias. Mártires da liberdade não faltam na história (talvez faltem nos livros didáticos de história).

Enquanto as pessoas não estiverem aptas a assumirem maior responsabilidade por suas atitudes, a dissolução do Poder não poderá se efetivar. Não existe possibilidade de "governar para o bem", pois o exercício deste governo, quando tem respaldo nas relações de Poder, não pode ser bom. O Poder não visa o bem comunitário, ele visa, sempre, os próprios interesses de crescimento e dominação. Ele não permite a liberdade, pois, para que se possa viver livre, é necessário assumir absoluta responsabilidade pelas próprias ações. Tal liberdade é absolutamente incompatível com a autoridade, com a hierarquia e o com Poder.

Pronto, aqui está a sua Utopia! Enquanto uns chamam a teoria anarquista de Utópica, eu considero ilusória toda e qualquer tentativa de melhorar a condição humana que não vise a dissolução e aniquilação do Estado, da hierarquia, da autoridade e do Poder!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Memórias de Morte

Tal como uma fênix, tenho o mal costume de morrer e renascer todos os dias. Adquiri esse hábito com o passar dos últimos anos. A morte se tornou minha melhor companheira de jornada. Atormentado por memórias e projeções psíquicas que circulavam em torno de mim, levantei da cama e voltei para o computador, decidido a escrever mais um texto.

Dei-me a pesquisar diferentes artes do meu Arcano Maior predileto - A Morte. Acabei encontrando essa magnífica arte de Ma Deva Padma (para os não familiarizados, é o típico título de um sannyasin), que fez seu próprio Tarot Zen baseado na filosofia do Mestre Osho. A interpretação que ela deu para a carta d'A Morte não poderia ser mais sábia - Transformação

Estive a refletir sobre minhas memórias e o que elas representam para mim. Tanto as boas, quanto as ruins. Não é raro que nos percebamos apegados às boas histórias e momentos do passado. As animadas viagens escolares com os colegas de classe, as festas com aquela turma que nunca mais se reuniu, aqueles beijos e mordidas bem trocados em um motel barato.

É o ciclo do vício sensorial. A busca pelas mesmas experiências que já nos trouxeram alegrias (ou dores) no passado. Nos apegamos tanto a essas memórias, que vivemos a repetir as mesmas histórias para qualquer ouvinte que se disponha, feito discos arranhados, ou uma música programada para um replay solitário e pedante.

Acendo uma vela branca que permanece à minha esquerda, uma vela vermelha à minha direita. A combinação cromática me remete ao manto de Hermes, algumas vezes representado como O Mago I. Ele representa o potencial humano, o princípio da senda mística. Artistas natos, damos nossos primeiros passos no mundo com o entusiasmo de quem escala um Everest. O que aconteceu com essa animação toda? Será que ao longo do tempo, fomos desaprendendo a andar e nos acostumamos demais aos velhos hábitos, aos prazeres repetidos, ao gozo sofrido e curto?

Com sua poderosa foice, A Morte me ajuda a podar vários dos empecilhos que por ventura aparecem no meu caminho. Não! Não estou falando que ela mata meus inimigos (ao menos, não por mim). Ela desconstrói tudo o que é falso. Sobe a luz de seu olhar vermelho e flamejante, o falso perece e apenas a força natural do que é Verdadeiro, sobrevive.

Tens alguma dúvida disso? Pense, qual outra certeza maior você pode obter sobre a vida, senão, o fato de que ela acaba? A morte é sua maior aliada, pois ela é a base mais concisa sobre a qual pode apoiar suas convicções de mundo e suas perspectivas de vida.

A certeza sobre a morte é a certeza sobre a realidade de que tudo é passageiro. Você não pode levar suas riquezas materiais para o túmulo. Você não pode levar seus diplomas de mestrado para o mundo do Além, pois, lá, eles não tem qualquer valor. Suas realizações, conquistas, edificações, notas altas na escola... Nada disso tem qualquer valor em face da morte. E a coisa não para por aí! Pois nem mesmo as suas memórias são úteis! Se você não pode reanimar o passado nem mesmo enquanto ainda está vivo, pensa que essas memórias terão qualquer utilidade depois de morto?

Abraçar a morte é abraçar o transitório tal como um zen adere a um mantra. Em face a isso, não há tanto por que se preocupar se você conseguiu assumir o posto mais alto da sua empresa, nem mesmo se o seu tão estimado doutorado vai lhe render um Prêmio Nobel. Talvez não haja melhor atestamento de sabedoria do que perceber que viver em humildade é o maior de todos os desafios. Afinal, todos querem ser reconhecidos, todos querem ser memoráveis, grandes, famosos e adorados. Temos essa mania de acreditar que nossas opiniões e conquistas valem mais do que os ouros de todas as jazidas do Saara. Mais que todo o petróleo do mundo. Mas assim como toda essa materialidade mundana, nossos corpos perecerão sob a terra, corroídos pelas larvas do tempo e as bactérias do obsoleto.

Passei a tratar cada momento vivido, como mais um momento morrido - digno de esquecimento. Levo pouca bagagem para mim mesmo, da vida. Sigo caminhando com os bolsos semi-vazios, despreocupado.

Já machuquei muitas pessoas. Torturei e dominei mentalmente, certa vez, alguém cuja índole e intenções me eram suspeitas (apenas até o ponto de não chegar a conclusão nenhuma). Já trai excelentes amigos, embora me recuse a assumir total parte da responsabilidade. Por várias vezes, decepcionei dezenas de pessoas que contaram com a minha participação e apoio em seus projetos e planos mirabolantes. Eu nunca atestei ser uma pessoa boa, mas assim como reconheço que os bons momentos e boas ações pertencem ao passado (e portanto estão mortos), também aprendi a lidar melhor com meus erros. Aprendi a fazer pouco juízo dos resultados que obtenho, afinal, ganhar medalha de outro ou de bronze tanto faz. No fim, tanto eu quanto o segundo lugar vamos virar pó!

Diante da morte, todos vivemos em semelhante condição; a de humanos, mortais e criaturas incompletas (para não dizer incompetentes). Continuamos a dançar, nos esforçamos, bradamos, guerreamos, como se isso tudo significasse qualquer coisa. No fim das contas, tudo passa. E esse é um presságio que me desperta profunda esperança. Pois para mim, significa que eu sou livre para viver exatamente como quiser. Com todos meus erros e imperfeições, eu sou livre para ser o que me der na telha!

Não existe ninguém acima e nem abaixo de nós. E isso é libertador. Somos todos criaturas sofredoras. Quando deixarmos de competir para ver quem sofre mais, quem merece mais ou menos pena, vamos aprender a caminhar juntos. Vamos fazer dessa experiência a melhor de todas, não importando os resultados, mas a máxima apreciação pelos processos!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Caverna de Acadêmicos

Você já deve conhecer o velho Mito Platônico. As sombras na parede, as mãos que manipulam a realidade, os corajosos homens que quebram as algemas e percorrem o ingrime e perigoso caminho para fora da caverna, até o fabuloso encontro com a luz do mundo exterior. 
O detalhe é, todos os que são familiares com esse mito estão, sempre, plenamente convictos de que eles - e não os outros - estão mais próximos de caminhar em direção à luz, a sentar e ficar a ver sombras na parede. É sempre o outro, o alienado. É sempre o outro, um tolo iludido com uma falsa realidade. E eu te pergunto: O que te dá tanta certeza de que é você e não o outro quem está caminhando para a luz?

Que garantia você tem? Todos nascemos circunscritos em uma redoma social e intelectual muito próxima. Presos em um período limitado do espaço-tempo, nossa percepção da realidade é tão limitada que chega a ser ridículo! Nossa percepção sensorial é estupidamente falha, a nossa capacidade de abstração, salvo exceções (os QI's acima da média), é limitada.

Não bastando tudo isso, eu fico impressionado como algumas pessoas acreditam ter se libertado completamente da prisão da realidade por terem se desvencilhado de apenas uma potencial algema. Como o caso de ateus que, por terem se livrado da percepção limitante dos dogmas religiosos, acreditam terem se libertado por completo. Ou ainda quando alguém começa a estudar sociologia e, ao começar a enxergar as vendas da Ideologia, passam a se sentir efetivamente libertos. Nada lhe soa absurdo nisso tudo? Perceber as algemas que te prendem não necessariamente te torna livre delas!


Todos temos essa versão romantizadas de nós mesmos. A percepção de que nós - e nunca os outros - detemos todos os segredos da realidade e do universo bem no verso de nossos cadernos super secretos - com capa do filme Matrix. Não será mais provável que estamos, todos, nos esgoelando e nos matando por culpa de algumas certezas nada certas, ou ainda algumas verdades nada sinceras?

Quase qualquer interpretação do real pode servir para tapar os buracos que ainda não conhecemos. Deus, Big Bang, Panspermia, Anti-Cósmicos.... Tudo é tão coerentemente sensato (dentro de sua própria lógica), que passa a ser apenas uma questão de escolher a ilusão que lhe agrada melhor.

A CAVERNA TEM CAVIDADES

É um conceito que estou roubando de um amigo sobre esse mesmo mito. A caverna tem várias e várias cavidades, provavelmente. Quando você pensa ter chegado ao fim dela, possivelmente, apenas encontrou uma cavidade mais ampla e com maior claridade. Por exemplo, as pessoas que param de assistir televisão pois dizem que os noticiários mentem, mas ficam chafurdados na internet e viram zumbis ambulantes, sem disposição ou energia para nada. Por um lado, deixaram de sofrer a lavagem cerebral dos programas de péssima qualidade da tevê aberta e dos comerciais. Por outro lado, continuam viciados no experimento mais antigo de manipulação mental - aquele no qual você se vicia e se encarcera por livre espontânea vontade.

Procrastinação suga energia e vida. Ficar horas preso e viciado em interwebs, é como trocar o crack por alguma droga mais chique e sintética, feito o êxtase. Na prática, você continua alimentando os mesmos EGO's, apenas refinou o seu gosto (e intensificou o seu EGO).


Há de se considerar que o Mito menciona que existam homens que, conscientemente, projetam um mundo de fantasia e ilusão para que os bobos se mantenham INERTES e APÁTICOS, apenas observando as sombras, PACIFICAMENTE. Despertar para a realidade envolve muito mais do que simples estudo e erudição. Envolve atividade, envolve ação transformadora. Quebrar as algemas que foram implantadas no seu sub-consciente envolve esforço mental e o tolhimento de uma série de hábitos que foram incutidos no seu dia-a-dia sem que se desse conta.

Estão constantemente te educando. Criam novos produtos sem a menor ansiedade em saber se você se interessa por eles ou não, pois estão seguros de que hão de ensina-lo a querer-los. Criam brinquedos divertidos, traçam metas absurdas e incoerentes de vida. Vendem sonhos em embalagens prontas. Reproduzem necessidades inventadas como essenciais à vida. Caso você almeje liberdade, terá de perceber todas essas algemas e, uma a uma, libertar-se dessa programação vil que foi incutida em sua própria mente, até que essas algemas desapareçam na sua vida material.


Eu estaria sendo extremamente incoerente se eu tentasse afirmar que eu estou mais perto o mais longe que qualquer outra pessoa nessa trajetória. Em suma, devo dizer que ainda não comecei a me deslocar apropriadamente dentro da caverna. Tive minhas breves imersões. Bisbilhotei o que existe logo ali na esquina, depois de me librar de algumas algemas, o que me permitiu mais mobilidade. Mas não me arriscaria dizer que já me livrei de todas, muito menos que cheguei a vislumbrar qualquer resquício de luz que venha do lado de fora (ao menos, não de frente). Eu apenas sou um que estou trabalhando, estou engajado no meu processo de libertação e, venho por meio desta prosa, lembrar aos meus irmãos. Não se iludam com o falso progresso. Não tomem um simples passo por um salto. O caminho é longo e o mais importante é não permanecer parado. Portanto movimente-se! Só quando nos debatemos de um lado a outro é quando perceberemos como são as amarras que nos prendem.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Você é feliz?

Você anda despreocupado com o futuro? Aprecia mais a companhia de pessoas com bom humor do que o dinheiro que gasta com produtos caros? Consegue extrair satisfação das coisas simples da vida, ao invés da sofisticação de um modelo idealizado de vida? CUIDADO! Você pode estar sofrendo de uma perigosa síndrome chamada Felicidade!
Obedeça ou morra! Mantenha-se seguro, não seja feliz!
Caso você já esteja em graus mais avançados dessa doença, esse texto será inútil para você, pois a chance de se recuperar é ínfima. Mas caso esteja experimentando alguns dos sintomas mais amenos, talvez, só talvez, ainda há alguma chance de resgatá-lo e te colocar no caminho direito à tempo.

Eu vou tentar lhe recuperar na medida do possível, mostrando o que esse estado de felicidade representa e o mal que ele pode lhe causar. Lhe persuadindo, assim, a aceitar que de forma alguma você não deveria buscar ser feliz ou buscar qualquer proximidade com o que especialistas chamam de estado de felicidade.

Sintomas:

*Displicência: Você se importa de menos com os resultados e demais em fazer com que o processo seja agradável. Ora, vejamos, é tão óbvio que tudo o que importa na vida são resultados! Tudo o que importa é subir de cargo na empresa, é construir uma carreira de sucesso e, mais importante ainda, é nunca se satisfazer com o que tem!

*Falta de Perspectiva: Você não tem grandes ambições, senão a de viver em plenitude e - *cof cof* - em felicidade. Não tem objetivos nem rumos traçados e isso é péssimo! Afinal, que tipo de pessoa não faz planos para daqui a 5 anos, 10 anos, 20 anos? Você não sabe onde gostaria de estar nem como gostaria de estar daqui a 30 anos? Como isso é possível? Todos sabemos que devemos mirar uma carreira de fortuna e reconhecimento alheio! O importante é ter carro importado e viajar de primeira classe para Paris! Nada dessa frescuragem de viver o momento presente. Quando estiver onde gostaria de estar, é vital passar todo o tempo pensando sobre o passo seguinte a ser dado. Nunca se está no cume da montanha e, se algum dia chegar lá, deve haver outra montanha mais alta para ser escalada! (A montanha que eu menciono é de dinheiro, é claro!)

*Amizades Verdadeiras: Esse sintoma é perigosíssimo! Que tipo de gente gosta de companhias valiosas ou confidentes? O importante é ter contatos profissionais e usar de suas amizades apenas a fim de satisfazer seus interesses. Seja para subir na vida (nem que seja subindo pelo ombro dos outros), seja para sexo, casamento (sem qualquer sentimento, óbvio) ou para procriação.

Se você cruzar essa linha, eu te mato! Fique em paz, ou melhor, fique direito!
*Prazeres sem Custos: Imagine que absurdo seria, você ser capaz de sentir prazer, contentamento ou satisfação pessoal, sem gastar um tostão? Pessoa felizes, por mais nauseante que isso seja, conseguem passar uma tarde de verão sentados em um parque municipal, apreciando o vento, a paisagem e o sol (algumas vezes acompanhados de outros doentes feito eles). Não gastam dinheiro com essa atividade e ainda têm a cara de pau de dizer que se sentem bem com isso! Eu não preciso mencionar como tudo isso é absurdo, não é mesmo?

*Sorrir sem Motivos: Se subverter o (sagrado) uso do dinheiro como moeda de prazer e satisfação ainda não fosse suficiente para esses sociopatas sem escrúpulos, eles ainda sorriem sem qualquer razão. Esse é, sem dúvida, um dos seus atos mais irreverentes e perigosos por que, por meio de um sorriso des-referenciado, eles tem o poder de contagiar outras pessoas com o vírus da felicidade. Tome atenção! Caso veja alguém sorrindo na rua, sem motivo aparente (ex: dirigindo um carro de luxo, comprando futilidades no shopping), exerça seu trabalho de cidadão de bem, consciente, e denuncie no posto policial mais próximo ou, de preferência, consulte um gerente de banco para que ele tome as necessárias providências.
O gráfico acima mostra como à medida em que você se torna mais feliz, menor são suas taxas de ansiedade, preocupação, angústia e estresse. A felicidade contribui na redução dos quatro pilares da pris... do sistema e da sociedade como um todo! Não é possível ser produtivo sem estresse e preocupação! Não é possível manter-se consumindo desenfreadamente sem a sensação de angústia e ansiedade. Portanto, a felicidade te obriga a abrir mão de tudo o que é mais importante!

Espero ter contribuído para te ajudar a evitar esse grande mal para a sociedade, que é essa tal de felicidade. Mais uma vez, obrigado! E caso queira acompanhar meus textos, curta: Gunter Brian

Grupo da Real: Antologia

ALERTA VERMELHO!

ALERTA VERMELHO!

RISCO DE RELATIVISMO MORAL!
RISCO DE CONFRONTO COGNITIVO! 
"Calma, confrade! Nós chegamos e está tudo bem agora!"
Caso você seja um dos "confrades da real", você está sob sério risco de lidar com um texto que em nada vai te agradar. Mas não se preocupe, guerreiro, eu não vim aqui desmentir as palavras de seu grande guru\mestre\sábio\filósofo Nessahan Alita (não integralmente), mas trazer uma perspectiva ainda mais ampla e REALISTA sobre a questão como um todo.


O sujeito:


Eu tenho tanto, mas tanto para dizer, que eu mal sei por onde começar (com vocês). Acho melhor começar com o "precursor" do seu grupo.

Nessahan Alita: seu nome real é Cleber Monteiro Muniz, casado, licenciado em Geografia e especialista em Abordagem Junguiana. Autor de "Magnetismo nas Relações Sociais" (Livro que eu altamente recomendo) e o infame "Como Lidar com as Mulheres".

Sobre a primeira obra que aqui citei, eu considero um excelente texto abordando a forma como as pessoas são manipuláveis por meio de suas paixões e aversões. É um livro que todo Realista deveria de ler com atenção e senso-crítico afiado para, então, observar se ele mesmo não está sendo manipulado para aderir uma 'causa' ou 'doutrina' por meio de uma hábil manipulação de suas aversões e paixões. Em realidade, penso eu, a maioria dos "Realistas" dão pouca senão nenhuma atenção a esse obra, pois acredito que se de fato fizessem, eles não estariam no grupo da Real.

O segundo livro que citei - Como Lidar com as Mulheres - é um interessantíssimo estudo, embora tenha seus altos e baixos (cientificamente falando), sobre o comportamento do Inconsciente Feminino dentro de uma relação amorosa. É aqui que eu começo a minha prosa, de verdade. Alita se empenha em estudar e qualificar muito bem as artimanhas emocionais, chantagens psicológicas e outros recursos de manipulação que (sinceramente) a maioria das mulheres utilizam, na maior parte do tempo, sem reconhecer que assim procedem. Se trata de reflexos do inconsciente e subconsciente, que alternam no papel de vítima e algoz, transformando a "vítima" (a mulher), em um ser de difícil convívio amoroso. Mas o próprio Alita enfatiza, que tal não é razão de demonizar as mulheres a ponto de pensar que elas assim fazem por maldade. É matéria de reflexão. Ele mesmo enfatiza que o livro deve ser lido com bom humor e senso crítico, não com olhar revoltoso e vingativo (como fazem os Realistas ao empurrarem esse livro para quem acabou de sair de um relacionamento conturbado).

Para explicar melhor, vou dar uma breve explicação sobre o que de fato É o Inconsciente, o Consciente e o Subconsciente que tanto menciono.

Inconsciente: São as ações mecânicas, ou, os comportamentos que assumimos sem consciência plena de suas motivações. Em grande parte, as pessoas pensam que o inconsciente se resume a funções vitais ou estritamente anatômicas, como o impulso sexual, o impulso à sociabilidade; mas se estende às formas-pensamento que são impostas pela religião, pela cultura e pela doutrinação social. Os valores morais aceitos sem a devida digestão ou reflexão sobre os mesmos. Ideias e pensamentos fixos, os quais tememos questionar. Todo (falso) moralismo por assim dizer, pertence ao Inconsciente. Pois são construtos psíquicos que foram IMPLANTADOS em nós. Sim, a religião é IMPLANTADA, o senso de obediência ao um ESTADO também não nos é natural, mas construído na nossa formação. Tudo o que faz parte de uma cultura e que nunca buscamos questionar são parte do Inconsciente (POR FAVOR, GUARDE ESSA INFORMAÇÃO).

Consciente: São as ações que tomamos baseadas nas nossas concepções de mundo, de forma lúcida e sob as quais possuímos absoluto controle. Levando em conta a definição de Inconsciente, Consciente é o avesso daquele. Perceba assim, que é algo RARÍSSIMO de se encontrar. Pois 99% do tempo, 101% das pessoas estão agindo, mecanicamente, de acordo com os valores que foram IMPLANTADOS nelas, por meio da lavagem cerebral das escolas, dos "valores familiares", da religião e do moralismo. O pensamento legitimamente livre, é aquele que desperta a verdadeira Consciência há muito adormecida na humanidade.

Subconsciente: É o melhor amigo do Inconsciente. Embora muitos pensem o contrário (por conta da associação geralmente feita de: Inconsciente - Id, Consciente - Ego, Subconsciente - SuperEgo), o Subconsciente é aquele que nos mantém aprisionados no estado de inconsciência. Portanto, é o controlador SIM, mas essa forma de exercer controle, geralmente, nos induz ao sentimento de culpa, ao sentimento de fragilidade e, com isso, nos induzindo de volta aos mesmos conceitos engessados do Inconsciente. Ele nos induz à imobilidade e à incapacidade de mudar nossa condição de vida, ou mesmo a nossa perspectiva de mundo.

Eu trouxe esse recorte, bem especial sobre esses conceitos, que servirá para atender aos objetivos do texto. Se eu fosse esmiuçar a nuances de cada um (Inconsciente, Consciente e Subconsciente), daria para escrever um livro! Mas voltando ao foco, Nessahan Alita descreve com boa precisão o Inconsciente da identidade de gênero Feminino. Cito "identidade de gênero", pelo fato de que qualquer indivíduo identificado com o gênero feminino (independente do seu sexo anatômico) é capaz de apresentar os mesmos sintomas descritos por Alita em seu livro. Mas isso não é tudo. Sendo parte de uma construção social, tanto a identidade de gênero, quanto os defeitos que a ela são atribuídas, são dissolvíveis e contornáveis. Uma mulher que se percebe, conscientemente, estar manipulando ou aplicando jogos emocionais com seu parceiro, adquire assim a possibilidade de mudar a sua atitude e, com isso, deixar de exercer aquele tipo de papel em uma relação.
"Sinta o poder do meu moralismo conservador!"
"Eu sou tãaao realista!"
(PAUSA: Eu tenho de admitir. A linguagem do texto está bem acima da padrão e isso não é a toa. Isso serve para testar o leitor e peneirar quem vai aguentar ler o texto até o fim. É um texto denso, sim. Eu escrevo com essa robustez por opção. Eu poderia fazer a minha prosa muito mais clara e objetiva, mas ao mesmo tempo rasa e facilmente confrontável. O meu objetivo não é "vencer pelo cansaço", mas desafiar o leitor e ler mais e estudar mais sobre os assuntos que abordo aqui)

Eu destaco dois "defeitos" no estudo de Alita:

1. Adotar um referencial científico tendencioso e falível, tal como é a sociobiologia, que consiste em um Darwinismo Sociológico (de baixíssimo rigor científico) em prol de justificar ou explicar o comportamento sexual dos homens e mulheres em sociedade. Eu já detonei todas essas teses aqui, aqui e aqui.

2. Ahhh rapaz! É muito conveniente atacar exclusivamente as mulheres, os defeitos, os problemas e situações por quais elas fazem o (oh! pobre coitado) homem enfrentar, e ignorar que os homens também tem o próprio Inconsciente, igualmente difícil de se lidar! As relações amorosas são difíceis para ambos os lados e, ideologias sectaristas (machistas) só tornam as coisas ainda mais complicadas para ambos os lados!

Descobriram que as mulheres são humanas e têm seus defeitos, e fizeram disso a maior descoberta do último século. Fala sério! Descobriram que o modelo moral imposto à sociedade não condiz com a realidade (ou mesmo à natureza humana). E estão, de todas as formas, tentando fazer a realidade se encaixar com a teoria (que de científica não tem nada!).

Sim, chutei o balde mesmo. Cansei de ser bonzinho e de passar a mão em masculinista alienado com a realidade. Aliás, se vou continuar falado sobre o assunto, é melhor mostrar o maniqueísmo conveniente que Alita assumiu. Ele fez um trabalho muito bom, mas ao mesmo tempo parcial. Sobre ELE, nada tenho a reclamar, pois ele mesmo enfatiza repetidamente a necessidade de se ler seus estudos de forma crítica, sem dogmatismos e sem tomar suas palavras como verdades absolutistas. Outra coisa que ele menciona e todos os "realistas" parecem ignorar, é o fato de que ele NÃO apoia a formação de grupos sectarios baseados nos estudos que ele apresentou (ou seja, ele não apoia a formação de grupos como o da Real).

Um outro sujeito:
Tem ideia de quem eu seja, "confrade"?
"Especialista em Abordagem Junguiana". Maneiro, quantos de vocês, realistas, já estudaram Carl Gustav Jung? De acordo com a psicologia de Jung, existem dois arquétipos do Inconsciente coletivo humano, representados pelos gêneros Masculino e Feminino (nota que há uma distinção entre o gênero e o sexo anatômico). Ao masculino, são atribuídas diversas qualidades ditas masculinizantes, predominando a Atividade, a Projetividade (projeção), Racionalidade, a Razão e a Robustez. Ao Feminino, as qualidades femininas que complementam o outro lado do masculino: Passividade, a Retidão (absorção), a Emotividade (sentimentalismo), a Intuição e a Delicadeza (minucia, cuidado, habilidade).

Mas a coisa não para por aí, não! Segundo Jung, todos indivíduos, independente de seus sexos anatômicos (independente de nascer com piu-piu ou com perereca), são psicologicamente bissexuados. Ou seja, um ser humano saudável deverá ser capaz de equilibrar, em seu íntimo, características e qualidades tanto femininas quanto masculinas. Para tanto, isso significa que o extremismo é indesejado e, invariavelmente, conduziria não apenas os indivíduos, mas a sociedade ao desequilíbrio. Essa deve ser, consideravelmente, a razão por que as relações erótico-afetivas são tão conflituosas e complexas. Afinal, quando dois indivíduos são impelidos a desenvolverem qualidades tão contrárias e antagônicas e perseguir o ideal de serem o exato oposto um do outro, a convivência se torna penosa e conflituosa. Um, não é capaz de compreender o lado do outro. E para tanto, surgem livros e livros tentando prover fórmulas para conviver em casal, quando a solução deveria ser buscada a nível individual. Cada indivíduo deveria ser capaz de equilibrar essas qualidades e características dentro de si, antes de buscar suas "cara metades" em um universo que nada compreendem (o hemisfério oposto), por terem se colocado, arbitrariamente, em um dos extremos.

Taoismo pah que te quero!
Sobre as questões duais eu já expliquei melhor em outro texto. Admitir a dualidade do indivíduo faz parte do processo de amadurecimento do próprio ser humano. Assumir apenas uma das faces significa permanecer incompleto e fadado a não se sentir pleno, muito menos, ao lado de outro indivíduo. Mas isso os realistas não aceitam, pois pensam que essa é parte da conspiração que quer violar o seu posto de ultra-viril, emasculando o homem.

Na sociedade atual, depois de mais de um século de feminismo ativista, à mulher é tolerado um comportamento mais flexível e livre. Ela é permitida aderir características masculinas, tal como o empreendimento, a liderança, e a agressividade, até. Mas isso se dá pelo fato de elas terem a oportunidade de conquistarem, aos poucos, o espaço masculino para explorarem o "outro hemisfério" - o hemisfério das qualidades masculinas. As mulheres estão, proporcionalmente, se permitindo mais. Hoje em dia, já é comum ver grupos de jovens mistos - garotos e garotas, homens e mulheres - como algo natural. Em detrimento de que, há poucas décadas, as amizades eram sectárias até mesmo em relação ao sexo anatômico. Homens só se relacionavam com mulheres,socialmente, se fosse a título de vínculo profissional ou interesse sexual/afetivo.

Vem ser meu jogador numero dois? Vem?!
Existem mulheres que jogam videogame, e isso é natural. Existem mulheres que beijam outras mulheres, mas isso só as faz serem ainda mais desejadas! Enquanto que se um garoto ou homem assume qualquer característica tida como feminina, ele é martirizado, ridicularizado, estigmatizado e é tratado feito mulher.

Esse será o primeiro de muitos textos que vou escrever para mostrar os pontos cegos da ideologia da real. Meu texto de inauguração sobre o assunto é esse.

Caso queira acompanhar meus textos de publicações, curta: Gunter Brian