"É preciso a coragem de ser um caos para gerar uma estrela dançarina." - F. Nietzche.

terça-feira, 9 de junho de 2015

A Angústia do Real


"A ideia de um conhecimento neutro e objetivo está completamente ultrapassada. Nos dias atuais, descobrir é inseparável de inventar e de criar." - Jorge Luiz Veschi

Duvidar é terrível. Quando a mente encontra-se assim, nua, desprotegida, encarando o mundo real, a tormenta se instala. Nada senão o pensar pode aplacar o seu efeito. Até que outro choque com o real nos traga abaixo, atormentados pela irritante insistência do real.

Desejamos dominar o real por meio da linguagem, mas não creio que exista código rigidamente preparado para essa tarefa. Ao menos, não em valores absolutos. A melhor concepção do real é aquela que não busca firmar autenticidade para o seu discurso, mas humildemente reconhece sua impropriedade ante ao objeto que almeja alcançar.

É um verdadeiro exercício de sincera hipocrisia que cometo em utilizar um código para criticar e apontar sua ineficácia, mas não é esse o verdadeiro valor da linguagem? Discursar sobre seus limites é o melhor que esse sistema, fechado, pode fazer. Falar, eventualmente, torna-se um exercício de tautologia. Uma vez que os valores mais essenciais à definição dos objetos mais elementares do discurso, não passam de ficções da linguagem.

“A verdade não pode ser dita. Se for dita, não é verdade.” – Lao Tzu

Sujeito? Eu? Pressupõe-se, muito etnocentricamente, que existe uma concordância intrínseca à relação símbolo e objeto referido. Como a se a criação do primeiro validasse existência do segundo. A meu ver, isso é pura ingenuidade. O objeto não fala de si, pois sua existência basta. Do contrário, não existiram tantos códigos a lhe atribuir nomes, símbolos e formas pensamento. Todos imprecisos e incongruentes em definir a mais simples verdades, por serem evidentemente as mais intangíveis a uma “objetividade” fracassada de berço.
“O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.” – Alberto Caeiro

Podem me chamar de ingênuo, herege, mas creio que a experiência humana possa transcender a linguagem para além dos códigos em que nos circundamos. Talvez não exista experiência sem linguagem, mas com certeza existem experiências sem nome e que, independente de signos que a descrevam, atingem o e afetam o sujeito.

Se tal, seria essa a salvação tão almejada? A nulidade da mente é a não linguagem? Não tão depressa. A necessidade de compreender a própria experiência é uma das limitações do EGO – ele não sobrevive à ausência de um significado para atribuir-se, para imbuir-se de valor.

É possível que a angústia defronte o real se dê pela perturbação que o real provoca em nosso aparelho anímico, que por sua vez, é incapaz de traduzir a realidade de forma fiel sem afetá-la ou transformá-la. Com isso, a observação de qualquer objeto acarreta na produção do mesmo. E quanto mais nos esforçamos por observar e compreender os diferentes objetos, mais nos distanciamos deles para, por fim, criarmos representações distorcidas do real. Assim nasce o “conhecimento”, a cultura, o saber secular.

Cruelmente, é assim que encerro a minha prosa: vazia de sentido e de perspectivas. Pois é assim que escolhi encarar o eterno confronto com o real, assumindo a inevitável derrota. Muito provavelmente, esse é apenas outro julgamento temporário, uma conclusão a que me dirigi por meio da “lógica” e, portanto, que passou pelo mesmo prisma da razão e do conhecimento distorcido sobre o real a que me dediquei a dissertar aqui. Que mais posso fazer?

“O que é Deus senão o homem observando a força do Kaos? Para ele nada é verdadeiro; tudo é permitido. Ali não há propósitos em sua existência; ele é um livro para escolher a si mesmo.” – Petter Carrol

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