"A
ideia de um conhecimento neutro e objetivo está completamente ultrapassada. Nos
dias atuais, descobrir é inseparável de inventar e de criar." - Jorge Luiz
Veschi
Duvidar é terrível. Quando a mente encontra-se assim, nua, desprotegida, encarando o mundo real, a tormenta se instala. Nada senão o pensar pode aplacar o seu efeito. Até que outro choque com o real nos traga abaixo, atormentados pela irritante insistência do real.
Desejamos dominar o real
por meio da linguagem, mas não creio que exista código rigidamente preparado
para essa tarefa. Ao menos, não em valores absolutos. A melhor concepção do
real é aquela que não busca firmar autenticidade para o seu discurso, mas humildemente
reconhece sua impropriedade ante ao objeto que almeja alcançar.
É um verdadeiro exercício de sincera hipocrisia que cometo em utilizar um código para criticar e apontar sua ineficácia, mas não é esse o verdadeiro valor da linguagem? Discursar sobre seus limites é o melhor que esse sistema, fechado, pode fazer. Falar, eventualmente, torna-se um exercício de tautologia. Uma vez que os valores mais essenciais à definição dos objetos mais elementares do discurso, não passam de ficções da linguagem.
“A verdade não pode ser
dita. Se for dita, não é verdade.” – Lao Tzu
Sujeito? Eu? Pressupõe-se,
muito etnocentricamente, que existe uma concordância intrínseca à relação
símbolo e objeto referido. Como a se a criação do primeiro validasse existência
do segundo. A meu ver, isso é pura ingenuidade. O objeto não fala de si, pois sua
existência basta. Do contrário, não existiram tantos códigos a lhe atribuir
nomes, símbolos e formas pensamento. Todos imprecisos e incongruentes em
definir a mais simples verdades, por serem evidentemente as mais intangíveis a
uma “objetividade” fracassada de berço.
“O único sentido íntimo
das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.” – Alberto Caeiro
É elas não terem sentido íntimo nenhum.” – Alberto Caeiro
Se tal, seria essa a
salvação tão almejada? A nulidade da mente é a não linguagem? Não tão depressa.
A necessidade de compreender a própria experiência é uma das limitações do EGO –
ele não sobrevive à ausência de um significado para atribuir-se, para imbuir-se
de valor.
É possível que a angústia
defronte o real se dê pela perturbação que o real provoca em nosso aparelho
anímico, que por sua vez, é incapaz de traduzir a realidade de forma fiel sem
afetá-la ou transformá-la. Com isso, a observação de qualquer objeto acarreta na
produção do mesmo. E quanto mais nos esforçamos por observar e compreender os
diferentes objetos, mais nos distanciamos deles para, por fim, criarmos
representações distorcidas do real. Assim nasce o “conhecimento”, a cultura, o
saber secular.
Cruelmente, é assim que encerro a minha prosa: vazia de sentido e de perspectivas. Pois é assim que escolhi encarar o eterno confronto com o real, assumindo a inevitável derrota. Muito provavelmente, esse é apenas outro julgamento temporário, uma conclusão a que me dirigi por meio da “lógica” e, portanto, que passou pelo mesmo prisma da razão e do conhecimento distorcido sobre o real a que me dediquei a dissertar aqui. Que mais posso fazer?
“O que é Deus senão o
homem observando a força do Kaos? Para ele nada é verdadeiro; tudo é permitido.
Ali não há propósitos em sua existência; ele é um livro para escolher a si
mesmo.” – Petter Carrol
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