"É preciso a coragem de ser um caos para gerar uma estrela dançarina." - F. Nietzche.

terça-feira, 17 de junho de 2014

A Ontologia do Poder

Eu entorto a boca, o nariz e o olhar, toda vez que escuto alguém dizendo que a Anarquia é um sonho utópico e impossível. Atestam que em nenhum momento da história o homem conseguiu viver e conviver sem a presença do controle de alguma instituição como o governo, o estado, religião ou qualquer outra estrutura hierárquica. Eu gostaria de falar uma ou duas coisas sobre Utopia em resposta a estes.

Todos os inventos de engenharia provenientes dos estudos científicos, muito antes de serem concretizados, foram idealizados e sonhados por muitos homens. Imaginem um mundo onde bilhões de pessoas tivessem acesso livre, por uma fonte barata e segura, a quase todo o conhecimento produzido pelo homem? Imaginem uma ferramenta capaz de conectar pessoas de uma ponta a outra do globo e as possibilidades de integração e harmonização que surgiriam com isso? Imaginem sermos capazes de ir de uma ponta a outra do globo terrestre, em menos de um dia de viagem? Imaginem que tipo de mundo poderíamos construir, se todas as nações pudessem se intercomunicar em tempo real e tivessem a possibilidade de dialogarem diplomaticamente, rompendo as barreiras da linguagem para se entenderem melhor?

É óbvio que eu estou falando sobre uma série de tecnologias presentes em nosso tempo, como a internet e os meios de transporte mais avançados. Mas certamente, as aplicações que eu citei para elas, não são as mais observadas no nosso cotidiano presente, pois destaca-se: a falta de busca por informação mais qualificada, a divergência e o preconceito cada dia mais presente nas relações entre as nações do globo, a globalização da exploração em tempo real... Todos os recursos necessários para transformarmos a nossa experiência e vivência enquanto civilização humana está aí, disponível, esperando ser usada de forma apropriada e que viesse a beneficiar a todos. Mas que uso fazemos das mesmas?

E se fossemos imaginar um mundo com energia limpa e gratuita? Um homem já tentou fazê-lo antes e esteve muito próximo de concretizar seu projeto de prover energia gratuita para o mundo inteiro! Nikola Tesla tinha suas pesquisas financiadas por John Pierpont Morgan (JP Morgan), que por sua vez cortou o dinheiro quando descobriu os verdadeiros planos de Nikola Tesla: prover energia gratuita e limpa para o mundo inteiro! Esse sonho não era compatível com a industria da energia que lucra trilhões todos os anos mantendo as pessoas dependentes de diversos meios de captação de energia, ou pouco eficientes, ou extremamente nocivos ao meio-ambiente.

Tendo esses dois pontos esclarecidos, eu afirmo, muito pretensiosamente, que Utopia é ciência esperando ser concretizada e aplicada. A teoria Anarquista busca fundamentação nas ciências biológicas, políticas, naturais, sociais e em qualquer ou toda outra ciência que pode se imaginar! Embora eu não seja um cientista em qualquer área que seja, eu pretendo produzir algumas linhas sobre a minha Teoria a respeito do Poder, buscando uma forma de estudar sua natureza e seus efeitos observáveis nas relações sociais e hierárquicas.

Vontade é todo o potencial que um indivíduo tem de transformar a própria realidade, bem como, transformar a realidade que o cerca. Chamo de Poder, a transferência dessa Vontade de muitos indivíduos para outro indivíduo (ou grupo de indivíduos), que a concentra e acumula gradativamente.

Deste modo, todo o Poder emana daqueles que por ele são regidos. O Poder de uma autoridade é concedida a ela por transferência da Vontade daqueles que a ela concedem esse Poder. Em outros termos, se alguém se sente no direito de emitir ordens é exclusivamente por que quem escuta a essas ordens, aceita obedece-las.

O Poder não é uma grandeza estática nem auto-reflexiva. O Poder é algo que se manifesta, principalmente, nas relações de hierarquia e autoridade. Não se exerce Poder sozinho, muito menos, sobre si mesmo. A capacidade de se auto-governar não se caracteriza no exercício de Poder sobre si mesmo, mas em auto-disciplina.

Todo Poder acumulado obedece a uma lógica mecânica que visa o próprio sustento. Por caracterizar-se no acumulo da Vontade alheia, o Poder visa o próprio crescimento (mesmo que ela atinja níveis absurdos, como é o caso dos governadores fascistas e sanguinários da nossa história). O Poder trabalha exclusivamente para os seus propósitos - o acumulo de mais Poder. Caso alguma autoridade exercer o seu Poder para trazer "o bem ao seu povo", essa é apenas uma das manifestações que o Poder se permite com o intento de manter o próprio Poder.

Todo foco de Poder (concentração de Poder pela transferência da Vontade de uma população ou comunidade para um grupo reduzido de pessoas) se sente automaticamente ameaçado quando próximo a outro foco de Poder que diverge ao seu comando ou controle. Contudo, diferentes foco de Poder podem conviver em harmonia, desde que estejam respondendo ao controle e autoridade de outro foco de Poder que concentre e controle todos os outros, formando uma rede de Poder (caracterizada pela hierarquização dos diferentes exercícios de Poder).

1. Poder existe exclusivamente para o auto-sustento. (Poder pelo Poder)
2. Poder, por natureza e lógica mecânica, busca crescer indefinitivamente. (Poder concentra Poder)
3. Todo exercício de Poder visa - independente de seus efeitos - o auto-sustento ou o próprio crescimento. (Tudo pelo Poder)
4. O Poder se sente ameaçado por outros exercícios de Poder, exceto quando todos são controlados por outro foco de Poder. (Cadeia de Poder)

Parece arbitrário, tendencioso (e provavelmente o é, de fato). Não estou aplicando nenhum rigor necessariamente científico na minha análise, apenas tecendo a minha perspectiva dialética sobre o tema. Contudo, eu temo em afirmar que essa estruturação pode se revelar muito plausível, caso você busque verificar evidências dessa perspectiva em nossa sociedade.

Você pode observar a maneira como todo partido político que alcança o Poder, parece buscar fazer de tudo para agarrar e se manter no Poder, independente de estarem efetivamente exercitando sua autoridade de maneira a promover transformações profundas na sociedade. Percebemos as famosas "medidas eleitoreiras", onde os prefeitos entopem as cidades de obras nos anos de eleição, com a intenção de mostrar resultados aos seus eleitores. É duro e parece até clichê afirmar que a maioria dos governantes enxergam aos cidadãos apenas como eleitores. Mas analisando com mais cuidado, sempre fica difícil enxergar a situação de outra maneira.

Desta forma, dizer que a autoridade coercitiva do Estado funciona para mediar as relações entre os cidadãos, ainda deixa brecha para muitas dúvidas. Quem mediará as relações entre o Estado e o cidadão, quando o segundo se perceber coagido e injustiçado pelo mau exercício da autoridade do primeiro? Quem poderá salvar o povo do Poder que ele transferiu aos seus governantes, quando estes se revelarem verdadeiros fascistas que só têm olhos para o próprio umbigo?

No passado, o cenário político disputou influência com as autoridades religiosas. O cenário ainda não mudou muito. Mesmo quando se afirma que estamos vivendo em um "Estado Laico", nenhum governante do Estado deixa de dobrar-se de joelhos para a pressão exercida por várias das instituições religiosas mais influentes. Velhacas e extremamente experientes na arte da dominação e lavagem cerebral, muitas instituições religiosas dominam e subjugam mentalmente seus fiéis, tornando-os massa política fácil de ser manobrada aos seus interesses. O Poder do Estado e o Poder Religioso viveriam em conflito, caso não existisse o Poder Econômico para falar mais alto que os dois, mediando suas relações por interesse e benefício próprio.

Eu deixo para o leitor o exercício de tentar enxergar como essa Teoria poderia se encaixar nas diferentes relações de autoridade e Poder que podermos observar. Pense sobre a polícia (civil, federal, militar...) e como cada exercício de sua autoridade e Poder se intercomunica uma com a outra. Pense nas escolas e nas diferentes instituições de ensino e a forma como elas se intercomunicam, tanto entre si, quanto com o restante das instituições autoritárias. Pense sobre a autoridade exercida nas relações hierárquicas e prioritárias que se estabelecem na instituição da família tradicional, além do seu respaldo na manutenção da ideologia. As permutas são tantas que, para cada caso citado, poderíamos escrever um livro inteiro!

Voltando a dissertar e dissecar mais a natureza do Poder, eu percebo a necessidade de reforçar uma ideia. Todo Poder emana daqueles que ao Poder estão subjugados. Desta forma, o Poder não surge por meio do exercício de dominação. A lógica é exatamente oposta. O exercício de dominação só é possível por que está apoiado no Poder. Essa é a premissa para explicar como o verdeiro problema não se encontra na chamada "Cadeia de Poder", mas na "Cadeia de Obediência", pois ela dá sustento e berço para o surgimento e concentração de Poder.

Nossos governantes, individualmente, não são mais perigosos que um assaltante ou um batedor de carteiras. Contudo, sua voz de comando têm um Poder arrebatador, capaz de promover chacinas, tudo sob o aval do apoio popular. Em natureza, o Poder se caracteriza pela transferência, não apenas de Vontade, mas de responsabilidade para a mão daqueles que ocupam postos mais elevados em uma dada hierarquia. E AQUI MORA O PERIGO! Pois foi sob a alegação de estar "servindo a um bem maior" que foram cometidas as piores barbaridades da história. Foi sob a alegação de estar obedecendo a ordens, que humanos torturaram e mataram a outros humanos e continuam a fazê-lo até hoje!

A autoridade tem a incrível capacidade de corromper a moral humana. É simples perceber como muitas pessoas não se comportariam sozinhas, da mesma forma que se comportam quando estão recebendo ordens, ou quando se sentem amparadas pelo aval de alguma grande concentração de pessoas. Da mesma forma que muitos policiais não atirariam em manifestantes com balas de borracha, caso não recebessem ordens de seus comandantes, também existe o caso dos manifestantes que só se sentem encorajados a enfrentar e confrontar a polícia com pedras e paus, quando percebem o mesmo impeto manifestado em seus parceiros de luta. A autoridade intelectual também apresenta seu fascismo quando é exercida com a intenção de manipular a opinião pública, sob pretextos políticos velados. O Poder da oratória, só encontra endosso naqueles que a ela dão atenção e credibilidade.

Todo o Poder vem de baixo para cima, mas é exercido de cima para baixo.

A autoridade e o Poder andam de mãos dadas, mas lembrem-se, sempre, nenhuma delas tem origem naqueles que a exercitam, mas naqueles que por elas são dominados e controlados. Mesmo os povos que foram dominados à força por algum conquistador, antes de abaixarem cabeça para o novo mestre, lambiam os sapatos de outro rei. Assim como aqueles que dedicaram seu exercício de Poder a conquistar mais Poder, tiveram como ponto de partida, uma situação onde muitas pessoas passaram a transferir Poder e autoridade à sua voz de comando. Muitos foram os casos dos povos que não toleraram a submissão e por isso lutaram e travaram suas lutas libertárias. Mártires da liberdade não faltam na história (talvez faltem nos livros didáticos de história).

Enquanto as pessoas não estiverem aptas a assumirem maior responsabilidade por suas atitudes, a dissolução do Poder não poderá se efetivar. Não existe possibilidade de "governar para o bem", pois o exercício deste governo, quando tem respaldo nas relações de Poder, não pode ser bom. O Poder não visa o bem comunitário, ele visa, sempre, os próprios interesses de crescimento e dominação. Ele não permite a liberdade, pois, para que se possa viver livre, é necessário assumir absoluta responsabilidade pelas próprias ações. Tal liberdade é absolutamente incompatível com a autoridade, com a hierarquia e o com Poder.

Pronto, aqui está a sua Utopia! Enquanto uns chamam a teoria anarquista de Utópica, eu considero ilusória toda e qualquer tentativa de melhorar a condição humana que não vise a dissolução e aniquilação do Estado, da hierarquia, da autoridade e do Poder!

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Memórias de Morte

Tal como uma fênix, tenho o mal costume de morrer e renascer todos os dias. Adquiri esse hábito com o passar dos últimos anos. A morte se tornou minha melhor companheira de jornada. Atormentado por memórias e projeções psíquicas que circulavam em torno de mim, levantei da cama e voltei para o computador, decidido a escrever mais um texto.

Dei-me a pesquisar diferentes artes do meu Arcano Maior predileto - A Morte. Acabei encontrando essa magnífica arte de Ma Deva Padma (para os não familiarizados, é o típico título de um sannyasin), que fez seu próprio Tarot Zen baseado na filosofia do Mestre Osho. A interpretação que ela deu para a carta d'A Morte não poderia ser mais sábia - Transformação

Estive a refletir sobre minhas memórias e o que elas representam para mim. Tanto as boas, quanto as ruins. Não é raro que nos percebamos apegados às boas histórias e momentos do passado. As animadas viagens escolares com os colegas de classe, as festas com aquela turma que nunca mais se reuniu, aqueles beijos e mordidas bem trocados em um motel barato.

É o ciclo do vício sensorial. A busca pelas mesmas experiências que já nos trouxeram alegrias (ou dores) no passado. Nos apegamos tanto a essas memórias, que vivemos a repetir as mesmas histórias para qualquer ouvinte que se disponha, feito discos arranhados, ou uma música programada para um replay solitário e pedante.

Acendo uma vela branca que permanece à minha esquerda, uma vela vermelha à minha direita. A combinação cromática me remete ao manto de Hermes, algumas vezes representado como O Mago I. Ele representa o potencial humano, o princípio da senda mística. Artistas natos, damos nossos primeiros passos no mundo com o entusiasmo de quem escala um Everest. O que aconteceu com essa animação toda? Será que ao longo do tempo, fomos desaprendendo a andar e nos acostumamos demais aos velhos hábitos, aos prazeres repetidos, ao gozo sofrido e curto?

Com sua poderosa foice, A Morte me ajuda a podar vários dos empecilhos que por ventura aparecem no meu caminho. Não! Não estou falando que ela mata meus inimigos (ao menos, não por mim). Ela desconstrói tudo o que é falso. Sobe a luz de seu olhar vermelho e flamejante, o falso perece e apenas a força natural do que é Verdadeiro, sobrevive.

Tens alguma dúvida disso? Pense, qual outra certeza maior você pode obter sobre a vida, senão, o fato de que ela acaba? A morte é sua maior aliada, pois ela é a base mais concisa sobre a qual pode apoiar suas convicções de mundo e suas perspectivas de vida.

A certeza sobre a morte é a certeza sobre a realidade de que tudo é passageiro. Você não pode levar suas riquezas materiais para o túmulo. Você não pode levar seus diplomas de mestrado para o mundo do Além, pois, lá, eles não tem qualquer valor. Suas realizações, conquistas, edificações, notas altas na escola... Nada disso tem qualquer valor em face da morte. E a coisa não para por aí! Pois nem mesmo as suas memórias são úteis! Se você não pode reanimar o passado nem mesmo enquanto ainda está vivo, pensa que essas memórias terão qualquer utilidade depois de morto?

Abraçar a morte é abraçar o transitório tal como um zen adere a um mantra. Em face a isso, não há tanto por que se preocupar se você conseguiu assumir o posto mais alto da sua empresa, nem mesmo se o seu tão estimado doutorado vai lhe render um Prêmio Nobel. Talvez não haja melhor atestamento de sabedoria do que perceber que viver em humildade é o maior de todos os desafios. Afinal, todos querem ser reconhecidos, todos querem ser memoráveis, grandes, famosos e adorados. Temos essa mania de acreditar que nossas opiniões e conquistas valem mais do que os ouros de todas as jazidas do Saara. Mais que todo o petróleo do mundo. Mas assim como toda essa materialidade mundana, nossos corpos perecerão sob a terra, corroídos pelas larvas do tempo e as bactérias do obsoleto.

Passei a tratar cada momento vivido, como mais um momento morrido - digno de esquecimento. Levo pouca bagagem para mim mesmo, da vida. Sigo caminhando com os bolsos semi-vazios, despreocupado.

Já machuquei muitas pessoas. Torturei e dominei mentalmente, certa vez, alguém cuja índole e intenções me eram suspeitas (apenas até o ponto de não chegar a conclusão nenhuma). Já trai excelentes amigos, embora me recuse a assumir total parte da responsabilidade. Por várias vezes, decepcionei dezenas de pessoas que contaram com a minha participação e apoio em seus projetos e planos mirabolantes. Eu nunca atestei ser uma pessoa boa, mas assim como reconheço que os bons momentos e boas ações pertencem ao passado (e portanto estão mortos), também aprendi a lidar melhor com meus erros. Aprendi a fazer pouco juízo dos resultados que obtenho, afinal, ganhar medalha de outro ou de bronze tanto faz. No fim, tanto eu quanto o segundo lugar vamos virar pó!

Diante da morte, todos vivemos em semelhante condição; a de humanos, mortais e criaturas incompletas (para não dizer incompetentes). Continuamos a dançar, nos esforçamos, bradamos, guerreamos, como se isso tudo significasse qualquer coisa. No fim das contas, tudo passa. E esse é um presságio que me desperta profunda esperança. Pois para mim, significa que eu sou livre para viver exatamente como quiser. Com todos meus erros e imperfeições, eu sou livre para ser o que me der na telha!

Não existe ninguém acima e nem abaixo de nós. E isso é libertador. Somos todos criaturas sofredoras. Quando deixarmos de competir para ver quem sofre mais, quem merece mais ou menos pena, vamos aprender a caminhar juntos. Vamos fazer dessa experiência a melhor de todas, não importando os resultados, mas a máxima apreciação pelos processos!

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Caverna de Acadêmicos

Você já deve conhecer o velho Mito Platônico. As sombras na parede, as mãos que manipulam a realidade, os corajosos homens que quebram as algemas e percorrem o ingrime e perigoso caminho para fora da caverna, até o fabuloso encontro com a luz do mundo exterior. 
O detalhe é, todos os que são familiares com esse mito estão, sempre, plenamente convictos de que eles - e não os outros - estão mais próximos de caminhar em direção à luz, a sentar e ficar a ver sombras na parede. É sempre o outro, o alienado. É sempre o outro, um tolo iludido com uma falsa realidade. E eu te pergunto: O que te dá tanta certeza de que é você e não o outro quem está caminhando para a luz?

Que garantia você tem? Todos nascemos circunscritos em uma redoma social e intelectual muito próxima. Presos em um período limitado do espaço-tempo, nossa percepção da realidade é tão limitada que chega a ser ridículo! Nossa percepção sensorial é estupidamente falha, a nossa capacidade de abstração, salvo exceções (os QI's acima da média), é limitada.

Não bastando tudo isso, eu fico impressionado como algumas pessoas acreditam ter se libertado completamente da prisão da realidade por terem se desvencilhado de apenas uma potencial algema. Como o caso de ateus que, por terem se livrado da percepção limitante dos dogmas religiosos, acreditam terem se libertado por completo. Ou ainda quando alguém começa a estudar sociologia e, ao começar a enxergar as vendas da Ideologia, passam a se sentir efetivamente libertos. Nada lhe soa absurdo nisso tudo? Perceber as algemas que te prendem não necessariamente te torna livre delas!


Todos temos essa versão romantizadas de nós mesmos. A percepção de que nós - e nunca os outros - detemos todos os segredos da realidade e do universo bem no verso de nossos cadernos super secretos - com capa do filme Matrix. Não será mais provável que estamos, todos, nos esgoelando e nos matando por culpa de algumas certezas nada certas, ou ainda algumas verdades nada sinceras?

Quase qualquer interpretação do real pode servir para tapar os buracos que ainda não conhecemos. Deus, Big Bang, Panspermia, Anti-Cósmicos.... Tudo é tão coerentemente sensato (dentro de sua própria lógica), que passa a ser apenas uma questão de escolher a ilusão que lhe agrada melhor.

A CAVERNA TEM CAVIDADES

É um conceito que estou roubando de um amigo sobre esse mesmo mito. A caverna tem várias e várias cavidades, provavelmente. Quando você pensa ter chegado ao fim dela, possivelmente, apenas encontrou uma cavidade mais ampla e com maior claridade. Por exemplo, as pessoas que param de assistir televisão pois dizem que os noticiários mentem, mas ficam chafurdados na internet e viram zumbis ambulantes, sem disposição ou energia para nada. Por um lado, deixaram de sofrer a lavagem cerebral dos programas de péssima qualidade da tevê aberta e dos comerciais. Por outro lado, continuam viciados no experimento mais antigo de manipulação mental - aquele no qual você se vicia e se encarcera por livre espontânea vontade.

Procrastinação suga energia e vida. Ficar horas preso e viciado em interwebs, é como trocar o crack por alguma droga mais chique e sintética, feito o êxtase. Na prática, você continua alimentando os mesmos EGO's, apenas refinou o seu gosto (e intensificou o seu EGO).


Há de se considerar que o Mito menciona que existam homens que, conscientemente, projetam um mundo de fantasia e ilusão para que os bobos se mantenham INERTES e APÁTICOS, apenas observando as sombras, PACIFICAMENTE. Despertar para a realidade envolve muito mais do que simples estudo e erudição. Envolve atividade, envolve ação transformadora. Quebrar as algemas que foram implantadas no seu sub-consciente envolve esforço mental e o tolhimento de uma série de hábitos que foram incutidos no seu dia-a-dia sem que se desse conta.

Estão constantemente te educando. Criam novos produtos sem a menor ansiedade em saber se você se interessa por eles ou não, pois estão seguros de que hão de ensina-lo a querer-los. Criam brinquedos divertidos, traçam metas absurdas e incoerentes de vida. Vendem sonhos em embalagens prontas. Reproduzem necessidades inventadas como essenciais à vida. Caso você almeje liberdade, terá de perceber todas essas algemas e, uma a uma, libertar-se dessa programação vil que foi incutida em sua própria mente, até que essas algemas desapareçam na sua vida material.


Eu estaria sendo extremamente incoerente se eu tentasse afirmar que eu estou mais perto o mais longe que qualquer outra pessoa nessa trajetória. Em suma, devo dizer que ainda não comecei a me deslocar apropriadamente dentro da caverna. Tive minhas breves imersões. Bisbilhotei o que existe logo ali na esquina, depois de me librar de algumas algemas, o que me permitiu mais mobilidade. Mas não me arriscaria dizer que já me livrei de todas, muito menos que cheguei a vislumbrar qualquer resquício de luz que venha do lado de fora (ao menos, não de frente). Eu apenas sou um que estou trabalhando, estou engajado no meu processo de libertação e, venho por meio desta prosa, lembrar aos meus irmãos. Não se iludam com o falso progresso. Não tomem um simples passo por um salto. O caminho é longo e o mais importante é não permanecer parado. Portanto movimente-se! Só quando nos debatemos de um lado a outro é quando perceberemos como são as amarras que nos prendem.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Você é feliz?

Você anda despreocupado com o futuro? Aprecia mais a companhia de pessoas com bom humor do que o dinheiro que gasta com produtos caros? Consegue extrair satisfação das coisas simples da vida, ao invés da sofisticação de um modelo idealizado de vida? CUIDADO! Você pode estar sofrendo de uma perigosa síndrome chamada Felicidade!
Obedeça ou morra! Mantenha-se seguro, não seja feliz!
Caso você já esteja em graus mais avançados dessa doença, esse texto será inútil para você, pois a chance de se recuperar é ínfima. Mas caso esteja experimentando alguns dos sintomas mais amenos, talvez, só talvez, ainda há alguma chance de resgatá-lo e te colocar no caminho direito à tempo.

Eu vou tentar lhe recuperar na medida do possível, mostrando o que esse estado de felicidade representa e o mal que ele pode lhe causar. Lhe persuadindo, assim, a aceitar que de forma alguma você não deveria buscar ser feliz ou buscar qualquer proximidade com o que especialistas chamam de estado de felicidade.

Sintomas:

*Displicência: Você se importa de menos com os resultados e demais em fazer com que o processo seja agradável. Ora, vejamos, é tão óbvio que tudo o que importa na vida são resultados! Tudo o que importa é subir de cargo na empresa, é construir uma carreira de sucesso e, mais importante ainda, é nunca se satisfazer com o que tem!

*Falta de Perspectiva: Você não tem grandes ambições, senão a de viver em plenitude e - *cof cof* - em felicidade. Não tem objetivos nem rumos traçados e isso é péssimo! Afinal, que tipo de pessoa não faz planos para daqui a 5 anos, 10 anos, 20 anos? Você não sabe onde gostaria de estar nem como gostaria de estar daqui a 30 anos? Como isso é possível? Todos sabemos que devemos mirar uma carreira de fortuna e reconhecimento alheio! O importante é ter carro importado e viajar de primeira classe para Paris! Nada dessa frescuragem de viver o momento presente. Quando estiver onde gostaria de estar, é vital passar todo o tempo pensando sobre o passo seguinte a ser dado. Nunca se está no cume da montanha e, se algum dia chegar lá, deve haver outra montanha mais alta para ser escalada! (A montanha que eu menciono é de dinheiro, é claro!)

*Amizades Verdadeiras: Esse sintoma é perigosíssimo! Que tipo de gente gosta de companhias valiosas ou confidentes? O importante é ter contatos profissionais e usar de suas amizades apenas a fim de satisfazer seus interesses. Seja para subir na vida (nem que seja subindo pelo ombro dos outros), seja para sexo, casamento (sem qualquer sentimento, óbvio) ou para procriação.

Se você cruzar essa linha, eu te mato! Fique em paz, ou melhor, fique direito!
*Prazeres sem Custos: Imagine que absurdo seria, você ser capaz de sentir prazer, contentamento ou satisfação pessoal, sem gastar um tostão? Pessoa felizes, por mais nauseante que isso seja, conseguem passar uma tarde de verão sentados em um parque municipal, apreciando o vento, a paisagem e o sol (algumas vezes acompanhados de outros doentes feito eles). Não gastam dinheiro com essa atividade e ainda têm a cara de pau de dizer que se sentem bem com isso! Eu não preciso mencionar como tudo isso é absurdo, não é mesmo?

*Sorrir sem Motivos: Se subverter o (sagrado) uso do dinheiro como moeda de prazer e satisfação ainda não fosse suficiente para esses sociopatas sem escrúpulos, eles ainda sorriem sem qualquer razão. Esse é, sem dúvida, um dos seus atos mais irreverentes e perigosos por que, por meio de um sorriso des-referenciado, eles tem o poder de contagiar outras pessoas com o vírus da felicidade. Tome atenção! Caso veja alguém sorrindo na rua, sem motivo aparente (ex: dirigindo um carro de luxo, comprando futilidades no shopping), exerça seu trabalho de cidadão de bem, consciente, e denuncie no posto policial mais próximo ou, de preferência, consulte um gerente de banco para que ele tome as necessárias providências.
O gráfico acima mostra como à medida em que você se torna mais feliz, menor são suas taxas de ansiedade, preocupação, angústia e estresse. A felicidade contribui na redução dos quatro pilares da pris... do sistema e da sociedade como um todo! Não é possível ser produtivo sem estresse e preocupação! Não é possível manter-se consumindo desenfreadamente sem a sensação de angústia e ansiedade. Portanto, a felicidade te obriga a abrir mão de tudo o que é mais importante!

Espero ter contribuído para te ajudar a evitar esse grande mal para a sociedade, que é essa tal de felicidade. Mais uma vez, obrigado! E caso queira acompanhar meus textos, curta: Gunter Brian

Grupo da Real: Antologia

ALERTA VERMELHO!

ALERTA VERMELHO!

RISCO DE RELATIVISMO MORAL!
RISCO DE CONFRONTO COGNITIVO! 
"Calma, confrade! Nós chegamos e está tudo bem agora!"
Caso você seja um dos "confrades da real", você está sob sério risco de lidar com um texto que em nada vai te agradar. Mas não se preocupe, guerreiro, eu não vim aqui desmentir as palavras de seu grande guru\mestre\sábio\filósofo Nessahan Alita (não integralmente), mas trazer uma perspectiva ainda mais ampla e REALISTA sobre a questão como um todo.


O sujeito:


Eu tenho tanto, mas tanto para dizer, que eu mal sei por onde começar (com vocês). Acho melhor começar com o "precursor" do seu grupo.

Nessahan Alita: seu nome real é Cleber Monteiro Muniz, casado, licenciado em Geografia e especialista em Abordagem Junguiana. Autor de "Magnetismo nas Relações Sociais" (Livro que eu altamente recomendo) e o infame "Como Lidar com as Mulheres".

Sobre a primeira obra que aqui citei, eu considero um excelente texto abordando a forma como as pessoas são manipuláveis por meio de suas paixões e aversões. É um livro que todo Realista deveria de ler com atenção e senso-crítico afiado para, então, observar se ele mesmo não está sendo manipulado para aderir uma 'causa' ou 'doutrina' por meio de uma hábil manipulação de suas aversões e paixões. Em realidade, penso eu, a maioria dos "Realistas" dão pouca senão nenhuma atenção a esse obra, pois acredito que se de fato fizessem, eles não estariam no grupo da Real.

O segundo livro que citei - Como Lidar com as Mulheres - é um interessantíssimo estudo, embora tenha seus altos e baixos (cientificamente falando), sobre o comportamento do Inconsciente Feminino dentro de uma relação amorosa. É aqui que eu começo a minha prosa, de verdade. Alita se empenha em estudar e qualificar muito bem as artimanhas emocionais, chantagens psicológicas e outros recursos de manipulação que (sinceramente) a maioria das mulheres utilizam, na maior parte do tempo, sem reconhecer que assim procedem. Se trata de reflexos do inconsciente e subconsciente, que alternam no papel de vítima e algoz, transformando a "vítima" (a mulher), em um ser de difícil convívio amoroso. Mas o próprio Alita enfatiza, que tal não é razão de demonizar as mulheres a ponto de pensar que elas assim fazem por maldade. É matéria de reflexão. Ele mesmo enfatiza que o livro deve ser lido com bom humor e senso crítico, não com olhar revoltoso e vingativo (como fazem os Realistas ao empurrarem esse livro para quem acabou de sair de um relacionamento conturbado).

Para explicar melhor, vou dar uma breve explicação sobre o que de fato É o Inconsciente, o Consciente e o Subconsciente que tanto menciono.

Inconsciente: São as ações mecânicas, ou, os comportamentos que assumimos sem consciência plena de suas motivações. Em grande parte, as pessoas pensam que o inconsciente se resume a funções vitais ou estritamente anatômicas, como o impulso sexual, o impulso à sociabilidade; mas se estende às formas-pensamento que são impostas pela religião, pela cultura e pela doutrinação social. Os valores morais aceitos sem a devida digestão ou reflexão sobre os mesmos. Ideias e pensamentos fixos, os quais tememos questionar. Todo (falso) moralismo por assim dizer, pertence ao Inconsciente. Pois são construtos psíquicos que foram IMPLANTADOS em nós. Sim, a religião é IMPLANTADA, o senso de obediência ao um ESTADO também não nos é natural, mas construído na nossa formação. Tudo o que faz parte de uma cultura e que nunca buscamos questionar são parte do Inconsciente (POR FAVOR, GUARDE ESSA INFORMAÇÃO).

Consciente: São as ações que tomamos baseadas nas nossas concepções de mundo, de forma lúcida e sob as quais possuímos absoluto controle. Levando em conta a definição de Inconsciente, Consciente é o avesso daquele. Perceba assim, que é algo RARÍSSIMO de se encontrar. Pois 99% do tempo, 101% das pessoas estão agindo, mecanicamente, de acordo com os valores que foram IMPLANTADOS nelas, por meio da lavagem cerebral das escolas, dos "valores familiares", da religião e do moralismo. O pensamento legitimamente livre, é aquele que desperta a verdadeira Consciência há muito adormecida na humanidade.

Subconsciente: É o melhor amigo do Inconsciente. Embora muitos pensem o contrário (por conta da associação geralmente feita de: Inconsciente - Id, Consciente - Ego, Subconsciente - SuperEgo), o Subconsciente é aquele que nos mantém aprisionados no estado de inconsciência. Portanto, é o controlador SIM, mas essa forma de exercer controle, geralmente, nos induz ao sentimento de culpa, ao sentimento de fragilidade e, com isso, nos induzindo de volta aos mesmos conceitos engessados do Inconsciente. Ele nos induz à imobilidade e à incapacidade de mudar nossa condição de vida, ou mesmo a nossa perspectiva de mundo.

Eu trouxe esse recorte, bem especial sobre esses conceitos, que servirá para atender aos objetivos do texto. Se eu fosse esmiuçar a nuances de cada um (Inconsciente, Consciente e Subconsciente), daria para escrever um livro! Mas voltando ao foco, Nessahan Alita descreve com boa precisão o Inconsciente da identidade de gênero Feminino. Cito "identidade de gênero", pelo fato de que qualquer indivíduo identificado com o gênero feminino (independente do seu sexo anatômico) é capaz de apresentar os mesmos sintomas descritos por Alita em seu livro. Mas isso não é tudo. Sendo parte de uma construção social, tanto a identidade de gênero, quanto os defeitos que a ela são atribuídas, são dissolvíveis e contornáveis. Uma mulher que se percebe, conscientemente, estar manipulando ou aplicando jogos emocionais com seu parceiro, adquire assim a possibilidade de mudar a sua atitude e, com isso, deixar de exercer aquele tipo de papel em uma relação.
"Sinta o poder do meu moralismo conservador!"
"Eu sou tãaao realista!"
(PAUSA: Eu tenho de admitir. A linguagem do texto está bem acima da padrão e isso não é a toa. Isso serve para testar o leitor e peneirar quem vai aguentar ler o texto até o fim. É um texto denso, sim. Eu escrevo com essa robustez por opção. Eu poderia fazer a minha prosa muito mais clara e objetiva, mas ao mesmo tempo rasa e facilmente confrontável. O meu objetivo não é "vencer pelo cansaço", mas desafiar o leitor e ler mais e estudar mais sobre os assuntos que abordo aqui)

Eu destaco dois "defeitos" no estudo de Alita:

1. Adotar um referencial científico tendencioso e falível, tal como é a sociobiologia, que consiste em um Darwinismo Sociológico (de baixíssimo rigor científico) em prol de justificar ou explicar o comportamento sexual dos homens e mulheres em sociedade. Eu já detonei todas essas teses aqui, aqui e aqui.

2. Ahhh rapaz! É muito conveniente atacar exclusivamente as mulheres, os defeitos, os problemas e situações por quais elas fazem o (oh! pobre coitado) homem enfrentar, e ignorar que os homens também tem o próprio Inconsciente, igualmente difícil de se lidar! As relações amorosas são difíceis para ambos os lados e, ideologias sectaristas (machistas) só tornam as coisas ainda mais complicadas para ambos os lados!

Descobriram que as mulheres são humanas e têm seus defeitos, e fizeram disso a maior descoberta do último século. Fala sério! Descobriram que o modelo moral imposto à sociedade não condiz com a realidade (ou mesmo à natureza humana). E estão, de todas as formas, tentando fazer a realidade se encaixar com a teoria (que de científica não tem nada!).

Sim, chutei o balde mesmo. Cansei de ser bonzinho e de passar a mão em masculinista alienado com a realidade. Aliás, se vou continuar falado sobre o assunto, é melhor mostrar o maniqueísmo conveniente que Alita assumiu. Ele fez um trabalho muito bom, mas ao mesmo tempo parcial. Sobre ELE, nada tenho a reclamar, pois ele mesmo enfatiza repetidamente a necessidade de se ler seus estudos de forma crítica, sem dogmatismos e sem tomar suas palavras como verdades absolutistas. Outra coisa que ele menciona e todos os "realistas" parecem ignorar, é o fato de que ele NÃO apoia a formação de grupos sectarios baseados nos estudos que ele apresentou (ou seja, ele não apoia a formação de grupos como o da Real).

Um outro sujeito:
Tem ideia de quem eu seja, "confrade"?
"Especialista em Abordagem Junguiana". Maneiro, quantos de vocês, realistas, já estudaram Carl Gustav Jung? De acordo com a psicologia de Jung, existem dois arquétipos do Inconsciente coletivo humano, representados pelos gêneros Masculino e Feminino (nota que há uma distinção entre o gênero e o sexo anatômico). Ao masculino, são atribuídas diversas qualidades ditas masculinizantes, predominando a Atividade, a Projetividade (projeção), Racionalidade, a Razão e a Robustez. Ao Feminino, as qualidades femininas que complementam o outro lado do masculino: Passividade, a Retidão (absorção), a Emotividade (sentimentalismo), a Intuição e a Delicadeza (minucia, cuidado, habilidade).

Mas a coisa não para por aí, não! Segundo Jung, todos indivíduos, independente de seus sexos anatômicos (independente de nascer com piu-piu ou com perereca), são psicologicamente bissexuados. Ou seja, um ser humano saudável deverá ser capaz de equilibrar, em seu íntimo, características e qualidades tanto femininas quanto masculinas. Para tanto, isso significa que o extremismo é indesejado e, invariavelmente, conduziria não apenas os indivíduos, mas a sociedade ao desequilíbrio. Essa deve ser, consideravelmente, a razão por que as relações erótico-afetivas são tão conflituosas e complexas. Afinal, quando dois indivíduos são impelidos a desenvolverem qualidades tão contrárias e antagônicas e perseguir o ideal de serem o exato oposto um do outro, a convivência se torna penosa e conflituosa. Um, não é capaz de compreender o lado do outro. E para tanto, surgem livros e livros tentando prover fórmulas para conviver em casal, quando a solução deveria ser buscada a nível individual. Cada indivíduo deveria ser capaz de equilibrar essas qualidades e características dentro de si, antes de buscar suas "cara metades" em um universo que nada compreendem (o hemisfério oposto), por terem se colocado, arbitrariamente, em um dos extremos.

Taoismo pah que te quero!
Sobre as questões duais eu já expliquei melhor em outro texto. Admitir a dualidade do indivíduo faz parte do processo de amadurecimento do próprio ser humano. Assumir apenas uma das faces significa permanecer incompleto e fadado a não se sentir pleno, muito menos, ao lado de outro indivíduo. Mas isso os realistas não aceitam, pois pensam que essa é parte da conspiração que quer violar o seu posto de ultra-viril, emasculando o homem.

Na sociedade atual, depois de mais de um século de feminismo ativista, à mulher é tolerado um comportamento mais flexível e livre. Ela é permitida aderir características masculinas, tal como o empreendimento, a liderança, e a agressividade, até. Mas isso se dá pelo fato de elas terem a oportunidade de conquistarem, aos poucos, o espaço masculino para explorarem o "outro hemisfério" - o hemisfério das qualidades masculinas. As mulheres estão, proporcionalmente, se permitindo mais. Hoje em dia, já é comum ver grupos de jovens mistos - garotos e garotas, homens e mulheres - como algo natural. Em detrimento de que, há poucas décadas, as amizades eram sectárias até mesmo em relação ao sexo anatômico. Homens só se relacionavam com mulheres,socialmente, se fosse a título de vínculo profissional ou interesse sexual/afetivo.

Vem ser meu jogador numero dois? Vem?!
Existem mulheres que jogam videogame, e isso é natural. Existem mulheres que beijam outras mulheres, mas isso só as faz serem ainda mais desejadas! Enquanto que se um garoto ou homem assume qualquer característica tida como feminina, ele é martirizado, ridicularizado, estigmatizado e é tratado feito mulher.

Esse será o primeiro de muitos textos que vou escrever para mostrar os pontos cegos da ideologia da real. Meu texto de inauguração sobre o assunto é esse.

Caso queira acompanhar meus textos de publicações, curta: Gunter Brian

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Shangrilayla - A Rainha da Noite

Revisando minha (não tão movimentada) caixa de e-mail, encontrei um e-mail sugestão de Will Oliveira, cartunista, game designer e ilustrador. Ele trabalha com quadrinhos desde 2005 e me mandou link para um de seus sites, onde mantém alguns quadrinhos e tirinhas com o tema sobre o combate ao machismo e à homofobia.

Eu vou postar aqui sobre as tirinhas da personagem que brilhou aos meus olhos. Uma fantasia realizada (de verdade). Pessoalmente, eu já cheguei a cogitar escrever um romance sobre uma drag queen heroína que ataca pastores, reacionários e conservadores retrógrados. Mas devo admitir que Will aplicou minhas fantasias de ver uma heroína transgênero em ação de um modo divertido, excitante, inteligente e com muito mais glamour do que a minha imaginação de ogro seria capaz de conceber!

Meus sinceros agradecimentos, Will. Pela indicação, pelo engajamento e pelas histórias!
Deixo aqui um teaser e o link para o site com as outras tirinhas e histórias de outros personagens com temáticas afins!

Valeria a pena conhecer também, meus comentários sobre as tirinhas do Laerte. Ou as polêmicas tirinhas feministas da Tailor. Quem sabe ainda, se interesse pelas tirinhas sobre um Gambá que sonha em ser Guaxinim? Fica a seu critério, mas para acompanhar essas e outras publicações, textos, devaneios, curtam minha página: Gunter Brian

A História de um Gambá

Essa é a história de um Gambá que não se reconhecia como um Gambá, mas como um Guaxinim. Dispenso maiores introduções ao trabalho de meu caro amigo Lagarto Roxo.


Todas as possíveis e honrosas comparações com a questão de transsexualidade são nítidas nessas tirinhas boladas por um bom amigo meu, ilustrador e almejante quadrinista. Curtam sua página, ou ainda a minha página no facebook (Gunter Brian), para acompanhar suas tirinhas e/ou meus textos e conteúdos diários!

Masculinistas da Real

Você sente o efeito deles, mas nem sempre entende de onde eles vêm. Machos convictos, fortes (???), homens preocupadíssimos com o auto-desenvolvimento e o empoderamento dos alfas-viris. Sim, eles mastigam feministas junto com o cereal do café da manhã. Peitam feminazis - gordas pelancudas - e sempre têm um gilete preparado para enfrentar o socavo cabeludo de uma militante selvagem da FEMEM.
Sigam-me confrades! Vamos ao ataque!
São eles, os temíveis Machos Realistas. Machistas convictos, proferem seu ódio a qualquer forma de defesa à mulher, como se fosse um ataque contra os homens. Defendem uma visão romantizada do machismo, onde eles seriam nada além de nobres guerreiros defensores da família, guardas vigilantes da sociedade e inestimáveis bons partidos por quais todas as mulheres deveriam disputar.

Não é raro vê-los por aí, na internet. (Exatamente onde todos têm a liberdade de criar uma versão P.I.M.P. de suas próprias vidas) São encontrados com facilidade na sessão de comentários de blogs feministas (ou qualquer coisa que pareça feminista ou esquerdista). Vociferam ódio, repulsa, descontentamento, frustração e fúria contra todas as formas de expressão de ódio contra os homens. Têm palavras como esquerdalhas, idiotas úteis, feminazis, manginas e misandria na ponta da língua (ou melhor, dos dedos). 

A zueira e a falta de seriedade começa quando a imagem de capa de um de seus grupos de apoio e doutrinação no facebook é um exércitos de homens gays. "O que? Os guerreiros de Esparta? Gays?" Não que isso seja um problema (para qualquer humano descente, não é), mas para eles - machos viris - deveria ser. Os guerreiros espartanos são historicamente famosos por sua cultura masculinista, sim, mas também homossexual! Eles defendiam que o amor só poderia existir entre guerreiros e, portanto, suas esposas serviam apenas para procriação. Os garotos eram forçados a aderir o treinamento militar com sete anos e, comumente, era razão de grande orgulho para um pupilo jovem ser abusado sexualmente pelo seu mestre ou veterano.
Oh! Como ele ousa? Defenda-me Doutrinador, defenda sua podre e indefesa donzela!
Ah, sem dúvida. Se tem uma coisa sobre a qual os masculinistas da real não entendem, é sobre história. Eles criaram uma versão própria da história, onde eles se colocam na posição de nobres defensores do lar e mártires de guerra contra a opressão da nossa sociedade feminista (???) que só beneficia as mulheres e prejudicam aos homens, sem exceções.

Criaram sua própria linguagem interna:

Mangina: Man + Vagina (Homem Vagina). São os famosos lambe-salto. Rapazes que fazem tudo pelas suas amigas por quem eles morrem de amores, mas não têm coragem de assumir o que sentem (pois conhecem, premeditadamente, que serão rejeitados). Eles de fato existem, mas são os mesmos que os próprios masculinistas defendem em outras páginas quando vociferam contra as mulheres que deixam seus guerreiros nobres caírem na friendzone (uma espécie de limbo dos relacionamentos afetivos). Coerência mandou lembranças!

CSP: Capitão-Salva-Putas. Qualquer homem que encane de namorar (ou ainda casar) com alguma mulher que já foi rodada no mercado. A velha separação entre putas e mulheres para casar. Pois eles preferem mulheres sem qualquer experiência sexual pois, assim, elas não poderão comparar seu desempenho com o de nenhum outro homem. Portanto, eles não terão motivos de inseguranças sobre seus membros minúsculos nem sobre sua falta de potência libidinal. Não gostam de competição e assumem que mulheres de verdade só fazem sexo para agradar seus maridos (já que eles só se importam em satisfazer seu próprio prazer, sem espaço para o prazer feminino na relação). Uma troca justa, não é mesmo? Ele provém dinheiro, conforto e proteção, elas provém sexo, filhos, casa arrumada e jantar na mesa. Justo - só que nunca!

M$OL: Mãe solteira. O cifrão no meio da sigla serve para indicar que uma mãe solteira é nada além de uma vadia que foi largada por um cafajeste que não teve cara de pau de assumir o filho. Aceitar criar o produto do esperma de outro homem, significaria se rebaixar ao status de homem-beta, portanto, inferior. (Ignorando o fato de que metade dos genes da criança vieram da mãe, a criança passa a ser uma propriedade autoral exclusiva do saco escrotal de seu progenitor)


Eu poderia continuar fazendo minha análise e estudo de caso, mas prefiro voltar a falar mais sobre esse grupo curiosíssimo mais para frente. Por enquanto, eu aproveito o fato de eu estar infiltrado em seus grupos, para mostrar algumas das pérolas que coletei naquele grupo. Essa, a princípio, é sobre uma polêmica que foi levantada no grupo sobre as M$OL's.

A discussão na publicação se estenderia ad infinitum, mas apenas com essa pequena amostragem já é possível perceber como é o patamar das discussões filosóficas desse grupo. Ainda vou escrever melhor sobre seu suposto precursor, Nessahan Alita, entre outras pérolas do grupo e sua atuação, até mesmo nesse blog!

Se querem uma amostra do que esse tipo de ideologia é capaz de fazer, observem os comentários de uma das minhas publicações mais agitadas, sobre uma compilação de tirinhas de uma página de facebook.

Para quem se interessar em entrar para conhecer os grupos, apresento aqui: Filosofia da Real, que é um espaço de preparação mirim para os que vão entrar mais tarde no grupo da Metendo a Real. Mesmo que você não se interesse em entrar (já que apenas homem são permitidos nesses grupos), eu recomendo que dê uma olhada na relação de membros. Veja se seu namorado não está lá (e caso ele esteja, eu ainda vou escrever um texto que te convencerá a largar de uma vez por todas esse relacionamento de merda), ou ainda, entenda por que aquele seu amigo fala tanta besteira impensada, descobrindo que ele faz parte, na realidade, desses bizarros clubes do bolinha.

Em continuidade a esse texto, já escrevi os primeiros rabiscos da Antologia da Real.

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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Cidadãos de Bem: O Mito

Citação recorrente em debates políticos, geralmente, de natureza etno-fóbica, por vez ou outra cruzamos caminho com certos cidadãos de bem. Homens trabalhadores, crianças e mulheres de família direita, humanos humanamente dignos e corretos. Incapazes de cometerem crimes, eles merecem a proteção do estado e da polícia contra o bandido do morro.

Tirinha do Andre Dahmer - Malvados
É curioso imaginar o que serviria de apoio para sustentar uma tese tão puritana, quanto tal que defende uma classe de indivíduos super virtuosos e de índole inquestionável, que teriam mais direitos do que qualquer outra classe de cidadãos. Falta pouco pedirem o direito de serem clientes preferenciais em mercados e ganharem os primeiros acentos em show e exposições: "Abram alas para os cidadãos de bem!". (E assim estende ao chão um tapete vermelho - vermelho de sangue dos bandidos do morro)


O conservadorismo está permeado de justificativas filosoficamente coerentes para suas atitudes e posturas claramente racistas e preconceituosas. Clamam cláusulas da constituição, citam versículos para defender a moral e bons costumes, mas se esquecem que o mundo prático é infinitamente distante do mundo idealizado pelo velho (e novo) testamento e pela constituição de 1988.


Quando um cidadão de bem defende pena de morte para bandidos, ou vociferam contra o modo humanitário como bandidos e criminosos são tratados pela trupe dos direitos humanos; eles não percebem - ou fingem que não percebem -, mas estão apoiando um genocídio etno-cultural. É fácil perceber como quando eles mencionam bandido, a imagem que lhes vêm em mente é de um homem negro, classe média-baixa, morador de periferia ou favela, pés descalços ou chinelo, bermuda velha/suja, camisa do flamengo/sem camisa e que aponta uma arma para um cidadão de bem indefeso.
Cidadão de bem gosta de fazer justiça com as próprias mãos.

Diariamente os cidadãos de bem são bombardeados nos noticiários com imagens de notícias que reforçam constantemente o esteriótipo do bandido pobre favelado. Faz até parecer que a tendência à bandidagem é por culpa da cor ou condição social. Existem sim, os favores de risco social que facilitam e até mesmo tragam os jovens da periferia e da favela para se aliarem ao tráfico ou outras facções criminosas: Difíceis condições de estudo, falta de oportunidades de emprego, coercitividade do meio, para citar apenas alguns fatores de risco. Porém, não é sobre isso que quero falar aqui, mas sobre a face oposta, o pseudo-puritanismo dos cidadãos de bem.

Trago em pauta um caso famoso da minha região natal, Vitória ES. Araceli Cabrera Crespo, 9 anos incompletos, foi dopada com LSD, estrupada, violentada, dilacerada a dentadas e teve seus restos mortais desconfigurados com ácido, para dificultar a identificação.


Voltando um pouco a fita, no dia 18 de maio de 1973, Araceli saiu mais cedo da escola, a pedido da mãe, que escrevera um bilhete para a professora. A menina se dirigiu então a um edifício levando um envelope que continha — sem que ela soubesse — drogas para serem entregues a um grupo de rapazes, conhecidos por realizarem orgias regadas a narcóticos e álcool. Uma vez na mão dos rapazes, ela não teve escapatória.

Entre os líderes do grupo, citam-se dois nomes de famílias influentes da região, Paulo Constanteen Helal, o Paulinho, e Dante de Brito Michelini, o Dantinho. Burgueses, soberbos, mantinham apartamentos na região da cidade exclusivamente para fazerem suas festas noturnas agitadas e recheadas de narcóticos, orgias e ocasionais ultraviolências; como a do caso Araceli.

Depois de muito suborno, paitrocínios e tentativas de julgarem o caso, os réus permanecem praticamente impunes, salvo um breve período de poucos meses que passaram na cadeia. É um caso emblemático de impunidade e cumplicidade das instituições do Estado para com a mórbida crueldade da high-society. Outros diversos casos de rapazes de classe média alta que saem de madrugada com o carrão do papai, junto com mais três amigos marombeiros e aproveitam para espancar um mendigo ou uma empregada no ponto de ônibus, são algumas vezes noticiados. Mas qual será a verdadeira frequência de casos de criminalidade, brutalidade e violência que vêm das classes superiores e não das classes subalternas?
Charge de Carlos Latuff sobre o helicóptero cheio de cocaína de um deputado do PSDB 
A justiça ainda julga sob diferente peso e medida um crime cometido por um milionário e o mesmo crime (em menor escala) cometido por um favelado. Enquanto esse parâmetro não for à justo e medida, haverão aqueles que acreditam que roubar e matar são atitudes exclusivas de traficantes do morro, mas ignoram a corrupção dos empresários e dos ladrões do colarinho branco - infinitamente mais mortais e prejudiciais do que ladrões de galinha ou pão da padaria.

A teoria criminalística comprova: 99% dos crimes não são reportados ou noticiados. Todos os cidadãos haverão de infligir a lei, mais dia ou menos dia. Não existe atestado de bom mocismo. Não existe uma classe de indivíduos que sejam imunes a julgamentos criteriosos. O esforço para se manter justo deve ser diário, contínuo.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Romário: o Deputado

É GOL!

No mesmo ano em que mais de um milhão e meio votaram no Tiririca para deputado federal em São Paulo, outro hipotético candidato piada foi eleito. Contudo esse, fez muito mais do que números na urna eletrônica - fez muito mais mesmo!
Da camisa suada à camisa engomada.

Em seu escopo legislativo, incluem um projeto de Lei que regulamenta como profissão as atividades relacionadas à cultura hiphop (DJ, MC, Rapper, Beat Box, Dança Urbana e Grafite); um projeto de Lei que facilita a importação  e material de pesquisa científica; e tão recentemente um projeto de Lei que criminaliza a dita pornografia de vingança

É especificamente sobre esse último projeto que eu pretendo conversar aqui. Após dois incidentes onde vídeos e imagens de relacionamentos íntimos foram "vazados" na internet e no whatsaap, Romário decidiu criar uma lei que criminaliza a divulgação indevida de material íntimo.

O caso de Júlia Rebeca, estudante de 17 anos chocou por conta da consequência catastrófica que teve. A adolescente tirou a própria vida após a ampla divulgação de dois vídeos em que ela aparecia fazendo sexo com o namorado. Thamiris Mayumi Sato, 21 anos, também chegou a denunciar o ex namorado de 26 anos, por disponibilizar online imagens íntimas da ex namorada e ainda ameaçá-la de morte.

É curioso como a repressão é sempre em cima da mulher. Puta, vadia, vendida... Poucos tomam consciência de que condenável mesmo é a atitude de quem disponibiliza esse tipo de material na internet, sem o consentimento da vítima

Contudo, antes da exposição sexual ser um problema, existe outra problemática. Por que o sexo deveria ser razão de vergonha ou humilhação? Muitas das mulheres que sofrem esse tipo de exposição acabam por perder o emprego, é mal dita entre os familiares, amigos, conhecidos. Dificilmente arruma um emprego, enquanto o caso não é abafado. Quando se trata de uma estudante, a convivência escolar se torna impossível. E para todos os casos, não são os "homens porcos machistas" que a perseguem e julgam, mas a sociedade como um todo - talvez, principalmente as mulheres.

Xiu nos masculinóides internáuticos!
Em entrevista, Romário defende que as pessoas que têm fetiche com filmagens e fotos íntimas, devem ter a liberdade de assim fazer. Recomenda ainda, às mulheres, que mantenham com elas a posse das gravações ou imagens, para evitar que, após o rompimento, o ex tenha a possibilidade de fazer esse tipo mesquinho de revanche.

É notável como a cultura que busca culpabilizar a mulher ultrapassa os ambientes religiosos - onde Eva desobedece seu Patrono e come o fruto proibido - perpassa a escola - antigamente separada em ambientes para meninos e meninas - chegando à cultura que objetifica a mulher e disfarça uma falsa aceitação da sexualidade feminina.

A mulher foi colocada na posição de objeto sexual e privada da posição de sujeito sexual. Quando questionado sobre a hipotética exploração do corpo feminino em seus quadrinhos, Milo Manara (desenhista de quadrinhos e história eróticas) responde que em suas histórias a mulher é sempre um sujeito sexual, atuante, viva, ativa e exploradora. Enquanto em outros universos da industria cultural, tal como a pornografia, a mulher é sempre colocada na posição de objeto. Obediente, ela acata a ordens, ela se humilha, geme enfurecidamente e nada questiona. Anseia pelo membro viril de seu parceiro como quem busca por água no deserto (das comparações, a mais simpática). Insaciável, ela pode ser promíscua apenas ao ponto de satisfazer às fantasias masculinas e, o mais curioso de tudo, ela nunca recusa sexo. Imagine uma geração inteira que cresceu com essa visão deturpada sobre a sexualidade e prazer? As repercussões e implicâncias disso nós vemos a todo momento.

Demonstrações fortes da sexualidade feminina, como as feitas nas músicas da Valesca Popozuda são, frequentemente, censuradas e tidas como indesejadas. A mulher não pode desejar, não pode ser imperativa nem ativa. Deve ser forçosamente obediente e ter sua sexualidade sob controle do macho em cena.

Juntando esses fatores e constatações, percebemos como existe, de fato, uma cultura que tenta dar ao homem direitos de propriedade e controle sobre o corpo feminino. Dá-se então que marmanjões se sentem no direito de exibir sua ex propriedade na internet como forma de mostrar o quanto ela não têm mais valor. Afinal, no patriarcado, o único valor que uma mulher têm é o seu apelo sexual, é a formosura de seu corpo. Caso seu produto for exposto para quem queira consumi-lo, ela perde o apreço, o valor, a dignidade... 

Caso essa lógica, sexista, não seja quebrada, vamos continuar testemunhando esses e mais uma dezena de casos (que parecem estar entrando na moda) de exposições eróticas sem autorização. O projeto de lei de Romário veio em boa hora, mas penso eu, podemos fazer muito mais. Podemos amadurecer a sociedade de modo que casos como esses não tenham as repercussões tão trágicas e desnecessariamente mórbidas como vêm ocorrendo. Basta uma mudança de mentalidade, de postura ante o sexo e ante o corpo feminino.

Para quem queira acompanhar meus textos, curtam minha página no facebook! Obrigado!

domingo, 5 de janeiro de 2014

Mais uma vez, de uma vez por todas!

Dessa vez eu vou desenhar. Sim, muito útil para o caso como você pode estar experimentando agora - o caso de ter recebido um link para essa publicação a título de esclarecimentos. Preste bem atenção pois eu só vou fazer isso mais UMA vez. Eu vou explicar as distinções entre Gênero, Sexo e Sexualidade.

Cores gritantes, sim! Dessa vez foi no Corel Draw
Cada campo tem sua definição distinta e absolutamente separada uma da outra:

Gênero:

São ficções culturais. Ou seja, foram CRIADOS, MOLDADOS, INVENTADOS e disseminados na sociedade por meio das instituições escolares, religiosas, estatais e culturais. Homem e mulher representam modelos emblemáticos de seres humanos. Ninguém nasce homem, nem mulher, mas são educados para desempenharem papéis, funções. Somos ensinados a encenar desde o nascimento e, toda ação que aparentemente nos colocaria fora do personagem é automaticamente corrigida pelo diretor de cena (seja o professor, o padre ou seus responsáveis).

Homem: Estritamente masculino, desempenha o papel do bagunceiro, desleixado, arrogante, agressivo, trabalhador. Sexualmente insaciável, não pensa em outros tópicos senão em sexo, cerveja e futebol. Política e filosofia é coisa de mariquinha. Trabalho doméstico ele deixa para sua mãe e, mais tarde, para sua esposa.

Mulher: Estritamente feminina, recatada, desempenha o papel da educada, faz aulas de etiqueta, se dá ao respeito, deve se esforçar a todo custo para se reservar ao seu futuro pretendente, senão, acabará por ser (merecidamente) taxada de vadia e, uma vez rendida à tentação sexual com que o capiroto manipula as mulheres, se tornará uma depravada sedenta por sexo (famosa feminista). Sua função se resume a ser uma incubadora, mãe, dona de casa e empregada doméstica.

Reforço pois, são FICÇÕES, INVENÇÕES antigas que são constantemente reinventadas com a intenção de manter ambos homens e mulheres sob um estado de estagnação e dominação mental.

Sexo Anatômico:

Esse é o mais fácil de explicar. Resumindo: Tem piu-piu, é do sexo masculino; tem pererequinha, é do sexo feminino. Eu poderia ter usado a questão cromossômica para definir o sexo anatômico, mas isso me colocaria em contradição, mais tarde. São dois, os complicadores a respeito do sexo anatômico:

1. Nascer de um determinado sexo anatômico não necessariamente vem acompanhado do gênero que o representa: Ou seja, mesmo que você nasça com piu-piu, isso não te impede de desenvolver uma personalidade do gênero mulher, afinal, como os gêneros são FICÇÕES, não existe qualquer inclinação natural para o desenvolvimento da psique de um indivíduo do sexo masculino ou feminino, para um ou outro gênero. Então, um representando do sexo feminino que se comporta como menino, não é anti-natural, mas perfeitamente cabível, dado que, ele simplesmente se identificou com a MÁSCARA que lhe pareceu cabível. Entrou no personagem errado, mas não é culpa dele, mas culpa da sociedade que não deixou claro para ela que o figurino dela deveria ser outro!

(Aos que assumem o gênero correspondente ao seu sexo anatômico, dá-se o nome de cis-gênero. Aos que assumem o gênero do sexo anatômico oposto, dá-se o nome de trans-gênero)

2. Nascer de um sexo anatômico, não implica que você vá aceitar viver no corpo que nasceu: Existem ainda casos de pessoas que nascem de um determinado sexo, mas sentem que, em realidade, deveriam pertencer ao outro sexo. São as "mulheres no corpo de um homem" e "homens no corpo de uma mulher". Recorrentemente, eles têm dificuldade em ter relações íntimas com quem quer que seja, pois não se sentem confortáveis em ter outras pessoas tocando um corpo que eles não aprovam. Para esses casos, aplica-se a mudança de sexo.

(Para os que sentem que nasceram no sexo errado, dá-se o nome de transsexual)

Cada qual em sua área, cada qual independente e que se associa livremente.
Sexualidade:

Esse é o campo mais diversificado. A sexualidade é completamente desvinculada dos tópicos abordados acima, por incrível que pareça. Ser transsexual, não implica ser homossexual (em relação ao sexo de nascença). Ser transgênero não implica em ser homossexual também. SIM, existem homens, que se vestem e se comportam como mulheres, mas gostam e sentem desejo sexual por MULHERES. Assim como existem pessoas do sexo feminino que querem fazer mudança de sexo para poderem se relacionar com... outros do sexo masculino!

Eu acredito que pouco preciso mencionar que não existe um modo de exercer a sexualidade que seja mais normal ou natural do que qualquer outra. Heterossexual ou homossexual são convenções formalizadores, provavelmente, distantes da realidade onde, esses campos não são tão distinguíveis como água e óleo. São construções sociais que tentaram empurrar ao longo dos séculos como padrões normativos, representado pela distinção homem-masculino-hétero e mulher-feminina-hétero. Deixemos eles nos quadrados deles, não é?

Pode parecer confuso, mas é só olhar para o diagrama acima. Cada qual, círculo, quadrado e triângulo, cada qual pode ser preenchido, livremente, por qualquer combinação das opções dos campos delimitados no primeiro diagrama. Enxergue os campos gênero, sexo e sexual como campos em branco que podem admitir todas as formas imagináveis e criativas de serem preenchidas e combinadas. Eu já dei exemplos suficiente necessários para mostrar como isso é possível e como ocorre, todos os dias.



Deixo aqui a minha contribuição de vital utilidade pública. A próxima vez que você encontrar alguém vociferando asneiras sobre transgênero e sexualidade no facebook, na rede social, em um fórum, na rua, na balada, no cinema... Meta esse link na fuça dele! De nada!

Caso se interessem, compilei uma série de tirinhas que um amigo ilustrador fez em analogia ao tema, aqui.

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