No mesmo ano em que mais de um milhão e meio votaram no Tiririca para deputado federal em São Paulo, outro hipotético candidato piada foi eleito. Contudo esse, fez muito mais do que números na urna eletrônica - fez muito mais mesmo!
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Da camisa suada à camisa engomada. |
Em seu escopo legislativo, incluem um projeto de Lei que regulamenta como profissão as atividades relacionadas à cultura hiphop (DJ, MC, Rapper, Beat Box, Dança Urbana e Grafite); um projeto de Lei que facilita a importação e material de pesquisa científica; e tão recentemente um projeto de Lei que criminaliza a dita pornografia de vingança.
É especificamente sobre esse último projeto que eu pretendo conversar aqui. Após dois incidentes onde vídeos e imagens de relacionamentos íntimos foram "vazados" na internet e no whatsaap, Romário decidiu criar uma lei que criminaliza a divulgação indevida de material íntimo.
O caso de Júlia Rebeca, estudante de 17 anos chocou por conta da consequência catastrófica que teve. A adolescente tirou a própria vida após a ampla divulgação de dois vídeos em que ela aparecia fazendo sexo com o namorado. Thamiris Mayumi Sato, 21 anos, também chegou a denunciar o ex namorado de 26 anos, por disponibilizar online imagens íntimas da ex namorada e ainda ameaçá-la de morte.
É curioso como a repressão é sempre em cima da mulher. Puta, vadia, vendida... Poucos tomam consciência de que condenável mesmo é a atitude de quem disponibiliza esse tipo de material na internet, sem o consentimento da vítima.
Contudo, antes da exposição sexual ser um problema, existe outra problemática. Por que o sexo deveria ser razão de vergonha ou humilhação? Muitas das mulheres que sofrem esse tipo de exposição acabam por perder o emprego, é mal dita entre os familiares, amigos, conhecidos. Dificilmente arruma um emprego, enquanto o caso não é abafado. Quando se trata de uma estudante, a convivência escolar se torna impossível. E para todos os casos, não são os "homens porcos machistas" que a perseguem e julgam, mas a sociedade como um todo - talvez, principalmente as mulheres.
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Xiu nos masculinóides internáuticos! |
Em entrevista, Romário defende que as pessoas que têm fetiche com filmagens e fotos íntimas, devem ter a liberdade de assim fazer. Recomenda ainda, às mulheres, que mantenham com elas a posse das gravações ou imagens, para evitar que, após o rompimento, o ex tenha a possibilidade de fazer esse tipo mesquinho de revanche.
É notável como a cultura que busca culpabilizar a mulher ultrapassa os ambientes religiosos - onde Eva desobedece seu Patrono e come o fruto proibido - perpassa a escola - antigamente separada em ambientes para meninos e meninas - chegando à cultura que objetifica a mulher e disfarça uma falsa aceitação da sexualidade feminina.
A mulher foi colocada na posição de objeto sexual e privada da posição de sujeito sexual. Quando questionado sobre a hipotética exploração do corpo feminino em seus quadrinhos, Milo Manara (desenhista de quadrinhos e história eróticas) responde que em suas histórias a mulher é sempre um sujeito sexual, atuante, viva, ativa e exploradora. Enquanto em outros universos da industria cultural, tal como a pornografia, a mulher é sempre colocada na posição de objeto. Obediente, ela acata a ordens, ela se humilha, geme enfurecidamente e nada questiona. Anseia pelo membro viril de seu parceiro como quem busca por água no deserto (das comparações, a mais simpática). Insaciável, ela pode ser promíscua apenas ao ponto de satisfazer às fantasias masculinas e, o mais curioso de tudo, ela nunca recusa sexo. Imagine uma geração inteira que cresceu com essa visão deturpada sobre a sexualidade e prazer? As repercussões e implicâncias disso nós vemos a todo momento.
Demonstrações fortes da sexualidade feminina, como as feitas nas músicas da Valesca Popozuda são, frequentemente, censuradas e tidas como indesejadas. A mulher não pode desejar, não pode ser imperativa nem ativa. Deve ser forçosamente obediente e ter sua sexualidade sob controle do macho em cena.
Juntando esses fatores e constatações, percebemos como existe, de fato, uma cultura que tenta dar ao homem direitos de propriedade e controle sobre o corpo feminino. Dá-se então que marmanjões se sentem no direito de exibir sua ex propriedade na internet como forma de mostrar o quanto ela não têm mais valor. Afinal, no patriarcado, o único valor que uma mulher têm é o seu apelo sexual, é a formosura de seu corpo. Caso seu produto for exposto para quem queira consumi-lo, ela perde o apreço, o valor, a dignidade...
Caso essa lógica, sexista, não seja quebrada, vamos continuar testemunhando esses e mais uma dezena de casos (que parecem estar entrando na moda) de exposições eróticas sem autorização. O projeto de lei de Romário veio em boa hora, mas penso eu, podemos fazer muito mais. Podemos amadurecer a sociedade de modo que casos como esses não tenham as repercussões tão trágicas e desnecessariamente mórbidas como vêm ocorrendo. Basta uma mudança de mentalidade, de postura ante o sexo e ante o corpo feminino.
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