"É preciso a coragem de ser um caos para gerar uma estrela dançarina." - F. Nietzche.

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

A Crise Erótica

Ahhh! Estava ansioso para estrear um dos meus assuntos favoritos! Ainda que o preconceito contra os admiradores das artes sensuais seja ENORME, eu não escondo a minha face ante a moralidade distorcida da sociedade.
Panicats. Ícones de uma sensualidade industrializada.
Eu assumo, é sempre muito difícil lidar com a imaturidade humana quando o assunto é erotismo, sensualidade e sexo. Muito frequentemente, erotismo é confundido com pornografia, e vice versa. Ainda é muito difícil colocar um divisor de águas entre esses dois campos. Mas eu vou tentar trazer uma perspectiva absolutamente pessoal para o assunto.

Na nossa era pós-modernista, onde a noção de tradição e pertencimento a uma determinada cultura perde sua referencia, surge uma lacuna fácil de ser preenchida pelas ideologias consumistas. Tudo se torna produto. Tudo tem um preço. A produção de bens de consumo se industrializa quase completamente. As relações interpessoais se tornam cada vez mais comerciais e impessoais.

Assim aconteceu com o sexo, com o amor. Não seria diferente com a sensualidade e erotismo. A pornografia vem suprir a demanda por um prazer imediato, impessoal e modelado. Não existem grandes surpresas ai. O roteiro é simples e direto. O objeto de interesse, o sexo, é tratado como um bem de consumo material, como são os enlatados no supermercado. Descartáveis, empacotados em embalagens quase idênticas e de conteúdo previsível.

O erotismo surgiu da necessidade do homem de transcender as restrições. Temendo a própria natureza, o homem, desde cedo, era ciente do perigo de seus próprios impulsos, caso permitisse que esses se aflorassem descomedidamente. Enquanto precisava trabalhar para sobreviver e se defender da natureza, era necessário negar seus impulsos básicos para desempenhar tarefas específicas, direcionando toda sua energia e atenção a um determinado foco.
Sasha Grey. Ex atriz pornô, atual escritora,
música, e referencia pop.

Entre a obrigatoriedade do trabalho, e o impulso restringido, surgiu uma forma de extravasar os estresses e tensões. Surgiu o Erotismo. Válvula de escape para as proibições e limitações ao exercício sexual, o Erotismo é a transgressão necessária. Um re-equilíbrio de forças.

Esse jogo constante, entre proibição e transgressão, permitiu o desenvolvimento da cultura, linguagem e a intelectualidade como conhecemos. Se não fosse pelas proibições, o homem seria engolido e devorado por suas paixões e impulsos, sem possibilidade de evoluir a cultura por meio do trabalho. Enquanto que no outro lado da moeda, sem a transgressão, as regras perdem o seu propósito de existir, e a própria existência, se fosse absolutamente regida por regras e parâmetros invioláveis, perderia o sentido e existir. A humanidade se extinguiria estagnada pela apatia e falta de propósito.

Segundo o diretor Woody Allen, "a pornografia é o erotismo dos outros". Com essa frase eu explico que, erotismo diz respeito as nossas fantasias pessoais. É algo íntimo, pessoal, personalizado à maneira de cada um. A pornografia atende uma demanda de se formalizar o erotismo em um molde generalizado e de consumo simples, fácil, homogenizado.

Pornografia é o erotismo de massa. Note, eu não disse que é o erotismo das massas, mas apenas aponto que faz parte da repercussão da ideologia de consumo que visa atender demandas padronizadas. A pornografia transcende do status de pornografia, quando ela não alimenta simplesmente a objetividade da saciedade sexual (uma salve para os bronhas de plantão), mas satisfaz algum desejo íntimo daquele que a consome, pois não se limita à objetividade física, mas se enriquece com elementos emotivos e mesmo até metafísicos!
Arte erótica é outro nível!
Pode ser mania de quem gosta de valorizar as próprias paixões, mas na minha humilde opinião, o erotismo ainda pode salvar o mundo! Tá certo que não vai solucionar todos os problemas da modernidade, mas ainda pode servir para resgatar a qualidade das relações erótico-afetivas, bem como, as relações interpessoais onde, a priori, não se enxerga nenhuma intimidade erótica, mas sofre influência visível dos impulsos sensuais de cada indivíduo (Freud mandou um beijo, e tragou seu charuto em seguida).

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