"É preciso a coragem de ser um caos para gerar uma estrela dançarina." - F. Nietzche.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Dualismos


Preto no Branco, Direita ou Esquerda, à Frente ou Atrás. Vivemos em um mundo de dicotomias, dualismos, confrontos, conflitos, oposições, interpolações, enfim. É o mundo que divide os bons dos maus, os justos dos injustos, e deriva nessa roda viva, pisando um dia ali, outro acolá.
Yin Yang, simbolo de dualidade. Constantemente mal interpretado.
Tudo bobagem! Insanidade da mais grave e hedionda heresia! Não nego os dualismos, mas nego a necessidade de assumir ou elencar um como superior ao outro. Eu falo desse jeito despojado, irritadiço. Eu não deveria. Não deveria me presar a fazer sensos de julgamento, mas me permito à poesia da prosa livre, sem compromisso.

Dualismos. Desde o nascimento nossos genitores ou responsáveis parecem tão preocupados em nos ensinar a distinguir o certo do errado. O permitido do proibido. Têm certeza que isso funciona mesmo? O senso de educação geral parece se resumir a obedecer um conjunto de regras irrefutáveis, e engolir verdades inócuas,  indigestas ou até mesmo fantasiosas. Aprende-se tudo, para descobrir mais tarde que nos enganaram com boas intenções.

Se sensos de certo errado funcionassem para corrigir e guiar o comportamento humano, só pela lavagem cerebral forçada nas escolas, a nossa sociedade já seria perfeita. Não haveriam drogados, nem bandidos, nem criminosos, principalmente entre os que têm acesso a *cof cof* educação de qualidade. Mas essa não é a realidade. O que ocorre é que as pessoas (e especialmente os jovens) são inclinados à transgressão. Coloque uma caixa em uma mesa em frente a uma pessoa, diga à ela que NÃO ABRA em hipótese alguma, depois deixe a pessoa sozinha com a caixa. E então, dê gargalhadas como susto que ela vai levar quando uma sirene começar a tocar de dentro da caixa, e ela não conseguir mais desliga-la.


Proibições são convites à transgressão. Eu já deixei isso bem claro em outro texto. Dualidades só existem para manter-nos aprisionados, pois elas mantém a nossa atenção presa à parcialidade da realidade. Embora muitos também caiam no equívoco de avaliar o todo, apenas para elencar uma forma de enxergar a realidade que seja superior à outra. Ao meu ver, qualquer senso de julgamento é falível e ilusório.

Sensos de certo e errado são absolutamente arbitrários e mudam de região para região, sociedade para sociedade. Na China, corrupção política é paga com pena de morte, no Brasil, se preocupam muito mais em vingar um estupro do que hospitais sucateados e estradas que causam centenas de acidentes diariamente. Portanto, não existe razão em se sustentar em modelos morais pre-concebidos.

A VIDA NÃO VEIO COM MANUAL DE INSTRUÇÕES!
PARE DE PROCURAR UM PARA SEGUIR!

É até um pouco contraditório a maneira como eu falo sobre não existir um modo certo ou errado de se lidar com a vida, mas ao mesmo tempo oriento sobre o que fazer e o que não se fazer. Tudo não passa da minha opinião, eu assumo, mas isso também faz parte do meu senso sobre a realidade. Afinal, nenhuma verdade é absoluta, portanto, o máximo que eu posso oferecer é a sabedoria que eu construí pautada na minha experiência com a realidade. Eu sou enfático, mas deveria tentar ser mais humilde, dizendo que esses são os meus conselhos, não os meus decretos e afirmações fatalistas.

Ao meu ver, a melhor forma de lidar com os dualismos do mundo, é assumir que não se pode domina-los ou controla-los. Aceite tal como um fato: Você não tem controle sobre a sua vida.
No final de julho, voltando das minhas férias de Vitória, eu decidi passar um final de semana em São Paulo. Cheguei lá na sexta-feira, e fui embora na terça-feira da semana seguinte. Sai da casa de meu amigo às 8:30 da manhã. Carregando mala e mochila pesadas, só o trajeto até o metrô já me pôs exausto. Chegando na rodoviária, dei por desaparecida a minha carteira. Pressupus (e isso não tem uma explicação clara até hoje) que fui furtado no metrô. Provavelmente na parada da estação da luz, onde um fluxo grande de passageiros saiu do vagão na porta ao meu lado.

9:30 estava eu, na rodoviária. Mala e mochila somando mais de 40 kilos de bom peso, nenhum documento com foto, nenhum tostão no bolso, nenhum cartão de crédito. Fiquei algumas horas rondando a rodoviária, pedindo informações, buscando um meio para contornar a delicada situação.

Foi só à 13 horas que eu decidi caminhar até a delegacia. Encontrei uma boa alma que me passou com o cartão da empresa uma entrada ao metrô em direção à estação Carandiru. De onde eu andei mais de 3 kilômetros até a delegacia. Fiz o BO, mas ainda andei uma distância indefinida até uma agencia da CAIXA ECONÔMICA. Lá, tive quase de implorar para que a gerente me permitisse retirar dinheiro sem documento. Cheguei na rodoviária de táxi, comprei minha passagem de volta a Araraquara pela internet. Foi do balcão da Lan House que minha mochila caiu. Penso que foi por conta da exaustão que eu a permiti que escorrega-se sem ter os reflexos necessários para impedir a queda. Sai de São Paulo 19 horas. Cheguei em casa 1h da manhã.

Dia complicado aquele. Dia de azar, muitos diriam. Devido à queda da minha mochila, meu notebook quebrou. Fiquei três semanas sem computador pessoal. Poderia ser o inferno, mas foi o CÉU. Eu dormia todos os dias mais cedo. Passei a me exercitar todos os dias. Estudava e lia com maior frequência. Sem distrações, eu vivia melhor. Fiz um novo cartão do banco e, agora, tenho um RG do Estado de São Paulo.
Teme a Morte? O fim, é só um recomeço.

Eu coloquei a carta d'A Roda ali em cima, justamente para ilustrar a ideia de como nós nos prendemos muito à noção de bom e mau, desnecessariamente. Afinal, eu poderia ter passado por todas essas experiências como uma labuta penosa e fruto de absoluto mal azar. Mas eu fiz justamente o contrário. Talvez pela minha boa prática de não me desesperar nunca, não importando a situação. Não é necessário ser otimista de maneira a pensar que "tudo é bom", mesmo quando a situação é claramente desfavorável. Interessante mesmo, é encarar as coisas como elas são, e aceitar a realidade tal como ela se apresenta. Fatos não são julgamentos, são apenas fatos. Eu enfrentei uma situação difícil, isso só seria um julgamento se eu permitisse que as dificuldades me afetassem ou me privassem de forma negativa. Mas qualquer mal só me atinge e me afeta à medida que eu permito. Eu não me permiti ser afetado com os acontecimentos, e justamente por manter esse controle, eu consegui enxergar uma saída para a tão bizarra situação. Enquanto que o medo e o desespero só me manteriam travado e estagnado.

Nossa vida oscila constantemente entre estados de prazer e dor. Providência é isso. É um dia acordar despreocupado, e no outro, atolado com situações de conflito para resolver. A habilidade de lidar com essas questões, de lidar com as oscilações da vida, é o que define a Sabedoria.

ACEITAR O MUNDO TAL COMO ELE É.
TAL É O PRIMEIRO PASSO CASO QUEIRA MUDAR O MUNDO.

Abdique-se das dualidades. Abdique da necessidade de ser bom ou mal, de tomar partidos de Direita ou Esquerda. Ausente-se da necessidade de levantar bandeiras, rótulos (e dou-lhe mais um texto só sobre isso,futuramente. Um assunto sempre puxa outro). Liberte-se da dualidade, e você não estará vivendo entre as duas - pois não existe efetiva neutralidade -, mas estará ACIMA das duas.

O diabo está acima do circulo que representa o plano terreno. É portanto, uma figura que simboliza a maestria dos impulsos e paixões. Caso você não saiba lidar com suas paixões e desejos, será algemado e manipulado por ele. Caso tenha domínio de si mesmo, torna-te tu, Mestre e Diabo de ti mesmo. Ele está acima das dualidades, não é necessariamente imparcial, mas tem a absoluta liberdade de ação. Pois compreendendo ambas as partes, vive sem prendimentos ou julgamentos.

Ele também representa a própria dualidade, possui mamas femininas e genitália masculina. Representa o equilíbrio das forças, a maestria ante o descontrole. Ele se permite ao que atende às suas necessidades. Assim, também, ele tem maior liberdade de atuação, pois sua atitude é deliberadamente desapagada das ilusões da dualidade.

É o Décimo Quinto Arcano Maior (também reduzido ao valor 6, ligado à esfera Tiphareth da Harmonia, Beleza e Equilíbrio). Figura muito temida entre os que propagam uma moralidade pautada na dicotomia de céu e inferno, anjos e demônios, bem e mal. Mas à medida em que nos desvencilhamos dessas falsas polaridades, não há por que temer a compreensão de uma figura tão misteriosa e rica tal como é essa carta.



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